A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, desencadeada pela invasão russa do território ucraniano na última quinta-feira, entrou esta terça-feira no sexto dia de conflito armado. A informação sobre o que se está a passar no leste da Europa está a ser atualizada ao minuto no liveblog do Observador e a ser retratada ao detalhe pelos enviados especiais à Ucrânia, Cátia Bruno e João Porfírio.

Aqui fica um resumo do que se está a passar ao longo deste sexto dia de confrontos.

Zelensky garante que Ucrânia “está a ganhar” a guerra, mas alerta que presença militar russa vai aumentar

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O que aconteceu durante a tarde?

  • Volodimir Zelensky deu uma entrevista à CNN, no seu bunker, em Kiev. O Presidente disse que, para já, a Ucrânia “está a ganhar” a guerra. “Estamos a defendermo-nos”, sublinhou, acrescentando que o exército russo não conhece o povo ucraniano, a sua filosofia e as suas aspirações. “Eles vêm para cá para lutar e morrer.”
  • Pelo menos cinco pessoas morreram e cinco ficaram feridas depois de a torre de televisão em Kiev ter sido bombardeada. O Ministério da Administração Interna confirmou que o exército russo foi responsável pelo ataque, que danificou a subestação que fornece eletricidade à torre e o hardware da estrutura. Apesar dos danos, a torre continua de pé.
  • O bombardeamento ocorreu perto do memorial das vítimas do massacre de Babyn Yar. A 29 e 30 de setembro de 1941, mais de 33 mil judeus ucranianos foram assassinados pelas forças nazis na ravina de Kiev. O assassinato em massa foi recordado pelo Presidente e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros ucranianos, que condenaram o ataque russo nas redes sociais. “A história a repetir-se…”, escreveu Volodimir Zelensky no Twitter.
  • A moral entre as tropas russas estará em baixo e algumas unidades ter-se-ão mesmo rendido. A informação foi veiculada por fonte oficial do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, segundo o qual os russos enfrentam ainda problemas logísticos, como escassez de alimentos e combustível, que estarão a atrasar o avanço dos militares.
  • Apesar dos relatos de baixa moral, Moscovo conseguiu esta terça-feira uma nova vitória. De acordo com a informação veiculada pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, o exército russo entrou em Kherson, uma importante cidade portuária no sul do país. A câmara municipal permanecerá nas mãos dos ucranianos.
  • Volodimir Zelensky e Joe Biden falaram ao telefone. “Os líderes discutiram como os Estados Unidos, do lado dos aliados, estão a trabalhar para responsabilizar a Rússia, impondo sanções que já estão a ter um impacto na economia russa”, informou a Casa Branca.
  • O Presidente da Venezuela, Nicólas Maduro, condenou a “atividade desestabilizadora dos Estados Unidos e da NATO” e demonstrou o seu “forte apoio” a Vladimir Putin numa chamada telefónica com o homólogo russo.
  • O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) anunciou as primeiras audiências sobre a situação na Ucrânia, marcadas para 7 e 8 de março, noticiou a AFP. Isto não significa que o TIJ tenha aberto um inquérito — esta fase serve para que futuramente se possa proceder a esse passo.
  • A União Europeia avançou com a exclusão de sete bancos russos do sistema SWIFT. Segundo a Bloomberg, ficaram de fora desta sanção a principal entidade bancária russa, o Sberbank, e um bando detido em parte pelo gigante do gás Gazprom.

O que aconteceu durante a manhã?

  • Pelo menos 18 pessoas morreram durante um ataque a Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana. O ataque, realizado com recurso a dois mísseis cruzeiro, provocou ainda várias dezenas de feridos.
  • O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, considerou que os bombardeamentos em Kharkiv violaram “as leis da guerra”. O Governo português condenou igualmente a explosão. Questionada sobre o assunto, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse que o Executivo “repudia toda a situação que está a ser vivida [na Ucrânia]”, defendendo que “todos os esforços para por termo a esta guerra devem ser levados a cabo no plano político e diplomático”.
  • Mais de 70 soldados ucranianos morreram após uma base militar em Okhtyrka, entre Kharkiv e Kiev, ter sido bombardeada, informou o chefe da região na rede social Telegram.
  • Volodimir Zelensky participou à distância na sessão do Parlamento Europeu, esta terça-feira. A intervenção do Presidente ucraniano, que declarou que o povo ucraniano está a pagar o “derradeiro preço” por defender a liberdade, recebeu uma ovação de pé. “Ninguém vai entrar e intervir na nossa liberdade e no nosso país. Ninguém nos vai derrubar. Somos fortes. Somos ucranianos”, disse o governante.

O que aconteceu durante a noite?

  • Apesar do conflito sangrento na zona leste da Ucrânia, a capital do país, Kiev, continuava ainda a ser controlada pelas forças ucranianas. O controlo da capital é um dos objetivos centrais da invasão russa e os esforços militares para o conseguir estão a intensificar-se. Durante a madrugada desta terça-feira, imagens de satélite mostravam uma coluna de veículos militares russos com cerca de 64 quilómetros de extensão a dirigir-se para Kiev, o que significa que a batalha pelo controlo da capital do país poderá estar próxima.
  • A batalha por Kiev será “longa e sangrenta”, de acordo com informações discutidas na madrugada de terça-feira num briefing confidencial no Congresso norte-americano, de que o senador Chris Murphy partilhou alguns detalhes. Entre as informações partilhadas pelos serviços de informações dos EUA, sabe-se que a invasão da Ucrânia está a demorar mais tempo do que Moscovo inicialmente previra, que a Rússia planeia montar um cerco em torno de Kiev (que poderá cortar as cadeias de abastecimento da capital ucraniana), que os ucranianos estão a preparar-se para o combate nas ruas e que o Ocidente poderá vir não apenas a congelar, mas a confiscar os bens de Vladimir Putin.
  • O conflito armado na região leste da Ucrânia tem levado centenas de milhares de ucranianos a tentarem fugir do país pela zona ocidental, procurando entrar no espaço da União Europeia através das fronteiras da Ucrânia com a Polónia, a Moldávia e a Roménia. Os números mais recentes divulgados pela ONU dão conta da dimensão do problema: cerca de 520 mil refugiados já abandonaram a Ucrânia e pelo menos 160 mil pessoas ainda se encontram no país, internamente deslocadas, em busca de cruzar a fronteira. A ONU estima também que o conflito já tenha matado pelo menos 102 civis. Na manhã de terça-feira, o governo polaco pormenorizou que pelo menos 350 mil pessoas já cruzaram a fronteira entre a Ucrânia e a Polónia na última semana.
  • Na segunda-feira, as forças russas bombardearam duramente Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, fazendo vítimas também entre civis, uma vez que o bombardeamento atingiu zonas residenciais. Na madrugada desta terça-feira, soube-se também que mais de 70 soldados ucranianos terão morrido num bombardeamento russo na cidade de Okhtyrka, no nordeste da Ucrânia, no domingo.
  • Na madrugada desta terça-feira, Kharkiv voltou a estar sob ataque russo. Uma enorme explosão foi registada numa praça central da cidade, mesmo em frente ao governo regional. Imagens divulgadas pela imprensa ucraniana mostram o momento da explosão. É possível ver que uma parte do edifício do governo regional foi atingida, bem como vários automóveis — aparentemente civis — que passavam no local. Não havia, nas primeiras horas da manhã, informações sobre vítimas. As forças ucranianas dizem que a explosão foi causada por um rocket disparado pelos russos com o objetivo de matar o governador e a sua equipa.
  • Devido à invasão da Ucrânia, a Rússia está a ficar cada vez mais isolada no plano global — e não apenas no que toca à geopolítica ou à economia. No mundo do desporto, depois de a UEFA e a FIFA terem suspendido a Rússia de todas as competições internacionais de futebol, também o organismo que governa o rugby a nível mundial já anunciou a suspensão da Rússia (e da Bielorrússia) das competições internacionais da modalidade. No domínio cultural, a Disney, a WarnerMedia e a Sony, três das maiores distribuidoras de cinema de Hollywood do mundo, cortaram relações com a Rússia e cancelaram a estreia em território russo de novidades cinematográficas como Estranhamente Vermelho (Pixar), The Batman (DC/Warner Bros.) e Morbius (Marvel/Columbia Pictures).
  • A NASA está a avaliar como poderá gerir a Estação Espacial Internacional caso a Rússia abandone o projeto em retaliação pelas sanções aplicadas pelo Ocidente. A EEI é um projeto de cooperação internacional cuja manutenção depende tanto dos Estados Unidos como da Rússia, que está encarregue da estabilidade da órbita da estação. Sem as operações russas, a estação pode vir a cair na Terra (mas não em território russo, já que a órbita da estação não sobrevoa a Rússia). Soluções podem passar por privados como a empresa SpaceX, de Elon Musk.
  • Na segunda-feira, as negociações entre as delegações da Rússia e da Ucrânia, ocorridas na Bielorrússia, terminaram sem que um cessar-fogo fosse alcançado. Ainda não há data para a nova ronda negocial, mas algumas garantias (por exemplo, a de que a Rússia não visaria alvos civis) parecem já ter sido violadas nas horas seguintes à primeira negociação. Do lado ucraniano, o Presidente Volodymyr Zelensky ordenou a libertação de todos os presos com experiência militar para que possam ajudar no combate e suspendeu a necessidade de vistos para qualquer estrangeiro que queira entrar na Ucrânia e ajudar no combate. Zelensky também assinou, na segunda-feira, o pedido de adesão da Ucrânia à União Europeia, com a qual pelo menos oito países do bloco europeu já vieram dizer que concordam.

Dia 5. O que se sabe sobre a invasão russa da Ucrânia