Entre os cerca de 500 alunos ucranianos que fugiram da guerra e que já estão matriculados oficialmente nas escolas portuguesas, segundo números avançados esta segunda-feira pelo ministro da Educação, dois estudantes estão na Escola Secundária de Paredes, no distrito do Porto. Chegaram há mais de duas semanas de Kiev e começam agora, quase do zero, numa escola portuguesa. À semelhança do que foi determinado para todos os estabelecimentos, estes dois jovens estão na primeira fase de integração, na qual estão a aprender língua portuguesa e têm algumas disciplinas com as turmas já existentes.

Cerca de 500 alunos ucranianos inscritos nas escolas portuguesas

“São dois alunos, primos, que vieram de Kiev e que têm o pai, que os foi buscar, a viver e a trabalhar cá. Estes alunos têm aulas intensivas de português, 10h por semana, têm aulas de cultura portuguesa e depois, com uma turma de alunos da mesma idade, partilham também as disciplinas de inglês, matemática, ciências naturais, educação visual e educação física”, explica ao Observador Francisco Queirós, diretor da Escola Secundária de Paredes. Os dois jovens são acompanhados por uma equipa multidisciplinar e “a expectativa é que, ao fim de quatro semanas, se possa fazer um balanço pedagógico que determinará as ações futuras”, ainda que tudo seja dependente do evoluir da situação na Ucrânia.

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Assim que o processo de integração esteja equilibradamente conseguido, tanto quanto é possível nestas circunstâncias, os alunos são integrados numa turma, como acontece com os alunos estrangeiros que vêm para o nosso país”, acrescenta Francisco Queirós.

Para agilizar a integração dos alunos beneficiários ou requerentes de proteção internacional, o Ministério da Educação definiu medidas extraordinárias para o seu acolhimento nas escolas, estando deste já assegurado o acesso ao apoio social escolar — desde refeições gratuitas a isenção de taxas e emolumentos e à disponibilidade de material escolar. Está também garantido um processo mais simplificado para o reconhecimento das qualificações destes alunos, bem como a elaboração de um guião que foi enviado às escolas com todos os procedimentos que devem ser adotados no acolhimento destes alunos.

Para Francisco Queirós, mais do que uma questão de solidariedade no acolhimento destes alunos ucranianos, trata-se do cumprimento de um direito: “As crianças e os jovens que estão a encontrar refúgio em Portugal não dependem nem da solidariedade nem da generosidade das escolas. Felizmente, trata-se de um marco civilizacional de que nos devemos orgulhar: têm o direito jurídico de frequentar a escola como se fossem cidadãos nacionais”, explicou, acrescentando que “o Ministério da Educação determinou condições efetivas de integração destes alunos refugiados de guerra”.

“Estamos preparados para os receber”

Uma das disciplinas que estes alunos ucranianos têm, além da aprendizagem da língua portuguesa como língua não-materna, é a cultura portuguesa. Virgínia Carvalho, uma das professoras que leciona a disciplina aos dois alunos ucranianos desta escola, explica como tudo funciona numa primeira fase. “Inicialmente, falamos com eles para perceber o que gostariam de saber sobre a nossa cultura”, indica. E as respostas foram desde a História às cidades portuguesas: “Mostraram-se muito curiosos sobre a nossa capital e sobre a época dos descobrimentos”.

Foi este o ponto de partida das três professoras que lecionam esta disciplina — para já maioritariamente em inglês mas pouco a pouco já incluindo algum vocabulário português. Começaram por explicar a época dos descobrimentos e passaram também pela gastronomia portuguesa, partindo dos famosos pastéis de Belém. Houve também um contacto com a música: “Já lhes mostrei o Fado e todo o sentimento inerente. A palavra ‘saudade’ que é tão portuguesa e que não tem tradução para nenhuma outra língua. Mostrei-lhes diferentes fadistas, desde a Amália até à Mariza, e o sentimento que emerge das músicas, que também são a nossa identidade”.

Do outro lado, os alunos vão também trazendo alguma cultura ucraniana para dar a conhecer à escola. E, ao fim de mais de uma semana de aulas, o feedback tem sido positivo: “São meninos muito recetivos, empenhados e interessados, com um comportamento e empenho exemplares”, destaca Virgínia Machado, acrescentando que considera que a escola “além de os acolher, está a integrá-los”. “E isso nota-se nos corredores. Sempre que passo por esses dois meninos, eles estão sempre acompanhados por colegas”, sublinha.

Estamos preparados para os receber e eles também têm a abertura para nos receber, também estão predispostos para isso. Há essa recetividade a tudo aquilo que nós lhes podemos dar. Eles mostram-se curiosos em relação a tudo”, acrescenta esta professora que ensina cultura portuguesa aos dois alunos ucranianos que chegaram há pouco mais de duas semanas a Paredes.

Caso seja necessário, e apesar da barreira da língua, há também equipas preparadas para dar todo o apoio psicológico e emocional necessário a estes alunos. No final do dia, sublinha a professora, o importante é que os jovens “sejam integrados em todas as valências”. Francisco Queirós, o diretor desta escola, deixa também uma mensagem: “Os sítios que nunca estão desviados de lugar são as escolas. E talvez por isso seja mais simples e mais fácil que estas crianças, que estes jovens ucranianos se sintam bem acolhidos e bem integrados, porque se há sítio, lugar que é comum a quase todas as civilizações e onde nos reconhecemos é a escola”.

Sobre a disponibilidade da escola para receber mais alunos, caso seja necessário, o responsável refere que “a disponibilidade que a escola tem para receber refugiados de guerra é a mesma que tem para receber alunos portugueses que migrem de uma região de Portugal para esta, ou seja, absoluta e total”.