Portugal não tem registo de nenhum caso de gripe das aves em humanos e os focos de infeção em animais estão controlados, disse à Lusa a investigadora do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) Raquel Guiomar.
Em entrevista à agência Lusa no Laboratório Nacional de Referência para o Vírus da Gripe e outros Vírus Respiratórios do INSA, Raquel Guiomar adiantou que os vários focos de infeção detetados em aves selvagens, domésticas e a nível industrial “foram controlados” e não foi detetada a passagem do vírus influenza H5N1 ao homem.
“Em 2021 e 2022, apenas foi documentado um caso [de contágio humano] pelo Reino Unido em que essa transmissão se deu devido a um contacto prolongado e muito próximo com as aves infetadas”, relatou a responsável pelo laboratório, que desde 1953 integra as redes de vigilância da gripe da Organização Mundial da Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
Segundo dados divulgados na quarta-feira pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Portugal contabiliza desde 30 de novembro, quando foi confirmado o primeiro caso numa capoeira doméstica no distrito de Setúbal, 20 focos de gripe das aves e perto de 230.000 animais já foram abatidos.
Portugal contabiliza 20 focos de infeção pela gripe das aves
Entre estes, incluem-se 14 focos em aves domésticas, entre os quais em explorações comerciais de perus, galinhas e patos, uma coleção privada de aves e capoeiras domésticas, bem como seis focos em aves selvagens.
O INSA, em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, está a participar “no diagnóstico da gripe aviária na parte humana”, ou seja, em pessoas que tiveram contacto com aves infetadas pelo vírus influenza H5N1.
Como é um vírus de “alta patogenicidade”, o controle da transmissão nas aves “é muito importante para limitar qualquer possibilidade de transmissão ao homem”, disse Raquel Guiomar no laboratório que tem como objetivos principais identificar e caracterizar os vírus influenza em circulação e detetar vírus emergentes com potencial pandémico como o H5N1.
“Por isso é que a vigilância é tão importante, não só em vírus que circulam de forma epidémica todos os anos, mas também para vigiar casos raros e vírus que são altamente patogénicos, quer para as aves, quer para o homem para que possam ser rapidamente diagnosticados numa situação que constitui também uma emergência em saúde pública”, sustentou.
A virologista explicou que é nas aves se podem encontrar a maior variedade de vírus da gripe, sendo que muitos deles só circulam entre diferentes populações de aves e diferentes espécies.
Esta deteção de aves infetadas pelo vírus da gripe ocorre normalmente na época do ano em que as aves fazem os seus percursos migratórios e isso está a ocorrer agora a nível da Europa”, explicou.
A investigadora adiantou que têm sido já detetadas aves infetadas pelo vírus influenza H5N1 em diferentes países, mas disse ser uma situação rara.
Já tinham sido detetados outros vírus influenza em aves, nomeadamente o H5N6 e o H5N8, “com maior ou menor intensidade, dependendo da circulação das aves selvagens que, através dos seus excrementos, vão infetando o meio ambiente e podem eventualmente transmitir a aves domésticas ou mesmo em explorações”, explicou Raquel Guiomar.
A DGAV tem vindo a apelar a todos os detentores de aves para que cumpram as medidas de biossegurança e boas práticas de produção avícola, reforçando também os procedimentos de higiene das instalações, equipamentos e materiais.