(Artigo em atualização)
Donetsk e Lugansk, as duas cidades na região de Donbass, a leste da Ucrânia, que são controladas por separatistas pró-russos, deixaram de ser a única preocupação para as autoridade políticas e militares da Ucrânia. Esta quinta-feira, os militares russos entraram na Ucrânia por três locais diferentes: além de Donbass e da Crimeia (anexada pela Rússia em 2014), as forças entraram também pela Bielorússia, a norte, e começaram a bombardear vários pontos no país, aproximando-se mesmo da capital ucraniana de Kiev, como mostra o mapa em baixo. A Ucrânia já pediu à União Europeia que aplique sanções à Bielorússia.
De acordo com estimativas de oficiais de inteligência dos EUA, cerca de 150.000 soldados russos cercavam a Ucrânia nos dias que antecederam o início da ofensiva militar desta madrugada. “A situação é extremamente tensa, obviamente. O primeiro choque desta manhã foi quando houve ataques com mísseis, roket e drones. Alguns dos edifícios das nossas forças armadas estão simplesmente destruídos. Todos eles são infraestruturas militares. Eles [os russos] estão a tentar romper a fronteira e entrar no país com suas forças terrestres. As forças armadas ucranianas tentam detê-los. A cidade de Mariupol está mais tranquila. Não há tentativa de avanço”, descreveu ao The Guardian o ministro da Defesa ucraniano, Andriy Zagorodnyuk.
Segundo informações fornecidas pela presidência da Ucrânia à sua representante em Portugal, a embaixadora Inna Ohnivets, houve bombardeamentos junto a vários aeródromos na zona leste do país, entre eles Boryspil, Odessa e Kramatorsk. A embaixadora referiu também um ataque a uma estrutura militar. Além destes alvos, houve vários ataques ao longo da fronteira com a Rússia e da fronteira administrativa com a Crimeia.
O jornal Meduza diz que as tropas russas tomaram o controlo do aeroporto de Antonov, em Hostomel, fora de Kiev. Uma informação que dizem ter sido confirmada pelas autoridades ucranianas.
Confirmed by Ukrainian authorities. A large air assault operation with Mi-8 helicopters on Antonov International Airport in Hostomel. Interior Ministry says Russia has seized control. Very dangerous; it’s just 15 minutes west of the capital ring road. pic.twitter.com/JhlyVktVRC
— Christopher Miller (@ChristopherJM) February 24, 2022
Repórteres da CNN no local ouviram explosões em Kiev, precisamente na zona de Boryspil. Assim como em Kharkiv, Kramatorsk, Dnipro, Mariupol, e Odessa, que tem o maior porto do país, e Zaporizhzhia. A embaixadora em Portugal diz que os russos tentaram capturar a região de Lugansk — com o nome simbólico “Felicidade” —, mas que falharam graças à resposta da Ucrânia, que teve uma informação prévia de que o ataque iria acontecer. Segundo a BBC, pelo menos dez civis terão sido mortos, seis deles durante um ataque em Brovary, perto da capital. Às 18h30 em Portugal, o mapa dos locais atacados por russos era este:
O ministro da Defesa, ainda ao The Guardian, diz que os ataques se foram multiplicando. “Estão bem perto da cidade de Kherson agora. A situação é realmente crítica lá. Também estão a tentar cercar Kharkiv. Parece que Kharkiv neste momento é o alvo principal. E tentam chegar a Kiev usando um grupo de campo de batalha. O grupo partiu da Bielorrússia e foi detido. Há uma estrada muito má [para Kiev]. Claramente foi um erro de cálculo do lado deles no momento. Houve algumas perdas russas e do nosso lado. As forças armadas ucranianas estão a lutar muito seriamente. Não há pânico. Há tentativas de resistência e em muitas direções está a dar certo”, disse o governante, cujas declarações foram transcritas pelas 13h30 em Portugal.
Entretanto, da parte da Rússia, as informações, segundo a AFP, são de que o exército russo já destruiu 74 instalações militares na Ucrânia, incluindo 11 aeródromos. Isto depois de a Rússia vir negar estar a invadir o país vizinho. “Após os ataques aéreos das Forças Armadas russas, 74 instalações militares terrestres foram retiradas de serviço. Isso inclui 11 aeródromos da Força Aérea”, disse o porta-voz do ministério da Defesa russo, o general Igor Konashenkov, que acrescentou também a informação da destruição de “três postos de comando, uma base naval ucraniana e 18 estações de radar dos sistemas de defesa antimísseis ucranianos S-300 e Buk-M1”, bem como um “helicóptero de ataque” e “quatro drones Bayraktar TB-2” de fabrico turco.
As autoridades ucranianas deram depois conta de um total de 203 ataques em quase todo o território nacional. Entre os alvos esteve a central nuclear de Chernobyl, que após duas horas de uma “batalha brutal”, a Ucrânia perdeu controlo, sem se saber do estado dos edifícios que confinavam o material nuclear radioativo.
NATO promete proteção, mas não intervém no terreno
Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, disse esta manhã em conferência de imprensa que a aliança militar tudo fará “para se defender desta agressão”. “Vamos proteger-nos por terra, ar e mar“, avisou o responsável, condenando “da forma mais veemente a invasão russa da Ucrânia” — uma “invasão que é deliberada e caracterizada por um sangue frio”, porque “está a ser planeada há muito” e “não é surpreendente”.
Temos de reagir com uma unidade reforçada, as democracias têm de se juntar porque a democracia irá sempre prevalecer sobre a autocracia e a liberdade irá sempre vencer a opressão”, acrescentou.
Stoltenberg acrescentou: “Todos os nossos aliados serão protegidos de qualquer ataque que possa acontecer”. “Vamos proteger as nossas pessoas e os nossos valores”, garantiu, sublinhado: “Vou ser claro, atacar um aliado da NATO é atacar todos, a Rússia irá pagar preço elevado” se o fizer.
A NATO é uma aliança militar que nasceu em 1949 entre 12 países (Bélgica, França, Noruega, Canadá, Islândia, Países Baixos, Dinamarca, Portugal, Itália, Estados Unidos, Luxemburgo e Reino Unido) para combater a ameaça russa durante o pós-guerra na Europa, como lembra a BBC. Os seus Estados-membros acordaram ajudar-se no caso de algum deles ser atacado. Em resposta à NATO, em 1955, a Rússia criou a sua própria aliança militar com os países do Leste Europeu — O Pacto de Varsóvia. Mas, em 1991, com a queda da União Soviética, vários países de leste acabaram por juntar-se à NATO (ver mapa a partir de 1997).
Não foi o caso da Ucrânia, que faz fronteira com a Rússia e com a União Europeia e não é um membro da NATO, mas é um país parceiro. Ou seja, há a possibilidade de vir a integrar a aliança. Aliás, em 2014, quando a Rússia anexou a península da Crimeia, no sul da Ucrânia, a NATO não interveio, colocando apenas tropas em vários países do leste europeu pela primeira vez, como agora poderá voltar a fazer.
NATO reforça presença militar nos aliados vizinhos da Ucrânia, mas não há planos para entrar no país
A embaixadora ucraniana em Portugal já disse que as tropas ucranianas estão preparadas para combater as russas, mas que precisa de apoio da NATO e da União Europeia, assim como de meios materiais. Do lado da aliança Atlântica, e depois de condenar a incursão russa desta madrugada, o secretário-geral da NATO já assegurou que os parceiros militares não vão concretizar qualquer ação militar em território ucraniano.