O relógio do Estádio Olímpico de Londres caminhava para os 70 minutos quando Andriy Yarmolenko recebeu a bola na grande área, dominou-a, virou-se, rematou e marcou. O que se passou nos segundos seguintes fica para a história: o jogador do West Ham colocou as mãos no ar, apontou para o céu, ajoelhou-se, tapou a cara e não controlou as lágrimas.
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“É tão difícil para mim neste momento pensar em futebol porque todos os dias o exército russo mata ucranianos.” No final do jogo, não se conteve nas palavras e admitiu que jogar nestas condições, quando o país está a enfrentar uma guerra, é exigente. Aliás, Yarmolenko esteve fora uns dias depois da invasão da Rússia à Ucrânia e voltou aos relvados este domingo, tendo até dito que não está a 100% por ter treinado apenas “três ou quatro vezes” nas últimas duas semanas.
Num dos jogos em que esteve ausente, a equipa — a quem o jogador agradeceu todo o apoio — entrou em campo para homenagear Yarmolenko, com o capitão de equipa a elevar a camisola com o número 7. Nas bancadas, um ecrã gigante com a bandeira da Ucrânia mostrava uma fotografia do jogador e uma frase de força para Yarmolenko e todos os ucranianos.
West Ham show their support for Andriy Yarmolenko ????????????pic.twitter.com/p1uZyXzufE
— Sky Sports News (@SkySportsNews) February 27, 2022
Andriy Yarmolenko nasceu na Rússia, em São Petersburgo, cresceu na Ucrânia, naturalizou-se ucraniano e diz sentir-se “100%” cidadão desse país. Agora, está a lutar ao lado de um povo que viu o seu país invadido de um dia para o outro e tem tentado usar a visibilidade que a profissão lhe dá para passar mensagens.
O jogador do West Ham faz questão de não se colocar à parte do conflito e já não é a primeira vez que fala da guerra. Uma semana depois da invasão, tornou-se um dos primeiros atletas a falar sobre o tema e dirigiu-se diretamente aos colegas de profissão russos para que se pronunciassem e aproveitassem a influência que têm para agirem e condenarem a posição de Vladimir Putin.
O golo que marcou acabou por contribuir para a vitória do West Ham, mas o que se passou naquele palco e naquele relvado foi muito além do futebol ou dos três pontos conquistados.
Esta não é a primeira vez que o futebol se une aos ucranianos desde que começou a guerra. Em Portugal, Yaremchuk foi homenageado na primeira vez que entrou em campo após a invasão. Os adeptos do Benfica levantaram-se para aplaudir o avançado, num momento emocionante em que surgiram bandeiras, cartazes e mensagens de apoio ao jogador e à Ucrânia. O atleta ucraniano recebeu ainda das mãos de Vertonghen a bandeira de capitão e ficou visivelmente emocionado.