A vereadora da CDU na Câmara do Porto, Ilda Figueiredo, e o presidente da autarquia, Rui Moreira, acusaram-se este domingo mutuamente de confundir a posição comunista sobre a Ucrânia com a não realização de um concerto no Rivoli.
“Eu estou aqui a falar-lhe em nome do CPPC [Conselho Português para a Paz e Cooperação]. Acho lamentável, inaceitável, que o presidente da Câmara confunda tudo. Confunda o CPPC com o PCP [que integra a CDU juntamente com o PEV], porque não é. O Conselho Português para a Paz e Cooperação é uma organização unitária, em que, por acaso, eu sou presidente da direção, mas é unitária”, disse à Lusa Ilda Figueiredo.
Em causa está a realização de um concerto que estava programado para o Rivoli na tarde deste domingo, organizado pelo CPPC, mas, segundo avançou o Jornal de Notícias no sábado, a Câmara do Porto não autorizou a cedência do Teatro Municipal para o evento.
No entender do presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, a confusão entre a estrutura partidária e o CPPC foi provocada pela própria vereadora, ao “apresentar uma moção ao executivo da Câmara do Porto que vinha assinada pela CDU e pelo CPPC”, disse à Lusa.
De acordo com a moção, a que a Lusa teve acesso, a assinatura é feita pela “vereadora da CDU” Ilda Figueiredo, e o seu conteúdo contém um cartaz do CPPC, remetendo para uma manifestação no dia 10 de março.
“A verdade é que essa moção foi recusada por 11 dos 13 membros do executivo municipal, que consideram absolutamente inaceitável a tentativa de branqueamento que a CDU e a CPPC estão a fazer e que, no fundo, corresponde à posição que o Partido Comunista tem tomado durante as últimas semanas”, disse Rui Moreira.
Numa resposta escrita prévia do presidente da Câmara à vereadora, a que a Lusa também teve acesso, Rui Moreira assinala que o CPPC “tem todo o direito de realizar este concerto num outro espaço público ou privado”, mas a Câmara “jamais o poderá patrocinar”.
O CPPC acabou por realizar este domingo uma iniciativa no exterior do teatro, na Praça D. João I, denominada ‘Parar a guerra! Dar uma oportunidade à Paz!’, que incluiu momentos culturais com vários artistas.
Segundo Ilda Figueiredo, “há vários anos que o Conselho Português para a Paz e Cooperação faz concertos pela paz no Rivoli, como faz noutras cidades do país, e já fez este ano”.
De acordo com Rui Moreira, a autarquia, ao longo dos anos “foi permitindo sempre com alguns dissensos” e, este ano, segundo Ilda Figueiredo, “estava acertada a data para este domingo à tarde, às quatro da tarde”.
“Foi tudo programado, foram contactados os grupos, foi feito um cartaz que não chegou, depois, a vir para a rua, porque eles congelaram internamente”, disse à Lusa a presidente do CPPC, garantindo desconhecer as razões para a não realização do concerto, “a não ser a diferença de opiniões, o que de facto é lamentável, no mínimo”.
Para Rui Moreira, “aquilo que a senhora vereadora Ilda Figueiredo queria era que nós tivéssemos cedido o Teatro Rivoli e, além disso, tivéssemos promovido ‘flyers’ e um conjunto de outras despesas que representavam qualquer coisa como 9 ou 10 mil euros para a Câmara”.
Frisando que “não é uma questão de proibir”, o presidente portuense considera “não se justifica é que a Câmara Municipal, em que uma esmagadora maioria é contra a interpretação que eles fazem da situação política atual, esteja a patrocinar um evento desta natureza”.
“Naturalmente nós havemos de voltar ao Rivoli, porque os presidentes passam mas a luta pela liberdade, pela democracia e pela paz continua”, disse Ilda Figueiredo este domingo à Lusa.
Rui Moreira entende que a realização do concerto nas atuais circunstâncias “seria pelo menos uma forma de patrocinar uma instituição que vive na esfera do Partido Comunista”.
Frisando que “não tem nada a ver”, Ilda Figueiredo sublinhou que o CPPC “sempre esteve contra a guerra” e “o que é necessário é a negociação, a paz”, bem como “a diplomacia, a solidariedade”.
“Alguma vez foi proibido, no Portugal democrático, que um vereador não pudesse pertencer a uma associação? Ainda por cima nem sequer sou vereadora a tempo inteiro. E, aliás, na Câmara do Porto isso nunca foi problema. Nós fazemos os concertos há muitos anos, todos os anos”, insistiu.