O périplo caribenho não ficou imune a polémicas, entre pedidos de reparação história e outros episódios que deram que falar, e que obrigaram mesmo a escritora Lisa Hanna a justificar-se num artigo para o The Guardian depois de um momento embaraçoso. Aliás, pelo avolumar de episódios, dir-se-ia que todo ele se tornou numa enorme polémica, dado o indisfarçável mal estar gerado. Há mesmo quem se interrogue se depois desta “visita paternalista e ultrapassada” há futuro para a Commonwealth. E quem enumere alguns dos muitos passos em falso nos últimas dias — se no Belize uma visita a uma fazenda de cacau foi bruscamente interrompida devido a protestos, na Jamaica o primeiro-ministro anunciou sem cerimónias que o país tenciona “afastar-se” da monarquia britânica. Houve até quem especulasse que a operação de charme teria corrido melhor com Harry e Meghan.
Nada que não mereça tratamento por parte do próprio senhor que se poderá seguir um destes dias no trono. Quase ao cair do pano da deslocação, numa receção oferecida pelo Governador Geral das Bahamas, o príncipe William reservou algumas palavras especiais para o discurso desse serão. Por um lado, para recordar as doces memórias de infância, quando fez férias no país com a sua mãe, Diana de Gales, por outro, deixando um sinal claro (e provavelmente inevitável) de apoio às nações visitadas, caso decidam seguir as pisadas dos Barbados num futuro próximo. “Apoiamos com orgulho e respeito a vossa decisão sobre o vosso futuro. As relações evoluem. A amizade continua“. Nesse ajuste de contas entre passado, presente e futuro, o príncipe vai mais longe, admitindo a hipótese de não vir a suceder à sua avó, a rainha Isabel II, nem ao pai, o príncipe Carlos, na liderança da Commonwealth.
Mas nem só de acolhimentos menos calorosos ou controvérsia se fez a viagem dos duques de Cambridge, que no passado dia 19 aterravam no aeroporto internacional Philip S. W Goldson, no Belize. Um momento em que o azul com assinatura Jenny Packham, uma das suas criadoras preferidas, assinalou o arranque da visita. Em deslocações como estas, o interior da bagagem real assume tanto peso como as entradas na agenda oficial e o resultado é uma seleção de fotos em que o destaque vai para o guarda-roupa escolhido, com uma clara vantagem para as senhoras, pela diversidade que assiste o projeto de styling.
Para completar o look do primeiro dia, eis uns brincos de safira e o colar que terá sido retrabalhado a partir de uma peça que pertenceu à sua sogra, Diana, Princesa de Gales. O tom voltaria a ser o eleito de Kate no dia seguinte, agora num formato mais floral e descontraído, de Tory Burch, quando o casal visitou Hopkins, pequena vila do país e centro cultural da comunidade Garifuna. A clutch Anya Hindmarch e os brincos da popular marca francesa Sézane também saltaram à vista.
Em modo prático, prontos para um dia de descoberta ao ar livre, o par circulou por Caracol e por uma icónica zona arqueológica nas profundezas da floresta Chiquibul — e haveria de adotar um figurino ainda mais inesperado quando alinhou num mergulho numa barreira de coral.
On Sunday, we were lucky enough to spend time diving at South Water Caye, directly above the spectacular Belize Barrier Reef. It was a privilege to see for ourselves the world-leading ocean conservation work being done here. pic.twitter.com/BdKzU3TOsi
— The Prince and Princess of Wales (@KensingtonRoyal) March 22, 2022
Foi num longo vestido rosa metálico, no dia 21 de março, para assistir à receção oferecida pelo Governador do Belize em Cahal Pech, que os olhos mais se terão virado para a duquesa. A peça The Vampire’s Wife foi conjugada com uns sapatos Jimmy Choos e um clutch artesanal que homenageava os locais.
Na despedida do Belize, para mais um look de aeroporto, Kate Middleton foi ao armário e recuperou uma peça já usada, o casaco encarnado estilo trench Yves Saint Laurent, que terá comprado quando ainda estudava na Universidade de St Andrews. Já à chegada à Jamaica, num piscar de olhos à bandeira do país, Kate trocou de figurino e impôs a sua vibrante presença com um longo e vaporoso vestido amarelo Roksanda. De resto, o estilo soalheiro marcou as diferentes aparições da mulher de William ao longo da última semana, dividindo-se entre looks diurnos mais descontraídos e ajustados ao programa da visita e outros mais inclinados à formalidade, para um registo cerimonial que também seduziu as objetivas.
De novo ousando no uso da cor, a 22 de março, com um vestido atribuído à marca Willow Hilson Vintage, em Cheltenham (e sapatos bege Russel & Bromley), a duquesa pisou a jamaicana Trench Town preparada para deslumbrar o berço da música reggae, numa escala em que a agenda incluía o encontro com jovens futebolistas e uma passagem pelo Museu da Cultura, no espaço onde Bob Marley chegou a viver.
Na quarta-feira, para se reunir em Kingston com o primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, e a sua mulher, Juliet, o fato branco cruzou-se com a blusa e a carteira laranjas. À noite, num jantar oferecido pelo Governador Geral, os requisitos de formalidade foram cumpridos com um vestido verde até aos pés, de novo da predileta Jenny Packham, e mais uma vez ativando a memória da bandeira do país anfitrião. O serão ficou marcado pela intervenção do príncipe William, no seu fato escuro, que reconheceu a responsabilidade britânica na “terrível atrocidade da escravatura”, para mais um momento delicado nesta semana de charme.
No dia seguinte, quinta-feira, numa demonstração das forças da defesa jamaicanas, o casal passeou-se no mesmo Land Rover em que a Rainha Isabel II e o príncipe Filipe foram conduzidos quando visitaram a Jamaica, em 1953 — e não escaparam a acusações locais de caricaturizarem a inspeção às tropas, numa evocação do passado colonialista. O duque exibiu o uniforme militar e a duquesa acenou ao público com o seu Alexander McQueen branco — no braço, uma pulseira de pérolas que pertenceu a Diana.
Para a despedida da Jamaica, Kate Middleton resgatou um vestido verde Emilia Wickstead que estreou no ano passado no torneio de Wimbledon. Quanto às joias, destaque para uma pregadeira da Rainha, oferecida à duquesa pela soberana, que por sua vez recebera a peça em questão durante uma visita em 2002 àquele país.
O casal aterrou por fim nas Bahamas para aquela que foi a derradeira escala do périplo. A duquesa pisou o aeroporto internacional Lynden Pindling, em Nassau, com um vestido azul turquesa. Os últimos dias foram marcados pelo look desportivo com que participou na regata do Jubileu de Platina em Montagu Bay, pelo registo esvoaçante em tons verde água com que se apresentou numa receção formal em Nassau, e pelo vestido rosa com que colocou as mãos na massa num típico fish fry, rodeados de marisco — e que num momento que deixou William boquiaberto provou “conch”, molusco conhecido como “o viagra das Bahamas”, pelo poder afrodisíaco. Para a história, passa também a visita a Abaco, zona especialmente fustigada pelo furacão Dorian, em 2019.
Inscrita na celebração do Jubileu de Platina da Rainha Isabel II, a tour dos Cambridge prolongou-se até dia 26 de março, com o casal a rumar a um destino visitado pelo príncipe Harry em 2012, então por ocasião do Jubileu de Diamante de sua majestade. Entre as viagens reais já realizadas por Kate e William, estão a Nova Zelândia, a Austrália, o Canadá e os EUA. A caminho de completar 96 anos, no próximo mês, a rainha Isabel II mantém-se chefe de Estado de 15 países da 15 Commonwealth.