A temporada de 2022 funcionará como um desafio para tudo e contra todos na ótica de Miguel Oliveira. Vai ser um desafio para o próprio português, que tentará encontrar a fórmula que conseguiu apenas em quatro corridas no ano passado para materializar as melhores condições da equipa de fábrica da KTM em relação à Tech3 e chegar a resultados mais consistentes. Vai ser um desafio entre todos os pilotos, tendo em conta que a nova temporada começa apenas com três/quatro elementos já com a situação resolvida para 2023. Vai ser um desafio contra o próprio Brad Binder, na tentativa de mostrar à equipa que 2021 não foi bom exemplo de comparação e que tem rendimento e consistência suficientes para se afirmar dentro da própria KTM. 

Em busca do regresso ao top 10 e do tão esperado ano de afirmação: o 2022 de Miguel Oliveira vai arrancar

O circuito de Losail, no Qatar, nunca foi propriamente um terreno abençoado para o português que, em todas as categorias, falhou sempre o pódio e o melhor que conseguiu foi dois quartos lugares em Moto3 e Moto2. E, apesar das melhorias nos últimos anos, também nunca foi um terreno abençoado para a própria equipa. No entanto, e desde a primeira sessão de treinos livres em que Binder acabou de forma surpreendente com o melhor tempo, a grande nota para Miguel Oliveira foi a comparação de andamento frente ao sul-africano: 0.6 a mais nos TL1, 0.2 a menos nos TL2, 0.4 a mais nos TL3, 0.3 a mais na Q1 que deixou o piloto de Almada no 14.º lugar da grelha de partida e permitiu que Binder chegasse ainda a sétimo na Q2.

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“Não sabe nada bem ficar de fora da Q2 mas faltou um pouco de velocidade no final do último setor. Mas o ritmo estava bom, senti-me bem com a mota. Fizemos uma saída com o pneu macio, que não esperava usar. Vamos ver que pneu usar, começar bem, fazer duas boas voltas para estar numa boa posição e ser competitivo. Tenho uma especificação diferente nas asas dianteiras em comparação com o Brad [Binder]. Não estou certo em relação aos rapazes da Tech3 mas relativamente ao Brad sim. As minhas asas criam um pouco mais de arrasto e uma menor velocidade de ponta e isto é uma das razões pelo qual era mais lento no setor quatro. Vamos ver amanhã, se arriscamos tentar outra especificação de asas ou se mantemos estas”, comentou na antecâmara da corrida da primeira corrida do MotoGP em 2022.

Miguel Oliveira sai de 14.º no Grande Prémio do Qatar, a primeira corrida do Mundial 2022 em MotoGP

E era uma prova muito esperada, além da natural ligação que liga ao portugueses a Miguel Oliveira. Porque a Suzuki parecia na sexta-feira estar muito consistente mas falhou os lugares cimeiros na Q2. Porque Jorge Martín alcançou a primeira pole position do ano mas foram as Ducatis como um todo a conseguirem um lugar de destaque. Porque Marc Márquez provou que estou apostado num regresso ao topo colocando a sua Honda no top 3 perante uma Yamaha que teve como piloto mais rápido o campeão Fabio Quartarato em 11.º. Tudo em aberto para um início de Mundial que se espera ainda mais aberto do que em 2021.

O arranque acabou por mudar todas as contas: Jorge Martín afundou-se na classificação para o oitavo lugar, Pol Espargaró saiu muito bem e conseguiu assumir a liderança depois de o companheiro Marc Márquez ter andado em primeiro, Brad Binder subiu de sétimo para terceiro. No meio do pelotão, Miguel Oliveira ganhou três posições, baixou depois para 12.º na roda de Álex Márquez mas pouco depois estava de volta ao 14.º posto com Nakagami e sobretudo Pecco Bagnaia a embalar rumo ao top 10 da classificação depois de uma qualificação onde acabou por ser uma das grandes desilusões a par de Fabio Quartararo.

Essa descida do português na classificação poderia deixar a entender uma corrida sem grande capacidade para lutar ainda pelo top 10 mas nas voltas seguintes Miguel Oliveira a passar Nakagami, a passar Jack Miller e a andar em cima de Álex Márquez. Lá na frente, a outra KTM de Brad Binder aproveitou um erro numa travagem de Marc Márquez para subir em segundo quando as Suzuki davam também sinais de poderem entrar na luta pelo pódio sobretudo por Joan Mir. A 15 voltas do final, com Pol Espargaró a aproveitar a velocidade na reta para cavar um fosso de 0.4 segundos, Binder seguia em segundo, Enea Bastianini tinha passado Marc Márquez no terceiro posto e Miguel Oliveira subia ao 11.º lugar atrás de Pecco Bagnaia.

Apesar da distância para Fabio Quartararo, que entretanto baixara ao nono lugar, Miguel Oliveira seguia com um ritmo que lhe permitia chegar ao top 10 pouco depois mas, a 12 voltas do final, tudo acabou por cair: o piloto português teve uma queda na curva após a reta da meta e ficou fora do Grande Prémio do Qatar. A corrida que tinha todas as condições para acabar da melhor forma ficou hipotecada pouco antes de mais uma queda, desta vez com Bagnaia a deslizar numa curva e a colocar também de fora outra Ducati de Jorge Martín. Ou seja, e num minuto, Oliveira passou de um possível oitavo lugar para… o abandono.

Pela primeira vez em 12 anos contando com 125cc, Moto3, Moto2 e MotoGP, o piloto de Almada não acabou a corrida inicial do Campeonato. Mais: nas 11 primeiras temporadas, tinha acabado nove no top 10. Mais: a queda surgiu quando ia entrar nesses lugares e por aí ficaria perante o que se passou no resto da corrida onde as grandes mexidas foram nas posições da frente. A cinco voltas do final, Bastianini conseguiu mesmo passar Pol Espargaró, o espanhol errou e saiu largo para Brad Binder subir à segunda posição e Aleix Espargaró já tinha entretanto passado Marc Márquez no quarto lugar, um cenário que se manteria até ao final com os quatro primeiros classificados de outras tantas marcas e uma festa especial nas boxes da Gresini Racing, em uma equipa de luto com a morte por Covid-19 de Fausto Gresini no ano passado que continuou com a viúva Nadia Padovani no comando e que acabou em lágrimas pelo triunfo de Enea Bastianini.