Ivan Kuliak podia ser uma estrela ascendente da ginástica da Rússia (que continua a ser) mas não constituía propriamente um nome muito conhecido no mundo do desporto. Pelo menos até este fim de semana. E não por razões desportivas. Ao subir ao pódio das barras paralelas da Taça do Mundo de Doha, no Qatar, com o símbolo Z associado aos defensores da invasão da Ucrânia, tornou-se notícia um pouco pelo mundo. Agora, pela primeira vez desde o sucedido (e de todas as repercussões seguintes), comentou a posição assumida.

Atleta russo investigado por usar símbolo pró-invasão em pódio de prova mundial de ginástica (que foi ganha por ucraniano)

“Disseram-nos para cobrir a bandeira, foi o que fiz. Já tinham proibido tudo o que era possível, só quis mostrar de onde sou, apenas isso. Não tenho medo das consequências e não quero causar danos a ninguém. Se existisse uma segunda vez, voltaria a fazer o mesmo O ‘Z’ significa ‘Pela Vitória’, pela paz. E os atletas ucranianos têm-nos tratado mal, só vendo é que iriam acreditar”, justificou o jovem atleta russo de 20 anos numa mensagem que publicou através do Telegram, onde fez mais reparos ao que se passou no pódio.

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“Os atletas estavam no pódio a gritar ‘Glória à Ucrânia’ e, de acordo com os regulamentos da competição, isso não é permitido. Mas ninguém lhes disse nada esse respeito”, apontou. Nas imagens que existem desse pódio das barras paralelas, prova que foi ganha pelo ucraniano Illia Kovtun e que teve como segundo classificado o cazaque Milad Karimi, consegue apenas perceber-se o nervosismo de Ivan Kuliak, que vai mordendo os lábios, bem como a tensão com Kovtun, que saudou apenas Karimi na altura das medalhas.

Na sequência do gesto, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) pediu à Gymnastics Ethics Foundation para que abrisse uma investigação sobre o caso, que deverá levar a uma pesada sanção ao atleta russo. “A FIG confirma que vai pedir à Gymnastics Ethics Foundation que inicie um processo disciplinar relativamente ao ginasta Ivan Kuliak, na sequência do comportamento chocante que teve na Taça do Mundo de Doha. A FIG adotou medidas contra a Rússia e a Bielorrússia a 4 de março. A partir de 7 de março de 2022 atletas e oficiais russos e bielorrussos, incluindo juízes, não poderão integrar competições da FIG”, salientou.

Nascido em Kaluga, a menos de 100 quilómetros de Moscovo, Ivak Kuliak começou cedo na ginástica por influência da mãe, representando há muitos anos a conhecida Escola de Ginástica Larisa Latynina com uma passagem pela Universidade de Smolensk. Em 2019 teve o primeiro grande ano no plano competitivo, ao sagrar-se campeão júnior do all-around e do solo, além de ser medalha de prata na barra horizontal. Essa participação valeu-lhe a ida ao Festival Olímpico da Juventude de 2019, onde ficou em segundo no all-around e por equipas e em terceiro no solo e nas argolas. Os feitos viriam a dar mais tarde o degrau de Mestre do Desporto pela Federação Russa de Ginástica, um reconhecimento pelo mérito desportivo. No ano passado, quando passou a integrar o projeto olímpico para Paris-2024, serviu o exército como uma espécie de doutrinação política na base militar em Balashikha, estando agora focado apenas na competição.