Augusto Santos Silva já não vai entrar no novo Governo. O socialista que nos últimos seis anos desempenhou as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros será o candidato do PS à Presidência da Assembleia da República, segundo apurou o Observador. A decisão já está tomada e a ideia inicial era oficializá-la esta segunda-feira na reunião da bancada parlamentar do PS que foi adiada após a decisão do Tribunal Constitucional de repetir as eleições no círculo da Europa. Agora, a intenção é que isso possa acontecer na véspera das posses do Parlamento e do Governo (que devem acontecer a 28 e 29 de março).
Era uma das hipóteses colocada nas últimas semanas, a par com Edite Estrela. Mas a decisão final de António Costa recaiu sobre o seu governante recordista: aquele que tem mais anos em funções executivas, o que tem um peso em termos de autoridade quando o desenho parlamentar ditou uma presença mais significativa da extrema-direita no hemiciclo — esta é, pelo menos, a expectativa dos socialistas. É dele uma famosa tirada do “eu gosto é de malhar na direita”, dita em fevereiro de 2009 durante uma campanha interna para a reeleição de Sócrates como líder do PS. Mas nessa altura, a direita era outra: “Gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam, de facto, à direita do PS. São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheci na minha vida e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique. Refiro-me, obviamente, ao PCP e ao Bloco de Esquerda”.
Augusto Santos Silva já foi ministro da Educação e Cultura (na era Guterres), ministro dos Assuntos Parlamentares (na era Sócrates) e depois da Defesa (na segunda era Sócrates). Desde que António Costa é primeiro-ministro, Santos Silva é não só o seu ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, como faz parte do seu núcleo político.
Tem 65 anos e é doutorado em Sociologia pelo ISCTE –IUL sendo professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Em julho do ano passado, em declarações ao semanário Expresso, Santos Silva atirou uma frase que o obrigou a várias explicações nos dias seguintes: “Sim, eu espero que o PS me liberte para o regresso à atividade profissional de professor da Universidade do Porto até 2026, e portanto temos muito tempo para trabalhar, eu tenho muito tempo e muita honra em servir o meu país nestas funções até lá”. Seria um pedido para sair do Governo? Na altura ainda não havia legislativas antecipadas no horizonte e falava-se na possibilidade de uma remodelação no Governo depois do Orçamento do Estado para 2022.
No entanto, o ministro de António Costa veio logo refrear interpretações e explicar que esperava continuar como governante até 2026. “Para isso preciso que o eleitorado valide a confiança no Governo nas eleições de 2023, mas devo dizer que tenho muita confiança”, disse então. Os calendários políticos alteraram-se drasticamente e o obejtivo de Santos Silva também, já que já não integrará o novo Governo e será antes o presidente da Assembleia da República que tomará posse no final de março — se não houver novos recursos sobre as eleições na Europa que serão repetidas a 12 e 13 de março.
Espero regressar à atividade de professor até 2026, diz Santos Silva
A maioria absoluta que o PS vai ter na próxima Assembleia da República garante a eleição de Santos Silva. Não há as dúvidas que existiram, por exemplo, em 2015, quando António Costa apresentou pela primeira vez Ferro Rodrigues como candidato ao cargo e esse acabou por ser o primeiro teste ao funcionamento da geringonça. Foi o primeiro momento em que a esquerda teve de se entender e fazer funcionar a maioria que detinha no Parlamento.