Já terminou o prazo dado pelas autoridade russas para que a Ucrânia entregasse à Rússia a cidade sitiada de Mariupol, que está neste momento maioritariamente controlada pelas forças do Kremlin.
O prazo dado para que a cidade se rendesse, isto é para que a Ucrânia abdicasse dos confrontos e da tentativa de recuperação do controlo de Mariupol, era até às 5h de esta segunda-feira. O Governo ucraniano, porém, recusou entregar a cidade a controlo russo. Até ao momento, não há relato de consequências no terreno de essa recusa.
Esta segunda-feira, o deputado ucraniano Dmytro Gurin esclareceu que não existem comunicações com Mariupol e disse acreditar que a estratégia russa para que a Ucrânia entregue esta cidade portuária passa por matar os seus habitantes à fome. “Os russos não abrem corredores humanitárias, não deixam que os comboios humanitários entrem na cidade”, disse Dmytro Gurin, citado pela BBC.
“O objetivo dos russos é começar a fome para impor a sua posição no processo diplomático, e se a cidade não se render, eles não vão deixar sair ninguém”, acrescentou o deputado, que é natural de Mariupol.
Um ultimato para “salvar civis”
O ultimato feito pelo Ministério da Defesa da Rússia tinha sido justificado com a necessidade de “salvar os civis” da “catástrofe humanitária” que se vive na localidade do sul da Ucrânia, onde se multiplicam há dias os relatos de falta de bens essenciais.
De acordo com a agência de notícias russa RIA, o Ministério da Defesa propôs a abertura de corredores humanitários para a retirada dos cerca de 130 mil civis que permanecem na cidade, uma operação que poderia ser acompanhada por organizações “no terreno” como a Cruz Vermelha, disse o Kremlin.
Em troca, o Governo russo exigia a Kiev que retirasse todo o pessoal militar, incluindo aqueles que Moscovo descreve como “mercenários”, entre as 10h e as 12h locais, através de um corredor criado para o efeito. O Kremlin prometeu poupar vidas se as forças ucranianas desistissem dos confrontos na localidade.
O Ministério da Defesa russo tinha também apelado ao governo ucraniano que “fosse razoável” e que cancelasseas ordens dadas anteriormente, “que obrigaram os militares em Mariupol a sacrificarem-se” para combater as forças russas. Kiev tinha até às 5h00 (hora de Moscovo, 2h00 em Lisboa) desta segunda-feira para comunicar “por escrito” a sua decisão.
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Kiev recusou entregar Mariupol e exigiu abertura de corredor humanitário
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereschuk, respondeu às declarações russas, dizendo que Kiev não iria entregar Mariupol e que a rendição não era uma opção. De acordo com o The Kyiv Independent, Kiev exigia a abertura de um corredor humanitário e que o exército russo permitisse a passagem de ajuda humanitária e a saída de civis, independentemente dos confrontos entre as forças militares dos dois países.
Ukraine demands that Russian forces allow safe passage immediately.
— The Kyiv Independent (@KyivIndependent) March 20, 2022
Há várias semanas que Mariupol se encontra cercada pelo exército da Rússia, que tem dificultado a entrada de ajuda humanitária e a retirada dos residentes. A situação na cidade, onde falta água, comida e aquecimento, tem sido descrita como catastrófica. Não se sabe ao certo quantas pessoas terão morrido na sequência dos bombardeamentos ou devido à escassez generalizada de bens essenciais, mas as estimativas apontam para mais de duas mil vítimas.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha afirmado este sábado que “o terror” vivido na localidade junto ao Mar de Azov será “lembrado durante séculos”. Manolis Androulakis, cônsul-geral grego na cidade, recentemente regressado à Grécia, disse esperar que ninguém veja aquilo que viu. “Mariupol vai entrar para a lista de cidades que foram totalmente destruídas pela guerra. Não preciso de as nomear, são: Guernica, Coventry, Aleppo, Grozny e Leningrado”, afirmou este domingo, à chegada a Atenas, segundo a Reuters.
Os bombardeamentos têm-se intensificado na cidade nos últimos dias. Pavlo Khrylenko, governador da região de Donestk, tinha dito este domingo à tarde que o cenário de guerra se estendia ao interior da cidade, onde têm havido combates. Segundo adiantou à BBC, as tropas russas têm disparado indiscriminadamente sobre os cidadãos, procurando “qualquer pretexto para disparar contra pessoas pacíficas”.
Reagindo aos últimos ataques, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Oleg Nikolenko, questionou se se trata de um “capítulo da Terceira Guerra Mundial”. “Primeiro destruíram as cidades, bombardearam hospitais, teatros, escolas, abrigos, mataram civis e crianças. Depois obrigaram a deslocar a população assustada e exausta para a terra do invasor. Um capítulo da Terceira Guerra Mundial? Não, as ações do Exército russo, hoje, em Mariupol”, declarou no Twitter.
First they came to destroy the cities, bombing hospitals, theaters, schools and shelters, killing civilians and children. Then they forcibly relocated the scared, exhausted people to the invader’s land. A chapter from WWII? No – the actions of the Russian army, today in Mariupol.
— Oleh Nikolenko ???????????????? (@OlehNikolenko_) March 20, 2022
Um comboio militar russo já terá começado a avançar em direção à cidade. Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, anunciou que o exército avançou este domingo 12 quilómetros em direção à zona este da Ucrânia e que chegou a Nikolske, perto de Mariupol, noticiou a Al Jazeera, com base na Interfax. As movimentações não foram confirmadas pelas forças ucranianas.
Artigo atualizado às 07h48 com o final do prazo dado pela Rússia em ultimato à Ucrânia