As mulheres criam valor para a sociedade e para a economia e esse é o lema do debate organizado pelo governo, quando o mercado de trabalho ainda segrega e apenas um em cada três empreendedores é do género feminino.
Para assinalar o Dia Internacional da Mulher, que se comemora esta terça-feira, a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade organiza um debate, sob o tema “As mulheres criam valor” que durante a manhã vai abordar o papel e a participação das mulheres nas áreas da investigação e do desenvolvimento, avaliando, por exemplo, como a igualdade de género pode ser um fator de desenvolvimento e inovação organizacionais.
Em declarações à agência Lusa, a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade explicou que o slogan escolhido para assinalar o dia vai ao encontro do trabalho que tem vindo a ser feito no âmbito da capacitação digital e da mensagem que tem vindo a ser passada de que “mulheres criam soluções qualificadas nas suas áreas profissionais, especialmente na investigação e no desenvolvimento”.
“Elas criam valor para a sociedade, para a economia e não só no cuidar, queremos romper essa associação ao cuidar, valorizando todo aquele que é o trabalho de realização e de produção das mulheres e romper também com esse cânone de feminilidade subordinada na esfera privada”, defendeu Rosa Monteiro, que irá encerrar o debate.
Sublinhou que o objetivo do debate é “reforçar a visibilidade do valor criado pelas mulheres” e divulgar o que fazem, justificando assim o painel escolhido, com “investigadoras que fazem investigação e desenvolvimento, que lideram projetos extremamente importantes para a sociedade, para a economia e para o desenvolvimento”.
Segundo Rosa Monteiro, pretende-se, por isso, questionar o que é inovação, num momento de recuperação económica depois de uma crise pandémica.
“O nosso alerta é que não dá mais para ignorar o valor criado pelas mulheres e que a inovação tem de ser questionada integrando uma perspetiva de reconhecimento do papel das mulheres e da importância das mulheres, sem o qual não há recuperação, não há inovação e não há desenvolvimento”, destacou a secretária de Estado.
Apontou, por outro lado, que entre os empreendedores apenas um em cada três são mulheres e que elas têm “muito mais dificuldades no acesso ao investimento e ao financiamento” dos seus projetos.
E lembrou também que continua a existir um défice de género, por exemplo, na área da participação das mulheres nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e Digital, quando se fala de “mainstream de género” nos orçamentos do Estado e no orçamento da União Europeia, apesar de estar a ser reduzido.
Rosa Monteiro ressalvou que Portugal subiu três lugares (de 19.º para 15.º) no ranking da Comissão Europeia “Women in Digital Scoreboard” “em apenas um ano” e que o país conseguiu aumentar a percentagem de mulheres especialistas nas TIC no emprego total, mas admitiu também que esses mesmos números ainda “são demasiado baixos” e que é preciso ampliar.
Admitiu igualmente que Portugal continua a ter um “mercado de trabalho muito segregado”, apesar de lembrar que tem sido uma aposta das políticas da igualdade colocar no centro do combate a questão da segregação horizontal e nas profissões, incluindo-a em todos os programas setoriais, de investimento e de recuperação.
“Sabemos que em temas tão urgentes como a cibersegurança temos no ensino superior, em termos de pessoas inscritas nos cursos de cibersegurança e segurança de informação, apenas 8% de mulheres, o que é um aumento de 1 ponto percentual em relação ao ano letivo de 2019/2020, e temos apenas 9% de diplomadas”, revelou.
Segundo a secretária de Estado, as cientistas e as engenheiras “têm menos 50% de probabilidade de obter uma patente para proteger as suas produções intelectuais do que os colegas homens”, defendendo que o trabalho em prol da igualdade “é realmente importante”.
Já em matéria de inteligência artificial, Rosa Monteiro adiantou que as mulheres representam apenas 22% do total de profissionais.
Destacou ainda que o trabalho pela igualdade em Portugal tem sido pela integração dos objetivos noutros programas e noutras áreas, dando como exemplo o programa de investimento público em investigação e desenvolvimento 2021/2030 com “objetivos muito concretos” nas carreiras científicas, nos painéis de avaliação, na promoção das condições de conciliação da esfera profissional, pessoal e familiar ou no fim do fosso de género nas áreas da tecnologia e na inovação.