Seria o confinamento uma boa altura para lançar uma marca de roupa? Mariana, Inês e Marta acharam que sim. Estavam fechadas em casa com os filhos e aproveitaram o momento de incerteza para dar asas a um projeto que as desassossegava há já algum tempo: a Sisters Department, uma marca de roupa feminina. Na bagagem levam já uma década a fazer roupa de criança, com a marca Piupiuchick, mas já lá iremos.
Agora, tal como em 2012, vivem-se tempos desafiantes, mas isso não as assustou. Pelo contrário. “Quando a vida corre bem, introduzir um elemento que vá mexer não é tão sexy. Quando há um problema já é mais fácil. Andamos a pensar na Sisters há tanto tempo. Isto está tudo um caos, porque não?” Mariana e Inês Pimentel são irmãs, Marta Machado Moreira é amiga e juntas são o rosto de ambas as marcas. Mariana é responsável pela comunicação, marketing e retailer, ou seja, pela relação com as lojas. Inês trata do design e acompanha a produção das peças. A Marta cabem os assuntos relacionados com a gestão. Dizem que em tempos de crise, sentem uma força extra. “Entramos em espírito de missão nas alturas difíceis.”
A ideia começou a ganhar forma nos ateliers. “Fui eu que comecei a aliciá-las”, conta Inês, “porque, enquanto criadora, a Piupiuchick dá-nos imenso gozo, mas tem uma génese tão forte que não nos é difícil seguir coleção após coleção. Um criador está sempre à procura de coisas novas”. Além disso, muitas clientes lhes pediam uma versão da roupa Piupiuchick para mais velhos, contudo as fundadoras nunca colocaram a hipótese de aumentar a marca de criança para adulto. Então a solução só podia ser criar uma nova marca.
O nome Sisters Department já estava há muito decidido e não reflete o espírito de irmandade das fundadoras, mas é sim uma homenagem à amizade entre amigas. Contam que, com a idade e com os filhos a crescer, estão a voltar a ter tempo para estarem juntas. Porque, afinal, sublinha Mariana: “estivemos dois anos fechadas e privadas desses momentos de amizade”. Definem a cliente Sister Department como “uma de nós”, mas acrescentam que está em contraciclo com o slow living, que esteve muito presente nestes últimos dois anos e que é para “mulheres que gostem de se divertir, estar com as amigas, sair à noite, viajar, mulher de família também, claro.”
Cada coleção é criada sobre um tema que esteja relacionado com experiências que se tem com amigas e contará uma história. Primeiro pensaram em criar uma gama de peças completa, mas afinal optaram por começar com uma marca pequena, apenas com t-shirts, sweatshirts e alguns acessórios. A ideia é ir crescendo e aumentando a gama. Serão lançadas duas coleções por ano. A primeira, chama-se Partners in Crime e retrata um fim de semana fora entre amigas, está disponível desde o final de janeiro e a segunda, a coleção de inverno, chegará em julho.
A aventura das três amigas no universo têxtil começou há mais de uma década, com a marca para crianças. Piupiuchick, que começou a ser pensada em 2011. “Tudo vem da maternidade”, começa Mariana a contar, porque as três começaram a ser mães e foi quando andou em busca de umas jardineiras para o seu bebé e não encontrou que a ideia surgiu em conversa: “porque é que não fazemos nós umas jardineiras?”. O tema passou a tópico recorrente e o projeto foi avançando. Contudo, para passar das ideias à prática a questão impunha-se: “Se queremos fazer umas jardineiras começamos por onde? A Inês tem um cunhado que é agente têxtil e tinha muita experiência na área e foi-nos dando a conhecer todo o processo, por onde se começa, quem é quem.” Andaram um ano “a magicar”.
Tudo começou no Facebook, onde anunciaram que teriam uma nova marca, sem explicar, no entanto, do que se tratava para manter o fator surpresa. Criaram um buzz na rede social e conseguiram uma legião de seguidores sem terem ainda conteúdo. Mas acreditaram nos prazos que lhes foram dados pela produção e a contagem decrescente de duas semanas tornou-se numa esticada espera de cerca de dois meses. Não foi uma estratégia, mas sim um contratempo que, afinal, se revelou um verdadeiro aguçar de apetite para a coleção. E quando a lançaram, mesmo sem experiência nenhuma, venderam tudo rapidamente.
Nenhuma das empreendedoras tinha experiência na área têxtil. Mariana é engenheira do ambiente e trabalhava numa empresa de consultoria em Lisboa. Marta é designer de interiores e Inês é arquiteta e ambas trabalhavam juntas numa empresa que ainda têm, a Moopi, que se dedica a arquitetura e decoração de interiores, no Porto. “Quando nos metemos nisto foi sempre com o propósito de criar uma marca a sério. Nunca foi para nos entretermos. Nós as três trabalhávamos e estávamos satisfeitas. Foi exatamente o contrário”. Acumularam a Piupiuchick com os trabalhos que já tinham e trabalhavam na marca à noite e no fim de semana. “Pensámos que nos íamos meter numa trabalheira, porque nos próximos anos não íamos receber ordenado desta marca, porque as marcas precisam de tempo para crescer”, explica Mariana.
E quanto ao nome da marca, não é fruto de uma história curiosa, esse sim é o resultado de uma estratégia. “Quando começámos a Piupiuchick o nosso capital social era de 300 euros, investimos 100 euros cada uma. Sabíamos que o online e o marketing digital estavam a ser tendência e uma empresa tão pequena não teria orçamento para marketing online.” Pensaram que, se a marca fosse uma palavra de alguma língua do mundo, iam competir com infinitos resultados nas pesquisas em motores de busca, por isso focaram-se em encontrar “uma palavra que soasse bem e não quisesse dizer nada em lado nenhum”. Foi difícil, não consensual, e não se sentiram convencidas durante algum tempo, mas “Piupiuchick” tinha a vantagem de ter os domínios online todos disponíveis. Hoje já gostam do nome e até acham que faz parte do sucesso da marca. E mesmo que muitas pessoas não acertem na ortografia, acabam sempre por encontrar a marca.
Com a Piupiuchick começaram por vender online e no Facebook, depois nasceu um pequeno showroom, seguiu-se a abertura de uma loja. Começaram também a marcar presença em feiras internacionais, que descrevem como experiências impactantes, porque estão presentes marcas de todo o mundo e cada uma aposta na criatividade para apresentar as suas coleções. “Num contexto destes, vende-se mais do que roupa, vende-se uma história e a própria marca.” Contam que uma vez apanharam boleia de uma amiga, buyer de roupa de mulher, e foram a Paris a uma feira internacional de roupa de adulto para ver como se experiencia um destes eventos naquele papel, ou seja, no lado oposto de que quem está a vender os produtos. Ao início, as dimensões do pavilhão e a quantidade de marcas causaram impacto, mas ao final do dia acharam que, caso avançassem com uma marca feminina, teriam algo a acrescentar e uma hipótese de vingar naquele contexto. A conclusão foi: “As marcas de mulher não contam histórias. São muito mais fiéis às tendências do momento do que à genética da marca”. E uma das apostas de ambas as suas marcas é precisamente contar histórias. Com a Piupiuchick a estratégia resultou e, atualmente, trabalham com cerca de 300 lojas pelo mundo todo.
Tanto uma como outra são 100% portuguesas, com a produção assegurada em solo nacional. “Não há nem um bocadinho de tecido que venha feito de lado nenhum.” e a sustentabilidade tem sido uma preocupação desde o início da aventura no universo têxtil. “Para nós a questão da sustentabilidade é muito mais do que uma questão tendência. Eu sou engenheira do ambiente de formação”, conta Mariana. “Estamos sempre a pensar como dar o passo à frente, porque ser orgânico já há muito tempo que deixou de ser sustentável, porque até o algodão orgânico tem uma produção pouco sustentável”. Acreditam assim que apostar na reciclagem de matéria têxtil existente será o caminho.
Tudo está concentrado no norte do país, das várias fábricas às quais subcontratam a produção ao novo escritório e armazém onde fazem o desenho, testes, logística e distribuição, na zona de Campanhã. A equipa, totalmente feminina, inclui sete pessoas no armazém, e uma na loja. Além do próprio site, as peças podem ser encontradas em 60 lojas multimarca pelo mundo inteiro, espaços onde a marca de criança abriu caminho e já estava à venda. Os principais mercados são Espanha, Bélgica, Holanda, França, Japão e estão ainda na Austrália, Kuwait ou Coreia do Sul.
100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.