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Mapa da guerra. O que se sabe sobre o 29.º dia do conflito na Ucrânia

Este artigo tem mais de 2 anos

Os EUA preparam-se para a eventualidade de uma guerra nuclear; Zelensky participou em cimeiras em Bruxelas; novas sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia.

Bombardeamentos perto do cidade da cidade de Kiev. A Rússia, a mando do seu presidente, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia no passado dia 24 de fevereiro de 2022. Kiev, Ucrânia, 21 de março de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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Ataques russos continuam a atingir a Ucrânia diariamente

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ataques russos continuam a atingir a Ucrânia diariamente

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No dia em que se cumpre exatamente um mês desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reuniu-se ao mais alto nível com os parceiros ocidentais, através de um discurso perante os chefes de Estado e de Governo da NATO, e o medo de uma guerra biológica ou nuclear intensifica-se.

Os combates continuam a concentrar-se nas faixas fronteiriças a norte, leste e sul da Ucrânia, com uma grande parte da região sudeste do país atualmente sob controlo russo. A região em torno da cidade de Kherson, a norte da península da Crimeia (anexada pela Rússia em 2014), continua sob controlo russo; a cidade de Mariupol, por seu turno, continua totalmente cercada por forças russas e a sofrer um massacre de grandes dimensões. A norte, as cidades de Kharkiv, Chernihiv e Kiev são os grandes alvos da ofensiva russa, com as guarnições de Moscovo a avançar sobre aqueles pontos estratégicos.

A tarde ficou marcada pelas declarações dos líderes da cimeira que juntou a NATO e a União Europeia em Bruxelas. Também o Grupo dos Sete, que reúne os países mais industrializados do mundo, reuniu e emitiu uma declaração conjunta, na mesma linha do comunicado que a NATO fez depois desta reunião extraordinária – quando a invasão da Ucrânia pela Rússia já se arrasta há um mês.

Aqui fica um ponto de situação para compreender o momento atual da guerra. Para além de aqui, pode também acompanhar todos os desenvolvimentos da guerra, minuto a minuto, no liveblog do Observador. E seguir a cobertura dos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Pedro Jorge Castro e João Porfírio.

O que aconteceu durante a noite?

  • O presidente da câmara de Kiev diz que 75 civis já morreram na capital, desde o início da guerra, e 307 ficaram feridos, de acordo com o jornal Kyiv Independent. Entre os mortos contam-se quatro crianças. Há também registo de 16 crianças feridas.
  • A UNICEF revelou que mais de metade das crianças ucranianas já tiveram de abandonar as suas casas. De acordo com a agência da ONU, um total de 4,3 milhões de menores entre os estimados 7,5 milhões de crianças da Ucrânia já tiveram de abandonar o local onde residiam. Destas 4,3 milhões, cerca de 1,8 milhões saíram do país, enquanto 2,5 milhões foram deslocados internamente.
  • E com a guerra a fazer um mês, Zelensky decidiu publicar nas redes sociais Telegram e Facebook um vídeo onde faz um paralelismo da II Guerra Mundial com a guerra na Ucrânia, usando imagens dos dois conflitos para mostrar que “o mal” não desapareceu. E pedir para acabar com o “fascismo da Rússia”.
  • O repórter do Observador João Porfírio, que se encontra na Ucrânia, também juntou num artigo as imagens que captou no último mês no terreno.
  • O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse não estar “otimista” que o Presidente russo queira a paz. Disse também que Vladimir Putin quer destruir as grandes cidades ucranianas, como aconteceu na guerra da Chechénia. “Penso que é um erro trágico”, descreveu o líder britânico, que apontou que, por isso, é “necessário que o Ocidente faça mais”.
  • A Ucrânia acusou Moscovo de ter forçado 400 mil civis a abandonarem o território ucraniano para ir para a Rússia, temendo que estas pessoas possam ser usadas como moeda de troca por Kiev, avançou a Associated Press. Os números batem certo com aqueles que a Rússia diz serem os que quiseram abandonar a Ucrânia, sobretudo residentes em Donestk e Luhansk (a região separatista no leste da Ucrânia já disputada há anos pela Rússia). Mas na tese da Rússia, estes civis são pró-russos e foram voluntariamente para o território russo, onde receberam mesmo alojamento gratuito.
  • Os EUA estão disponíveis para acolher 100 mil fugitivos. A administração de Biden anunciou também que disponibilizará “mais de mil milhões de dólares [mais de 908 milhões de euros] em financiamento adicional” para reforçar a ajuda humanitária na Ucrânia.
  • E poderá haver uma data para o fim da guerra: 9 de maio, o dia em que as tropas alemãs foram derrotadas no final da II Guerra Mundial. Isto segundo o que apurou o Kyiv Independent junto dos serviços de informação ucranianos.
  • O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, avisou esta quinta-feira que a proposta da Polónia de enviar tropas da NATO para manutenção de paz na Ucrânia pode significar o início da III Guerra Mundial. “Compreendem que isso seria a III Guerra Mundial? Acham que nos iríamos afastar?”, interrogou.
  • O Ministério da Defesa do Reino Unido diz que as forças ucranianas “lançaram ataques contra alvos valiosos em zonas ocupadas pelos russos, na Ucrânia, incluindo um ‘landing ship’ e depósitos de armazenamento de munições em Berdyansk”. O ministério britânico acredita que a Ucrânia vai continuar a atingir alvos logísticos em zonas controladas pelas forças russas.

O que aconteceu durante a tarde?

  • A NATO emitiu um comunicado em que assumiu estar“preocupada” com a entrada da China no conflito que opõe a Rússia à Ucrânia. “Pedimos a todos os Estados, incluindo a China, para seguir a ordem internacional incluindo os princípios de soberania e integridade territorial”. Os 30 países da NATO apelaram mesmo a Pequim que se “abstenha” de apoiar “o esforço de guerra da Rússia”. E deixaram um recado à Rússia: “Qualquer uso de arma biológica ou química seria inaceitável e teria consequências severas”.
  • A declaração conjunta do Grupo dos Sete, que reúne os sete países mais industrializados do mundo, foi no mesmo sentido da NATO. Os líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido dizem mesmo que “não vão poupar esforços” para responsabilizar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seus apoiantes – incluindo o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko. O seu apelo vai para as forças russas que abram “caminhos seguros” na Ucrânia para permitir ajuda humanitária a Mariupol e a outras cidades cercadas. E pedem às autoridades bielorrussas para que “evitem uma nova escalada e se abstenham de usar as suas forças militares contra a Ucrânia”.
  • No final das reuniões, o presidente norte americano Joe Biden disse apoiar a saída da Rússia do grupo das maiores economias mundiais (G20). E quer pelo menos que a Ucrânia possa assistir às reuniões. O presidente deu mais detalhes sobre a conversa com Xi Jinping, homólogo chinês, na passada sexta-feira. “Tive uma conversa muito honesta com ele. Disse-lhe claramente que apoiar a Rússia teria consequências”. Joe Biden chamou “bruto” a Vladimir Putin. “A coisa mais importante [das sanções] é mantermo-nos unidos”, tendo como objetivo que o “mundo se continue a focar” no seguinte: “Que tipo bruto é este” e por que motivo é que “todas as vidas inocentes se perderam” e “o que está a passar” na Ucrânia.
  • Também o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, aproveitou a sua intervenção pública para alertar para consequências “muito, muito severas”, caso o Presidente russo usasse armas químicas ou nucleares contra a Ucrânia. “Se Putin se fosse envolver com alguma coisa desse género, as consequências seriam muito, muito severas. Vou ter de ter alguma ambiguidade na resposta, mas acho que seria catastrófico para ele. Acho q ele compreende isso. Seria um profundo e desastroso erro para Putin”, disse. Apesar da insistência dos jornalistas Johnson não indicou se, nesse cenário, haveria intervenção da NATO.
  • O líder francês, Emmanuel Macron, na sua vez, disse que a NATO procura não dar à Rússia um “pretexto” para atacar o Ocidente. “Não queremos fazer nada que possa provocar a escalada da tensão”, justificou o Presidente. “Não vamos lutar contra a Rússia”, assegurou o líder que tem mantido várias conversas telefónicas com o seu homólogo russo, embora sem grande sucesso para a paz.
  • O chanceler alemão Olaf Scholz, por seu turno, afirmou que “as tropas russas têm de sair da Ucrânia”. “Isto é necessário para atingir uma solução sustentável para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia”, disse. Scholz apelou também ao Presidente Vladimir Putin que “aceite um cessar-fogo e permita corredores humanitários, para proteger os civis”. A Alemanha doou mais 370 milhões de euros em humanitária à Ucrânia
  • Em Portugal, a partir do Porto, Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de dar a sua opinião numa visita oficial. Aos jornalistas, o Presidente português disse considerar que o presidente russo, Vladimir Putin, cometeu um erro ao pensar que perante a sua decisão de tomar o território ucraniano iria conseguir dividir a União Europeia e a própria NATO. “É evidente que falharam. “A NATO e a UE continuam unidas”, referiu, independentemente da ideologia de cada país e apenas pela “paz e pelo respeito do direito internacional, da soberania dos estados, dos direitos das pessoas”, acrescentou.
  • Já da Rússia a informação que chegou foi que o Kremlin considera que “exatamente um mês depois do início da operação militar especial na Ucrânia” a vida “está a voltar ao normal” nos territórios “já libertos dos nacionalistas” ucranianos. “Está a correr como planeado e os objetivos delineados serão alcançados”, declarou a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russos, Maria Zakharova, que espera que Kiev “reconheça a necessidade de uma solução pacífica”.
  • Um total de 140 países da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) votou a favor de uma resolução que pede ajuda humanitária imediata para a Ucrânia, ajudando a proteger os civis. A resolução também critica a Rússia por ter criado uma situação “dramática” humanitária. Apenas cinco países votaram contra: Bielorrússia, Coreia do Norte, Eritreia, Rússia e Síria, enquanto 38 abstiveram-se, incluindo a China, Cuba e a Índia. A ONU confirmou que pelo menos 1.035 civis morreram e 1.650 ficaram feridos na guerra da Ucrânia. E que cerca de 3,7 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início do conflito.

O que aconteceu durante a manhã?

  • Os chefes de Estado e de Governo dos países da NATO estiveram reunidos em Bruxelas durante praticamente toda a manhã, numa cimeira extraordinária para discutir a situação na Ucrânia, que contou com a intervenção, à distância, do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky;
  • Perante os líderes da NATO, Zelensky afirmou que a aliança “ainda tem de provar o que pode fazer para salvar pessoas“, disse sentir que a Ucrânia está “zona cinzenta entre o Ocidente e a Rússia” e apelou aos aliados que forneçam ajuda militar “sem restrições” à Ucrânia, única maneira de ajudar o país a resistir à invasão russa;
  • Na mesma intervenção, Zelensky acusou a Rússia de usar bombas de fósforo, uma arma ilegal e proibida pelo direito internacional, contra civis ucranianos;
  • Os desejos de Zelensky foram ouvidos, mas apenas parcialmente. Após a cimeira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que os líderes da aliança acordaram em enviar mais apoio defensivo à Ucrânia, nomeadamente através do envio de quatro novos contingentes para a Bulgária, a Roménia, a Hungria e a Eslováquia. A NATO vai também dar assistência à Ucrânia no campo da cibersegurança e na proteção contra ameaças químicas, biológicas e nucleares;
  • À saída da reunião da NATO, o primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que os EUA podem dar um “contributo muito relevante” no abastecimento de gás à Europa, na sequência do corte com os combustíveis russos. Costa disse também que uma das derrotas de Putin “foi ter dado uma nova vida à NATO”;
  • Antes de falar aos líderes da NATO, Zelensky tinha falado, por videoconferência, aos deputados do Parlamento sueco, numa intervenção em que afirmou que a Ucrânia merece “ser um membro de pleno direito da União Europeia”;
  • A câmara municipal da cidade ucraniana de Mariupol, cercada há várias semanas pelas forças russas, diz que a Rússia está a deportar à força milhares de cidadãos ucranianos para regiões longínquas da Rússia. Já terão sido deportados cerca de 6 mil ucranianos;
  • O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse numa entrevista à televisão espanhola TVE que a Rússia não está interessada em negociar um cessar-fogo na Ucrânia, porque ainda não atingiu o seu objetivos militares;
  • O Reino Unido alargou a lista de pessoas e empresas russas sujeitas a sanções económicas, incluindo uma enteada de Sergey Lavrov (ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia), o Grupo Wagner (milícia privada com fortes ligações ao Kremlin) e a maior produtora de diamantes do mundo;
  • Os Estados Unidos avançaram com um novo pacote de sanções à Rússia que vão atingir empresas de defesa, membros do Parlamento e o diretor executivo do maior banco do país;
  • O embaixador russo em Varsóvia acusou a Polónia de congelar as contas bancárias da embaixada por poderem vir a financiarem atividades terroristas ou branquear capitais;
  • A bolsa russa reabriu ao fim de um mês sem negociações com as ações das empresas de energia a puxar o índice de referência para cima. O MOEX da bolsa de Moscovo chegou a valorizar 11% e seguia ao final da manhã a subir 4%;
  • O governo alemão anunciou a possibilidade de “suspender” o encerramento de algumas centrais a carvão para substituir o gás russo, mas mantém o objetivo de deixar esta energia fóssil em 2030;
  • O porta-voz do Kremlin confirmou que o oligarca russo Roman Abramovich, o dono do Chelsea, participou na fase inicial das negociações entre a Rússia e a Ucrânia, mas que as discussões estão agora a ser conduzidas diretamente entre as duas delegações;
  • Na mesma conferência de imprensa, o porta-voz do Kremlin acusou Boris Johnson de ser “o participante mais ativo na corrida para ser anti-russo”;
  • Vladimir Putin foi convidado para estar na próxima reunião do G20, em novembro, na Indonésia, mas o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, insurgiu-se contra a presença de Putin. “Penso que precisamos de ter pessoas na sala que não estejam a invadir outros países”, disse;
  • A UNICEF anunciou que cerca de 4,3 milhões de pessoas já foram forçadas a abandonar as suas casas por causa da guerra na Ucrânia;
  • O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, apelou aos países ocidentais que não cedam às “exigências humilhantes de Putin” para que os pagamentos de petróleo e gás natural oriundos da Rússia sejam pagos em rublos, argumentando que isso seria “ajudar a Ucrânia com uma mão e ajudar os russos a matar os ucranianos com outra”;
  • A China recusou as acusações de que está a ajudar a Rússia a espalhar desinformação sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Ucrânia, ao mesmo tempo que repetiu as alegações infundadas de Moscovo sobre laboratórios secretos de guerra biológica norte-americanos;
  • A vice-primeira-ministra ucraniana anunciou que vão ser abertos sete corredores humanitários para retirar civis da Ucrânia;
  • A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, escreveu um artigo de opinião para o The New York Times no qual recordou a história da deportação forçada da sua família por parte das autoridades da União Soviética, comparou Putin a Hitler e pediu um reforço da presença militar da NATO nos países que fazem fronteira com a Rússia.

O que aconteceu durante a noite?

  • O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez uma antevisão daquilo que seria a sua participação, esta quinta-feira, em três cimeiras internacionais que decorrem em Bruxelas: a dos líderes da NATO, a do G7 e a do Conselho Europeu. “Nestas três cimeiras, vamos ver quem é amigo, quem é parceiro e quem nos traiu por dinheiro”, disse Zelensky;
  • O porto de Berdyansk, cidade costeira no sul da Ucrânia que está sob ocupação russa, está na manhã desta quinta-feira em chamas, de acordo com informações divulgadas pelo governo ucraniano. Ainda se sabe pouco sobre o incêndio, mas o Ministério da Defesa ucraniano diz ter destruído um navio da Marinha russa;
  • Já em Bruxelas para a cimeira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, avisou o Kremlin de que “qualquer uso de armas químicas vai mudar dramaticamente a natureza do conflito, é uma violação da Lei Internacional que terá consequências severas“;
  • Na noite de quinta-feira, o The New York Times noticiou que os Estados Unidos estão a delinear planos de contingência para o caso de a Rússia levar a cabo ataques com armas químicas, biológicas ou nucleares. A Casa Branca terá mesmo nomeado conselheiros de segurança nacional para traçarem cenários e anteciparem como os EUA e a NATO deve responder;
  • Num balanço operacional divulgado esta manhã, a Ucrânia acusou a Rússia de usar a guarda nacional para “aterrorizar” a população local na região ocupada de Kherson;
  • Já morreram 977 civis, incluindo 81 crianças, desde o início da guerra na Ucrânia, de acordo com dados da ONU. A guerra já deu origem a 3,6 milhões de refugiados;
  • O Reino Unido vai duplicar a assistência militar à Ucrânia, enviando 6 mil mísseis defensivos e 25 milhões de libras (30 milhões de euros) para ajudar a Ucrânia a pagar aos militares.

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