O Presidente ucraniano falou este sábado na hipótese de conversar cara a cara com o homólogo russo, com mediação de Israel e em território israelita.
“Quanto à mediação de Israel e do senhor Bennett [primeiro-ministro israelita], somos a favor. Acredito que pode desempenhar um papel importante”, disse Volodymyr Zelensky numa entrevista coletiva com jornalistas estrangeiros, divulgada pelo Kyiv Independent.
O presidente ucraniano disse ter conversado com Naftali Bennett e ter considerado que um encontro na Rússia, na Ucrânia ou na Bielorrússia seria “errado e pouco construtivo”. Em alternativa, um encontro em Israel poderia ser viável.
“Não estou a falar de reuniões técnicas, mas de reuniões de líderes”, disse, considerando que a cidade de Jerusalém podia ser um local conveniente para negociar. “Quando falamos sobre garantias de segurança e sobre que países devem estar no acordo de garantia de segurança para a Ucrânia, acredito que Israel deveria estar nesse grupo de países.”
1.300 soldados ucranianos mortos. Entre 500 e 600 soldados russos renderam-se
Na conferência de imprensa que deu em Kiev, na tarde de sábado, o Presidente ucraniano confirmou que cerca de 1.300 soldados ucranianos perderam a vida desde que a guerra começou, há 17 dias (a informação não conseguiu ser confirmadas por fontes independentes). É a primeira vez desde o início do conflito, a 24 de fevereiro, que as autoridades ucranianas divulgaram um balanço das suas baixas.
“Morreram cerca de 1.300 militares nossos e a Rússia perdeu perto de 12.000”, afirmou o Presidente ucraniano. É “uma proporção de um para dez, mas isso não me deixa feliz”, acrescentou, explicando que “os russos também têm pais” e que a maioria dos soldados não sabe nada em geral. “Foram para a Ucrânia porque lhes disseram algo sobre lutar contra o fascismo.”
A BBC destaca que fontes ocidentais estimaram na sexta-feira que cerca de 6 mil soldados russos tenham morrido no mesmo período de tempo. No passado dia 8 de março, após quase duas semanas de conflito, uma estimativa do Pentágono apontava para entre 2.000 e 4.000 mortos do lado russo.
Zelensky salientou ainda que cerca de 500 a 600 soldados russos renderam-se às forças ucranianas na sexta-feira (um número que, mais uma vez, não foi confirmado por fontes independentes).
Autarca Ivan Fedorov continua sequestrado. Zelensky pede a sua libertação imediata
Citado pela BBC, Zelensky afirmou que a Rússia deveria envergonhar-se do sequestro do presidente da câmara de Melitopol, Ivan Fedorov, garantindo que a sua detenção é “um crime conta a democracia”. “Eles mataram um autarca e agora capturam outro. Isso significa que todos os autarcas, não importa em que cidades as forças russas entrem, se não confirmarem a sua colaboração, serão mortos”, acrescentou, considerando a situação um ato “terrorismo”.
Sobre a possibilidade de as tropas russas chegarem a Kiev, Zelensky afirmou que os soldados só podem tomar a cidade se os “destruírem a todos”. Ao 17.º de guerra, o Presidente ucraniano mostrou-se otimista: “Sabemos a 100% que vamos ganhar”, mas reforçou que as negociações com a Rússia não podem começar antes que um cessar-fogo seja estabelecido entre as forças de Kiev e de Moscovo.
Nas últimas negociações Moscovo “não faz apenas ultimatos”
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, congratulou-se com uma nova abordagem “fundamentalmente diferente” de Moscovo nas conversações com Kiev, sublinhando que a Rússia deixou de “fazer só ultimatos”.
Questionado sobre as declarações de sexta-feira do Presidente russo, Vladimir Putin, que falou em “avanços” nas conversações russo-ucranianas, Zelensky, que falava numa conferência de imprensa em Kiev, disse estar “contente por ter um sinal da Rússia”.
Durante as últimas negociações, “começámos a falar” e Moscovo “não faz apenas ultimatos”, o que constitui “uma abordagem fundamentalmente diferente”, acrescentou. Segundo Zelensky, nos últimos dois anos, a Ucrânia abordou a Rússia “mais de dez vezes”, “sem nunca ter ouvido que o diálogo era possível”.
As declarações do Presidente ucraniano ocorrem após uma reunião na quinta-feira dos chefes da diplomacia russa e ucraniana, na Turquia, a primeira a este nível desde o início da invasão russa da Ucrânia. Antes, decorreram três sessões de conversações a nível de delegações, a primeira perto da fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia e as duas outras na fronteira entre Polónia e Bielorrússia.
Estas conversações prosseguem por videoconferência, indicou hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, recusando dar mais detalhes.
Zelensky, no entanto, lamentou que “os parceiros ocidentais (da Ucrânia) não estejam suficientemente comprometidos” nesta abordagem.
Em termos de garantias de segurança, a “Ucrânia não pode confiar na Rússia após esta guerra sangrenta. Essas garantias de segurança devem ser propostas por outros líderes estrangeiros”, considerou.