O tetris é complicado. Com grupos parlamentares reduzidos a seis e cinco deputados, respetivamente, o PCP e o Bloco de Esquerda são agora obrigados a ajustar a maneira como trabalham no Parlamento à nova realidade. E essa reorganização traz novidades: no Bloco, uma das pastas mais importantes para o partido ficará nas mãos da própria líder, Catarina Martins; no PCP, a nova divisão também dá trabalho redobrado aos deputados, mas continua a deixar Jerónimo de Sousa de fora.

Do lado do Bloco de Esquerda, a principal novidade é que Catarina Martins passa a estar sentada numa comissão — o conjunto de deputados dos vários partidos que trabalha uma área setorial específica –, ao contrário do que acontecia antes.

De acordo com a lista que os bloquistas compuseram com a distribuição dos seus deputados, a que o Observador teve acesso, a líder do partido passa a ser diretamente responsável pelos assuntos da comissão da Saúde. É uma pasta crucial para o partido, sobretudo tendo em conta as bandeiras que o Bloco defendeu durante a última negociação orçamental e a campanha eleitoral — exclusividade dos médicos e reforço do SNS à cabeça.

Mais: com as últimas eleições, o partido deixou de contar com o seu ponta de lança para a Saúde, o deputado Moisés Ferreira, que perdeu o assento que tinha por Aveiro. Para piorar o cenário, também não conseguiu eleger um dos novos rostos que queria promover, o médico Bruno Maia, que estava colocado em terceiro lugar nas listas de Lisboa — e que se apresenta precisamente como um médico em exclusividade voluntária no SNS, representando assim na prática a bandeira que o Bloco quer defender.

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Desta vez Catarina Martins passa a assumir a pasta, ficando o deputado José Soeiro (o mais experiente do elenco bloquista) como suplente nessa comissão. A líder terá, ainda, assento numa outra comissão: a da Transparência, onde antes se sentavam os bloquistas José Manuel Pureza (que falhou a eleição, por Coimbra) e Pedro Filipe Soares.

Com a perda do lugar de terceira força política para o Chega, o Bloco fica agora sem a única presidência de comissão que tinha, a do Ambiente. Fica com essa vice-presidência (será Pedro Filipe Soares a assumir o cargo) e com a da comissão da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto (onde será representado por Joana Mortágua).

De resto, como é habitual quando os grupos parlamentares encolhem, o trabalho passa a ser distribuído por menos deputados, que saem mais sobrecarregados e passam a trabalhar áreas onde têm menos experiência. Se antes era habitual ver mais do que um deputado do Bloco sentado em cada comissão, agora as repetições só acontecem quando são suplentes — só há lugar para um deputado efetivo em cada pasta.

O líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, continua a ter assento em três comissões, mas é suplente noutras quatro; Joana Mortágua assume a liderança da comissão de Defesa (antes entregue ao ex-deputado José Vasconcelos), continua com a pasta da Educação e assume também a Cultura, Comunicação e Desporto. Mariana Mortágua continua na comissão de Orçamento e Finanças, mas junta-lhe a de Economia e ainda os Assuntos Europeus (não estava em nenhuma das duas); e José Soeiro continua a ser o responsável pela importante área do Trabalho, mas acumula com a Administração Pública e os Negócios Estrangeiros (onde também não estava antes).

PCP dá três comissões a cada um (com uma exceção)

Por seu lado, o PCP também viu a sua bancada encolher (de dez deputados para seis), ainda que de forma menos dramática do que o Bloco (que passou de 19 para cinco). Mesmo assim, os comunistas continuam a deixar o líder, Jerónimo de Sousa, de fora destas contas e a distribuir entre o resto dos deputados as comissões, como mostra o documento enviado ao Observador.

No elenco comunista, todos os deputados passam a acumular três comissões exceto Bruno Dias, que tem duas. São, ainda assim, pastas pesadas: a das Finanças e a do Ambiente. Na primeira, o PCP perdeu nestas eleições o deputado que estava responsável pela área (Duarte Alves), mas com Bruno Dias, que já era deputado, consegue assegurar alguma continuidade na pasta.

Na comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias (vulgarmente conhecida como “a primeira comissão”) regista-se a saída de um histórico, António Filipe, e com ela a entrada de uma jovem aposta do PCP, a deputada Alma Rivera (que já era suplente na mesma comissão e que acumula com esta pasta as comissões da Cultura — antes da ex-deputada não eleita Ana Mesquita — e da Transparência — onde estava o antigo líder parlamentar, também não eleito, João Oliveira).

De resto, a nova líder parlamentar, Paula Santos, encarrega-se dos Negócios Estrangeiros, da Economia e da Administração Pública, deixando a pasta da Saúde; essa será agarrada pelo deputado de Beja João Dias, também com Agricultura e Pescas e Defesa. Diana Ferreira, eleita pelo Porto, continuará a ser a aposta do PCP para a crucial pasta do Trabalho, que acumulará com os Assuntos Europeus e a Educação.

O PCP não tinha nenhuma presidência de comissão parlamentar; ficará agora com os segundos vice-presidentes em duas — Trabalho e Saúde.