Primeiro foram telefonemas falsos, e agora chegam os vídeos. Na segunda-feira, o Reino Unido acusou a Rússia de ter feito chamadas falsas a ministros britânicos, fazendo-se passar por membros do governo ucraniano, e alertou para a possibilidade de virem a ser divulgadas versões alteradas do que foi dito nestas conversas para uma campanha de desinformação.
Não foi preciso esperar muito tempo: esta terça-feira foi publicado um vídeo no YouTube em que o ministro da Defesa britânico alegadamente discute as ambições nucleares da Ucrânia.
A chamada começa com Ben Wallace num carro, a iniciar a conversa com uma pessoa que se fez passar pelo primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal. Wallace diz estar na Polónia e o interlocutor responde “Ah, ok. Sim, eu sei”, e avança de seguida para a questão fulcral: “Gostaríamos de continuar o programa nuclear, de modo a proteger-nos da Rússia. É uma questão difícil, mas estamos a pensar começar”.
De acordo com o vídeo, que tudo indica estar editado, Wallace responde: “A Rússia ia odiar isso”. O interlocutor insiste: “Claro, sabemos disso, mas é uma das questões em que estamos interessados. Se nos puderem ajudar nesta matéria, seria muito importante”. O vídeo termina com Wallace a explicar que esse tipo de “grande questão” tem de ser discutida com o primeiro-ministro, mas que o Reino Unido “apoia a Ucrânia, como nossa amiga, nas escolhas que fizer”.
O ministro da Defesa britânico recorreu ao Twitter para garantir que o vídeo é falso: “As coisas devem estar a correr tão mal ao Kremlin que agora recorrem a partidas e vídeos falsos. Não são as ações de um governo confiante”.
Things must be going so badly for the Kremlin that they are now resorting to pranks and video fakes. Not the actions of a confident Government, but then again after the Salisbury Cathedral sightseeing story, anything is possible…..???????? pic.twitter.com/GE6B1VNGNt
— Rt. Hon Ben Wallace MP (@BWallaceMP) March 21, 2022
Ao jornal The Telegraph, Wallace disse que o vídeo da chamada foi cortado e manipulado, de modo a retirar partes da sua resposta, em que afirmou que o Reino Unido é signatário do tratado de não-proliferação de armas nucleares e não poderia ter nada que ver com expansão nuclear. O ministro classificou o vídeo como “total lixo cortado”.
De fora ficaram também as suas críticas a Vladimir Putin por ter invadido e anexado a Crimeia e comentários de apoio à imprensa livre, garante Wallace.
De acordo com o jornal The Telegraph, o vídeo foi publicado através da conta de Vladimir “Vovan” Krasnov, um russo que, em 2020, enganou o Duque de Sussex ao imitar a ambientalista Greta Thunberg.
O caso dos telefonemas falsos começou na semana passada, quando o ministro da Defesa britânico revelou ter recebido uma chamada de um “impostor” que se fez passar pelo primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal. “Ele fez várias perguntas enganadoras e depois de eu ter ficado desconfiado, desliguei a chamada”, explicou.
Today an attempt was made by an imposter claiming to be Ukrainian PM to speak with me. He posed several misleading questions and after becoming suspicious I terminated the call 1/2
— Rt. Hon Ben Wallace MP (@BWallaceMP) March 17, 2022
Governo britânico conversou com primeiro-ministro ucraniano que, afinal, era um impostor russo
De acordo com o Telegraph, durante a chamada telefónica, Wallace concordou em ter um reunião por Microsoft Teams com o alegado primeiro-ministro ucraniano, com quem nunca tinha estado. O ministro terá ficado desconfiado da situação quando homem, que aparecia na videoconferência, começou a fazer perguntas sobre a segurança do país, nomeadamente sobre um potencial destacamento de navios de guerra britânicos para o Mar Negro. Ao fim de “oito ou nove minutos” desligou a chamada por vídeo.
Horas mais tarde da revelação de Wallace, foi a ministra do Interior a fazer uma denúncia semelhante. O Telegraph indicou ainda que terá também havido uma tentativa de chamada para a ministra da Cultura, Nadine Dorries. Após uma investigação, o governo britânico concluiu que a Rússia tinha estado por trás destes telefonemas falsos.
Reino Unido culpa Rússia por telefonemas falsos a ministros britânicos