Um planeta gigante gasoso, batizado com o nome AB Auriagae b e fotografado pelo telescópio espacial Hubble, está a desafiar as teorias de formação planetária. Tem uma massa nove vezes superior à de Júpiter, e o “processo de nascimento ainda está no início”, diz o astrofísico Thayne Currie, do Telescópio Subaru e do centro de investigação Ames da NASA, e principal autor do trabalho, citado pela agência de notícias Reuters.

O estudo foi publicado esta segunda-feira na revista Nature Astronomy, e os resultados tiveram em conta imagens captadas com o telescópio terrestre Subaru, no Havai (Estados Unidos da América).

O pensamento convencional é que a maioria – se não todos – os planetas formam-se pela lenta acreção [acumulação por gravidade] de sólidos num núcleo rochoso, e que os gigantes gasosos passam por esta fase antes que o núcleo sólido esteja massivo o suficiente para começar a acumular gás”, explicou o astrónomo e co-autor do estudo Olivier Guyon, astrofísico do telescópio Subaru e da Universidade do Arizona.

Ou seja, julga-se que os gigantes gasosos como Júpiter ou Saturno — os maiores planetas do Sistema Solar — se formam no início do nascimento de uma nova estrela, quando as rochas e os gelos se acumulam em blocos tão grandes que atraem para si enormes quantidades de hidrogénio e hélio.

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Esta teoria, contudo, não se pode aplicar a AB Auriagae b. Quase todos os exoplanetas conhecidos orbitam as suas estrelas dentro da distância entre o nosso Sol e o planeta Neptuno. Só que este planeta orbita a sua estrela, a AB Auriage, a três vezes a distância de Neptuno ao Sol e 93 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

A uma distância tão grande da estrela, levaria muito tempo — se é que algum dia aconteceria — para um planeta do tamanho de Júpiter se formar por acreção de sólidos no núcleo (força gravitacional é inferior). Além disso, a estrela tem cerca de dois milhões de anos em comparação com os cerca de 4,5 biliões de anos do nosso sol (e é quase 60 vezes mais brilhante).

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Este processo não pode formar planetas gigantes a grandes distâncias orbitais, então esta descoberta desafia a nossa compreensão da formação de planetas”, reiterou Guyon.

Em vez disso, os cientistas acreditam que AB Auriagae b dá sustentação a outra teoria sobre a formação de planetas gasosos gigantes. Segundo o modelo da instabilidade, há determinadas características de órbita e temperatura que permitem aos gases acumularem-se num planeta sem um núcleo rochoso.

Então, este corpo está a formar-se num cenário em que o disco ao redor da estrela esfria e a gravidade causa a sua fragmentação e, posteriormente, esses fragmentos originam planetas. Currie finalizou, brincando: “Há mais de uma maneira de cozinhar um ovo. E, aparentemente, pode haver mais de uma maneira de formar um planeta semelhante a Júpiter”.