Quem nunca se divertiu um segundo que seja com “Pokémon” que atire a primeira pokébola. É praticamente impossível que nunca tenha jogado uma das dezenas de títulos de videojogos da série; visto um dos episódios dos desenhos animados famosos em todo o mundo; ou ouvido uma das músicas deste universo, que até já foram citadas em discursos na corrida à Casa Branca (sim, isto aconteceu em 2011, com Herman Cain). Porquê? Basta um nome: Pikachu. Já nos fizemos pika-entender, não foi? Basta lembrar o impacto mundial desta espécie de rato amarelo japonês para poder dizer que, mesmo após tantos jogos, com “Pokémon Legends: Arceus” a Nintendo mudou um bocadinho a sua forma vencedora e voltou a criar a diversão de sempre.
Pokémon Legends: Arceus
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Plataformas: Nintendo Switch
A favor:
- Novas mecânicas de jogo
- Gráficos em três dimensões
- História
Contra:
- Gráficos pouco detalhados e datados
Para quem é este jogo?
Para os fãs de Pokémon; para quem quer uma experiência nostálgica mas renovada desta série de jogos da sempre;
Para quem não é este jogo?
Para quem não gosta de Pokémon; para quem procura uma experiência visualmente deslumbrantes; para quem não gosta de aventuras em que é preciso explorar livremente para se avançar na história.
Mesmo quem, nos anos de 1990, jogou os videojogos de pokémon, o “azul” e o “encarnado”, pode contar com “Pokémon Legends: Arceus” para voltar a pôr até o mais tímido dos aspirantes a treinadores de Pokémons a sentir-se uma criança que está a pegar neste jogo pela primeira vez.
Logo no início do jogo, o jogador percebe que está o jogar o Pokémon de sempre de forma diferente, e não é só pelos gráficos em três dimensões ou novas mecânicas de jogo — como apanhar criaturas sem ter de batalhar com as mesmas. É por ser um jogo novo que ousou ser um pouco diferente em tudo o que já oferecia.
A história por detrás deste título mostra como o jogo pega na fórmula que já é conhecida e muda-a. A personagem que controlamos é levada numa viagem no tempo por Arceus, o pokémon que representa deus nestas aventuras. Caídos, literalmente, do céu, na região de Hisui — que é nada menos do que Sinnoh, uma região que conhecemos de outros jogos anteriores –, somos confrontados com um novo mundo. As pokébolas (ferramentas usadas para se apanhar criaturas nestes jogos) acabaram de ser inventadas e são bastante artesanais, a única tecnologia do futuro que temos é um smartphone modificado pelo tal pokémon divino e todos os edifícios e personagens que encontramos têm um visual medieval ao estilo japonês como se estivéssemos no equivalente ao século XV ou XVI deste universo.
Na prática, a estória que experienciamos aqui é como viver um capítulo dos livros de História do universo Pokémon. Em Hisui, ao contrário daquilo que sabemos que vai acontecer no futuro deste universo, não é normal apanhar-se Pokémons e pedem-nos que comecemos a construir a primeira Pokédex – uma enciclopédia de pokémons que é presença assídua noutros jogos.
Entre peripécias e demandas que vão surgindo, o jogo é bastante livre naquilo que permite o jogador fazer, mas há uma história base que tem de ser completada para aceder a todas as partes desta região. Por isso, pode contar com um videojogo que oferece dezenas e dezenas de horas de jogo — mesmo para quem se concentre apenas na história principal e ligue menos às missões secundárias.
À semelhança dos títulos passados, um dos grandes objetivos do jogo continua a ser, como dizia o slogan da série de desenhos animados, “apanhá-los todos” (aos “pokémon”, leia-se). Porém, é aqui que este jogo muda também a fórmula que conhecemos. Podemos lutar com as criaturas que encontramos utilizando outros monstros que já apanhámos, mas é também possível capturar pokémons que encontremos a vaguear sem enfrentá-los.
De forma sorrateira e com a pokébola adequada (há vários tipos, como noutros jogos) é mais ou menos fácil apanhar um Pokémon desprevenido e, apontando bem, capturá-lo. Os controlos não são difíceis de aprender e, considerando que as mecânicas de jogo podiam ser mais sofisticadas — a personagem que controlamos salta de forma pouco ágil e, por melhor que tentemos controlá-la, é impossível que não pareça desajeitada –, não deixa de ser divertido conhecer este mundo em três dimensões com pokémons a vaguear pelos campos.
Mesmo com todas estas boas novidades, onde “Pokémon Legends: Arceus” consegue dececionar é nos gráficos. Se, com “The Legend of Zelda: Breath of the Wild”, foi possível ver que mesmo os mundos com visuais menos realistas podem criar na Nintendo Switch um jogo que se compara aos das consolas mais potentes, neste videojogo parece que estamos a jogar outra vez um título de uma consola passada. Os detalhes de coisas como as escarpas de colinas ou as árvores são pouco polidos e há pokémons que têm traços pouco pormenorizados. Cada local que é conhecemos ao logo da aventura, apesar dos Pokémons que encontramos a vaguear pelos campos, parece vazio e parco.
Que não se interprete isto como se estivéssemos a dizer “Pokémon Legends: Arceus” fosse um jogo visualmente feio. Não é. Agora, a impressão que deixa é que este é o videojogo de pokémon que os fãs da série andam a pedir desde os anos 2000 à Nintendo mas que foi lançado com os gráficos dessa época.
Mudou visualmente? Sim. São gráficos mais interessantes e que oferecem mais funcionalidades do que títulos passados? Sim. Podiam ser melhores? Pelo que conhecemos de tantos outros jogos, a resposta é: claro que sim.
Independentemente disso tudo, os visuais de “Pokémon Legends: Arceus” não são um defeito crucial. Afinal, os primeiros jogos da saga Pokémon eram apenas linhas negras em movimento no ecrã esverdeado dos antigos Game Boy e isso não fez deles maus jogos. O sucesso que tiveram é prova do contrário.
Graças a estes novos visuais e às novas mecânicas, conseguimos cavalgar pelos campos de Hisui num pokémon lendário — um único, infelizmente –, e até voar como noutras aventuras mais modernas. Pela primeira vez na série, é possível viver num destes jogos aquilo que se vê nos filmes e desenhos animados e atirar pokébolas para capturar criaturas. Este jogo vai até mais longe dos que outros jogos passados foram e permite que seja o jogador a apanhar os objetos necessários para que se construir as pokébolas e outros itens (em vez de se comprar se de comprar). É por isto tudo que podemos dizer que, a diversão é a mesma com a adição de sentirmos que estamos a jogar um jogo de pokémon diferente.
Veredito final: um pokémon que é tão bom mas que nos faz saber que podia ser ainda melhor
Foi difícil largar este jogo de pokémon enquanto o jogámos. Contudo, também foi difícil não pensar que podia ser ainda mais. Os gráficos podiam ser mais cativantes, as mecânicas de jogo podiam oferecer mais liberdade ao jogador e a aventura e batalhas podia ainda ser mais ousada.
Mesmo assim, como dissemos, não foi isso que nos fez parar de jogar esta aventura dos pokémon no passado e mostrou-nos um vislumbre daquilo que a série pode oferecer no futuro sem perder a diversão de sempre. E esse futuro pode estar já para breve: no final de 2022 vêm novos jogos e, pelo que parecem mostrar os trailers, muitas destas mecânicas, incluindo o mundo em três dimensões, vieram para ficar.
*A Nintendo Portugal disponibilizou ao Observador o acesso de “Pokémon Legends: Arceus” através da loja digital da Nintendo Switch.