Depois de múltiplos vídeos e mensagens do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, este sábado foi a vez do ministro dos Negócios Estrangeiros apelar ao mundo: é preciso mais medidas para travar a ofensiva da Rússia.

Numa conferência de imprensa por vídeo, Dmytro Kuleba, que antes esteve com os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, pediu quatro novas sanções à comunidade internacional. “Banir o banco russo Sberbank do Swift, fechar os portos europeus a navios russos, impedir o acesso da Rússia a criptomoedas e a suspensão da compra de petróleo russo”, disse.

E foi na questão do petróleo que Kuleba mais insistiu, criticando duramente quem decide adquirir este produto russo. “O petróleo russo cheira a sangue ucraniano hoje. Comprá-lo é financiar os crimes de guerra da Rússia. Não podem comprar um bocadinho, e ser um bocadinho cúmplices desses crimes de guerra”, afirmou.

Ainda antes desta conferência de imprensa, Kuleba tinha escrito uma mensagem semelhante no Twitter, mas com um alvo identificado: “Disseram-me que a Shell comprou discretamente algum petróleo russo ontem. Uma pergunta para a Shell: o petróleo russo não vos cheira a sangue ucraniano? Apelo a todas as pessoas com consciência, em todo o mundo, que exijam às empresas multinacionais que cortem todos os laços com a Rússia”.

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A Shell, que já tinha anunciado o fim da joint-venture com a russa Gazprom, respondeu às palavras de Kuleba, classificando a decisão de adquirir petróleo russo como “difícil”, mas essencial para a produção da gasolina e do gasóleo “de que as pessoas dependem diariamente”. “Sem um fornecimento ininterrupto de petróleo para as refinarias, a indústria energética não consegue garantir o abastecimento contínuo de produtos essenciais para as pessoas em toda a Europa nas próximas semanas”, justificou a empresa, dizendo que petróleo de fontes alternativas não chegaria a tempo.

“Não tomámos esta decisão com leveza e percebemos os sentimentos fortes que gerou”, comentou a petrolífera, em comunicado, garantindo que vai continuar a procurar produtos alternativos ao petróleo russo, mas alertando que tal não vai acontecer “da noite para o dia”.

A polémica levou a Shell ainda mais longe: a empresa diz que vai colocar os lucros obtidos com a compra de petróleo russo num fundo, que será utilizado para fins humanitários na Ucrânia.

Apesar desta troca de palavras com a Shell, Kuleba diz que há cada vez mais empresas a cortar relações com a Rússia. “Vemos um êxodo em massa de multinacionais do mercado russo. 113 empresas já pararam de trabalhar com a Rússia ou na Rússia. Elogio a decisão deles”, disse o ministro ucraniano, apelando a que mais negócios sigam este caminho.

“Parem os investimentos. Todos os dólares ou euros ganhos com negócios com a Rússia estão embebidos no sangue de homens, mulheres e crianças ucranianas”, pediu.

Adesão à UE: “Ajam agora, sejam rápidos”

Na conferência de imprensa de sábado, Dmytro Kuleba pediu maior rapidez no processo de adesão da Ucrânia à União Europeia, e rejeitou comparações com os pedidos de países como a Moldávia e a Geórgia, que recentemente formalizaram pedidos de adesão.

“O caso da Ucrânia é absolutamente excecional. Insistimos que o caso da Ucrânia seja analisado em separado e que seja considerado o mais rapidamente possível. Os procedimentos podem e devem ser suprimidos de modo a garantir um processo de integração suave na União Europeia”, apelou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia acredita que a agilização deste processo vai “enviar uma mensagem ao Presidente Putin de que, independentemente do que ele tentar fazer, mesmo enviando centenas de bombas contra nós, isso não vai mudar a escolha feita pelos ucranianos de serem parte da União Europeia, e que também não vai mudar a escolha feita pela União Europeia”.

“Ajam agora, sejam rápidos, vai ser uma enorme contribuição para o sucesso da nossa vitória sobre o agressor”, disse.

Nesta conferência, Kuleba dirigiu-se particularmente aos parceiros europeus, invocando fantasmas da II Guerra Mundial, com comparações indiretas entre Hitler e Putin. “A última vez que cidades europeias viram aquilo que aconteceu em Kharkiv, Chernihiv, Sumy, Kiev e outras cidades cidades ucranianas, foi há 80 anos, quando os nazis bombardearam capitais europeias. ‘Nunca mais?’ Provem-no. Provem agora que aprenderam as lições do passado, que uma nova força bruta na Europa pode ser travada, antes que arraste todo o continente para um conflito devastador”, lançou o dirigente.

Kuleba voltou também a apelar à criação de uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, um pedido que o Presidente Volodymyr Zelensky fez também este sábado ao Senado americano. A ideia tem sido rejeitada pelos parceiros ocidentais, incluindo pela NATO, que temem um agravar do conflito à escala mundial. Além desta proibição de aviões russos no espaço aéreo ucraniano, o ministro Kuleba pediu aos parceiros que enviem “aviões de combate e armas de defesa aérea e de defesa contra mísseis” para a Ucrânia.

Por fim, o chefe da diploma ucraniana lamentou o falhanço das negociações de paz com a Rússia, garantindo que “os corredores humanitários e o cessar-fogo não existem porque as forças russas literalmente violaram o acordo fechado”.

“Instamos a Rússia a parar de disparar e a permitir que os civis, incluindo estudantes estrangeiros, saiam das cidades que estão a tentar destruir com ataques aéreos, com artilharia, com rockets, e que permitam o acesso de ajuda humanitária àqueles que ficam nas cidades”, pediu.