A principal imagem do encontro entre Emmanuel Macron e Vladimir Putin mostra os dois políticos separados por uma longa mesa branca, cada um sentado numa das pontas. Percorreu o mundo e foi o mote de inúmeras piadas. Macron recusou realizar um teste PCR à Covid-19 em Moscovo, por não querer que o seu ADN ficasse nas mãos dos russos, por isso Putin exigiu que os dois se sentassem a uma distância segura numa mesa comprida. O criador da peça de mobiliário foi Renato Pologna, natural de Como (Itália), dono de uma empresa chamada Oak. Agora, os jornalistas italianos entrevistaram-no. “Reconheci-a assim que a vi. Tenho orgulho disso, emociono-me sempre quando vejo o meu trabalho, mesmo que esteja em segundo plano de algo importante”, contou ao Corriere Della Serra. E, no meio da crise ucraniana, brinca: “Espero que traga boa sorte contra a guerra”.

Macron recusou fazer teste à Covid-19 na Rússia por medo de roubo do seu ADN

A mesa de carvalho tem seis metros de comprimento por 2,60 de largura. O tampo é uma peça única e foi lacado a branco com perfis de folha de ouro e decorações feitas à mão no topo. O autor não se lembra do valor exato da obra: “De cor eu diria alguns mil milhões de liras [moeda italiana que vigorou no país entre 1861 e 2002, antes do euro]”. E quanto valeria hoje aquela mesa? “Talvez 100 mil euros”, remata.

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Mesmo que tenha a distância recomendada para os tempos de pandemia, já está construída há 25 anos. Aliás, a mesa é apenas uma parte “muito pequena” de um trabalho que a fábrica desenvolveu nos anos 90 para um dos edifícios do Kremlin. “É o edifício que pode ser visto atrás do Mausoléu de Lenine, a atual sede dos gabinetes do presidente e a residência presidencial”, descreve.

O italiano tratou de toda a mobília para o edifício que pode ser visto atrás do Mausoléu de Lenine, inclusive a St Catherine Hall, onde ocorreu uma reunião do G8 em 1997. “Foram 7000 metros quadrados em dois andares. Havia este grande salão da famosa fotografia Putin-Macron e depois muitas outras salas, incluindo o Salão Santa Catarina, onde realizaram uma das reuniões do G8 em 1997. Foi um trabalho completo. Móveis, chãos, boiserie [painéis nas paredes], iluminação, lareiras, tetos de gesso, acabamentos em mármore nas paredes”, enumera.

Na época em que lá esteve, o presidente era Boris Yeltsin, porém o italiano nunca chegou a cruzar-se com o líder russo. “Tínhamos um passe para entrar e sair, os móveis tinham de passar por baixo de um scanner”, afirma ao mesmo jornal italiano.

Sobre os memes que a sua criação originou, Pologna considera-os “muito divertidos”. “Vi que alguém transformou a mesa num balancé — brilhante! Alguém pôs varões de lap dance e até fizeram uma pista de curling [um desporto praticado numa pista de gelo]. Neste ponto, podemos dizer que é uma mesa que permite dar azo à imaginação.

O empresário tem acordos de confidencialidade com os clientes, por isso não pode revelar nomes. Mesmo assim, admite que já recebeu encomendas do líbio Muammar Kadhafi e da família de Saddam Hussein, antigo presidente do Iraque.

Trabalhei para as residências dos sultões na Malásia. Recebi encomendas do Médio Oriente, dos antigos estados russos. Na época, recebi encomendas de Kadafi e da família de Saddam. Mas também tenho clientes que não são políticos, que não me pedem trabalho para residências oficiais, mas para particulares, prédios históricos, em Monte Carlo, na Riviera Francesa, em Londres.”