A guerra na Ucrânia continua sem um fim aparente. Mães, pais, mulheres, irmãos, primos e tios procuram desesperadamente pelos seus familiares que desapareceram após a invasão russa.

Com vozes trémulas, a maioria recorre à linha de apoio “Volte da Ucrânia Vivo”, não para procurar cidadãos ucranianos, mas sim para obter informações sobre militares russos. Desde 24 de fevereiro, mais de seis mil pessoas telefonaram para tentar encontrar entes queridos.

“É aqui que posso saber se uma pessoa está viva?” é umas das perguntas mais comuns que os atendedores da linha recebem. Em chamadas preenchidas pelo desespero e incerteza daqueles que percebem que Moscovo está a controlar as comunicações sobre a guerra, os cidadãos só querem descobrir o paradeiro dos seus familiares.

As gravações das chamadas, a que a CNN teve acesso, indicam que muitos dos soldados russos pareciam não saber bem quais eram os planos da invasão ou até mesmo para onde estavam a ser mobilizados.

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Na maioria dos telefonemas, as pessoas declaram que os filhos e os maridos disseram ter sido enviados para exercícios militares e perderam o contacto com as suas famílias por volta dos dias 22 ou 23 de fevereiro, pouco antes de a Rússia invadir a Ucrânia.

Em primeiro lugar, ajudaremos [os militares russos] a encontrar os seus familiares e em segundo lugar, ajudaremos a parar a guerra”, disse Cristina (nome fictício), uma das responsáveis da linha.

A “Volte da Ucrânia Vivo” foi criada pelo Ministério do Interior da Ucrânia e, tal como explica Cristina, é uma ferramenta de ajuda humanitária, mas também de propaganda para tentar terminar com a guerra.

Estamos a tentar não pensar por quanto tempo isto [a guerra] vai durar (…) Só esperamos que acabe em breve”, declara a mulher.

Os trabalhadores da linha de apoio já receberam dezenas de telefonemas, mas alguns são especialmente marcantes. Cristina destaca um: uma noiva que procurava o seu futuro marido e não parava de pedir “perdão” pela invasão. “Ela só dizia: ‘Perdoe-nos, não queríamos atacá-los. Esta não é a nossa guerra. Não queríamos fazer isto‘”.

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De Vladivostok, no extremo leste da Rússia, a Rostov-on-Don, perto da fronteira com a Ucrânia, e até mesmo um pouco por toda a Europa e pelos EUA, as chamadas não têm parado.

Um alto funcionário do governo ucraniano diz que linha de apoio já conseguiu conectar dezenas de famílias russas a militares na Ucrânia.

Convidamo-los para vir à Ucrânia para se encontrarem com os seus filhos, mas até agora nenhum deles decidiu fazê-lo”, informa.

Longe da invasão, em Virgínia, nos Estados Unidos, Marat viu uma fotografia do primo num grupo de Telegram onde são publicadas informações sobre militares russos capturados, feridos ou mortos.

Percebemos que todos os sinais apontam para que ele tenha sido morto em combate, mas ainda estamos a tentar recolher informações para perceber onde está o corpo. Ou talvez, ele ainda esteja vivo”, salienta Marat.

A família de Marat, que está na Rússia, pediu-lhe para telefonar para a linha de apoio porque tinham medo de represálias das autoridades se fossem eles a estabelecer o contacto.

A Rússia, que invadiu a Ucrânia na madrugada de 24 de fevereiro, tem restringido o acesso a meios de comunicação ocidentais, como a BBC. O país acusa os media de divulgarem uma versão parcial do mundo, nomeadamente uma versão anti-russa.

Na Rússia, a população parece já temer represálias do contacto, ainda que telefónico, com a Ucrânia.