Investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP) concluíram que a neuropatia periferia afeta 40% dos doentes com Parkinson e que tal descoberta possibilitará “novas formas de tratamento”.
Em comunicado, o CHUP revela esta segunda-feira que a investigação, desenvolvida no âmbito do projeto ITN Europeu — Innovative Training Network e publicada na revista científica BRAIN, visava caracterizar o impacto funcional da neuropatia periférica em doentes com Parkinson.
A neuropatia periférica é uma condição que afeta os nervos periféricos, responsáveis por permitir a troca de informação entre o sistema nervoso central e outras partes do corpo. Esta condição manifesta-se por sintomas sensitivos (perda ou alteração da sensibilidade) e motores (instabilidade postural e perda de força muscular).
Por vezes, os sintomas são “subtis e podem não ser diagnosticados”, observa o hospital.
No estudo, os investigadores do ICBAS e do serviço de Neurologia, Neurofisiologia e Neuropatia do CHUP fizeram uma avaliação clínica de perto de 100 doentes com Parkinson, bem como uma análise detalhada da capacidade de condução dos nervos, da densidade das fibras nervosas na pele e de vários parâmetros metabólicos.
Fruto da parceria entre a indústria e a academia, o projeto recorreu à utilização de sensores de movimento para avaliar a marcha e o equilíbrio dos doentes, fatores “essenciais para a análise dos distúrbios no movimento”.
A investigação concluiu que a neuropatia periférica afeta 40% dos doentes com Parkinson, “resultando em alterações funcionais da mobilidade e do equilíbrio”.
Parte destas neuropatias estavam relacionadas com níveis alterados de glucose (25%) ou das vitaminas B6 e B12 (27,5%), o que indica que “o problema pode vir a ser alvo de tratamentos dirigidos”.
Segundo o hospital, os resultados da investigação “podem abrir caminho a identificar os doentes com Parkinson que tenham algum tipo de neuropatia e com isso identificar a causa da mesma”.
“O tratamento individualizado poderá permitir melhorar o equilíbrio e mobilidade dos doentes, podendo também contribuir para a prevenção de riscos associados, como quedas, e para a melhoria da qualidade de vida”, acrescenta.
Citado no comunicado, o coordenador do estudo e médico neurologista do CHUP, Luis Maia, salienta que a experiência clínica do serviço de neurologia do CHUP e a tecnologia dos sensores proporcionada pela Universidade de Kiel, na Alemanha, “foram essenciais para o sucesso da investigação”.
Também Marta Francisca Corra, primeira autora do trabalho e estudante no programa doutoral em Ciências Biomédicas do ICBAS, diz ter sido “muito desafiante e interessante juntar os serviços do hospital e experienciar a dinâmica criada”.