O maestro russo Valery Gergiev, conhecido por ser próximo de Vladimir Putin, foi substituído de três atuações com a Filarmónica de Viena agendadas, para o final desta semana, no Carnegie Hall, divulgou esta quinta-feira esta conhecida sala de espetáculos nova-iorquina.

Valery Gergiev tinha programado dirigir a Orquestra Filarmónica de Viena em três concertos no Carnegie Hall, a partir de sexta-feira, mas o maestro tem sido instado a reagir à invasão da Rússia à Ucrânia, devido à reconhecida relação próxima com o Presidente russo Vladimir Putin.

O Carnegie Hall, que não explicou os motivos para esta alteração de última hora, revelou que o russo será substituído pelo maestro canadiano Yannick Nézet-Séguin, segundo noticiou o jornal The New York Times.

Embora Valery Gergiev ainda não tenha reagido publicamente à invasão russa à Ucrânia, o maestro já apoiou outras ações de Putin contra o país vizinho e a sua aparição em Nova Iorque deveria causar fortes protestos.

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No comunicado, a sala de espetáculos norte-americana divulgou também que o pianista russo Denis Matsuev, que também ia atuar com Gergiev e a orquestra na sexta-feira, não irá marcar presença.

Este pianista também é próximo de Vladimir Putin e, em 2014, manifestou apoio à anexação da Crimeia pela Rússia.

Valery Gergiev tem outra aparição prevista para o Carnegie Hall em maio, para liderar dois concertos com a Orquestra Mariinsky, mas na nota divulgada pela sala de espetáculos não ficou claro se estas atuações vão manter-se.

Em Itália, o maestro que dirigiu a estreia da ópera de Tchaikovsky “A dama de espadas”, na quarta-feira, no Scala de Milão, foi convidado esta quinta-feira pelo teatro italiano a pronunciar-se sobre a invasão russa da Ucrânia.

O diretor do La Scala, Dominique Meyer, e o presidente da Câmara de Milão, Giuseppe Sala, enviaram uma mensagem ao maestro pedindo-lhe que fizesse uma declaração apelando a uma “solução pacífica” para o conflito russo-ucraniano, disse à agência France Presse um porta-voz do teatro milanês.

Se o maestro recusar, a sua presença nas próximas récitas de “A dama de espadas”, agendadas para 5 e 13 de março, poderão estar em risco.

Giuseppe Sala, que é também presidente do conselho de administração de La Scala, avisou esta quinta-feira, num debate público em Milão, que, se não houver resposta, “outro maestro poderá ser encontrado” para as próximas récitas da ópera.

Valery Gergiev, 68 anos, é o diretor-geral do prestigiado Teatro Mariinsky, em São Petersburgo, e é considerado um dos maestros mais conceituados do mundo.

A sua proximidade a Putin, que conhece desde 1992, as suas declarações sobre a anexação da Crimeia ou as “Pussy Riot”, os concertos na Ossétia do Sul bombardeada e em Palmyra, ao lado do exército sírio, valeram-lhe muita contestação e controvérsia, durante a última década.

Entrevistado pela France Presse, em Paris, em 2018, Gergiev disse que não queria falar de política, mas saudou a reeleição para um novo mandato de Putin, com quem disse ter-se encontrado “cinco a seis vezes por ano”.

“Ganhou as eleições, algo que o mundo ocidental tem dificuldade em compreender”, acrescentou na altura.

A Rússia lançou esta quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocou pelo menos meia centena de mortos, 10 dos quais civis, em território ucraniano, segundo Kiev.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa “desmilitarizar e desnazificar” o seu vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo dos seus “resultados” e “relevância”.

O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.