A banca portuguesa demonstrou “resiliência” ao longo da pandemia, de um modo geral, mas a DBRS avisa que “poderá demorar algum tempo” até que alguns créditos que estiveram sob moratória possam entrar em situação de incumprimento. A agência de rating diz que é preciso estar atento aos impactos “pós-Covid” e acompanhar os riscos associados à subida das taxas de juro, o aumento dos custos energéticos nas empresas, as dificuldades nas cadeias de abastecimento e a evolução do conflito na Ucrânia.

Em relatório difundido esta quarta-feira, a DBRS Morningstar salienta que, “mesmo apesar da pandemia, o stock de crédito malparado [NPL, na sigla anglo-saxónica] continuou a baixar, graças à continuação das vendas de ativos problemáticos antigos”. O rácio (agregado) de NPL na banca portuguesa caiu, em média, para 4,7% no final de 2021, contra 5,9% no ano anterior e abaixo do patamar psicológico importante de 5%.

“Ao mesmo tempo, o fim da maioria das moratórias (em setembro de 2021) não resultou num aumento brusco dos novos créditos em dificuldades”, diz a DBRS, sublinhando que essa é uma análise que é válida “pelo menos neste momento”. A cautela da DBRS justifica-se pelo facto de ter havido “um aumento da percentagem dos empréstimos que estão classificados em Stage 2″ e que anteriormente estiveram sob moratória.

Em causa está a qualificação que os bancos têm de fazer, nos termos das regras contabilísticas em vigor, sobre cada empréstimo que concedem e sobre o risco de que cada um desses empréstimos sofra um incumprimento. O modelo prevê que os bancos classifiquem esse risco numa escala de três stages, ou “níveis”, que, simplificando, pode ser comparada a um semáforo: stage 1 é a luz verde, onde não se preveem problemas; stage 2 é a luz amarela, onde está sinalizado algum risco; e stage 3 corresponderia à luz vermelha, onde os riscos são por demais evidentes.

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A DBRS nota que houve um aumento médio de oito pontos percentuais na proporção de empréstimos classificados como stage 2, o que justifica uma “expectativa de uma deterioração moderada da qualidade dos ativos no médio prazo”. Por outras palavras, a DBRS argumenta que a solidez de alguns desses créditos poderá ficar em causa, sobretudo se as condições económicas não forem as mais favoráveis.

Há alguns setores, como a hotelaria e parte da indústria manufatureira, que ainda não recuperaram totalmente”, afirma a DBRS.

A agência de rating também salienta que a exposição direta da banca portuguesa à Rússia é “limitada” – cerca de 186 milhões de euros, em termos brutos, segundo os dados do BIS noticiados pelo Observador a 23 de fevereiro. Porém, “não podemos excluir o risco de potenciais efeitos indiretos negativos, tendo em conta o contexto macroeconómico”, afirma a DBRS, acrescentando outros riscos como os associados à ciber-segurança.