Muitos dizem que a magia do futebol é a sua imprevisibilidade. São 90 minutos, 22 jogadores, bola no pé e, neste caso, duas equipas que (na luta pelos respetivos objetivos) estavam obrigadas a dar tudo dentro das quatro linhas. Ainda que com metas completamente antagónicas, Benfica e Famalicão entravam para este duelo no Estádio da Luz com pressão em cima dos ombros.

Os encarnados vinham de uma exibição bastante consistente frente ao eterno rival em Alvalade, duelo que conseguiram ganhar por 2-0. Foi uma vitória que permitiu às águias encurtarem a distância para os leões, fazendo com que o segundo lugar e o acesso direto à Liga dos Campeões fosse ainda um sonho possível (ainda que difícil de alcançar). “Estamos a seis pontos do Sporting, continuamos a não depender de nós para chegar ao segundo lugar. Sabemos que é complicado, mas é possível e temos de estar a nível alto para o conseguir. O que controlamos são os nossos jogos e a proposta é fazer 12 pontos nesses jogos”, afirmara Nélson Veríssimo, num repto para o que faltava na temporada.

Já os famalicenses procuravam um “balão de oxigénio” na corrida pela manutenção. O conjunto de Rui Pedro Silva vinha ao reduto das águias procurar conquistar pontos que dessem à sua equipa algum “fôlego” no limiar da linha de água. “Jogar com o Benfica, no Estádio da Luz, é uma motivação para qual jogador, técnico ou clube. Temos a nossa identidade e este é mais um jogo em que vamos tentar ser competitivos, para lutar pelo objetivo da manutenção, que tenho a certeza que vamos conseguir”, dissera o técnico do Famalicão.

Do lado dos encarnados, Veríssimo não podia contar com os dois extremos mais utilizados esta temporada, Everton Cebolinha (castigado) e Rafa (ainda lesionado). Face a estas ausências, Diogo Gonçalves e Gil Dias começaram de início nas alas. No centro do terreno, a novidade foi Paulo Bernardo. Na defesa continuou tudo igual, enquanto que, no ataque, Gonçalo Ramos manteve-se no apoio a Darwin Núñez. Do outro lado, Rui Pedro Silva não tinha Gustavo Assunção e Diogo Figueiras, ambos por castigo. De fora ficavam também Ivo Rodrigues e João Carlos Teixeira, neste caso por problemas musculares.

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O primeiro tempo começou em lume brando e com ambas as equipas a sentirem o peso das ausências e a falta de rotinas de algumas peças deste onze. Notou-se uma falta evidente da intensidade e criatividade por parte de jogadores como Rafa, Taarabt ou Everton. A grande dificuldade em perfurar a defensiva famalicense em bloco baixo acabou por ficar exposta pelo grande bloqueio encarnado que se fazia sentir no último terço. E os vários passes de Gonçalo Ramos, no papel de segundo avançado, eram espelho disso mesmo.

Ainda assim, aos 26 minutos, teve oportunidade de marcar. Depois de um ressalto e cabeceamento de Darwin para o centro da área, Ramos podia ter inaugurado o marcador mas o cabeceamento saiu por cima. Para além desta, houve apenas mais dois lances dignos de registo: Diogo Gonçalves aproveitou um excelente cruzamento de Grimaldo e uma grande abertura de Weigl, rematou forte mas a bola acabou por ser travada pela defesa famalicense (36′). Já no final do primeiro tempo, aos 41 minutos, houve novamente perigo na baliza famalicense com Diogo Gonçalves no remate e depois Gonçalo Ramos na recarga, ambas as tentativas travadas por Luiz Júnior. Sem espaço nas costas para Darwin e com uma incapacidade para sair em ataque organizado, as águias tiveram muitas dificuldades em criar lances de real perigo ao longo de toda a primeira parte.

O final do primeiro tempo acabou com um ligeiro ascendente por parte do conjunto encarnado. Ainda assim, com a evidência de que havia ainda muito a melhorar. Um jogo previsível, sem velocidade e com o Benfica a parecer uma equipa enferrujada. 

O segundo tempo trouxe um Benfica à procura do golo. Nélson Veríssimo tentou desde logo refrescar o flanco direito colocando André Almeida e Gil Dias no mesmo lado, tirando Gilberto do jogo. Foram várias as oportunidades protagonizadas pelos encarnados. Uma até com direito a nota artística: Paulo Bernardo ia marcando através de um pontapé de bicicleta, mas a proeza foi-lhe negada através de uma das figuras deste jogo, Luiz Júnior (70′). À medida que o tempo ia passando, as águias iam asfixiando cada vez mais os famalicenses, mas o que é certo é que do outro lado estava uma equipa bem preparada e extremamente competente a defender. Aos 81 minutos, pediu-se grande penalidade por mão na bola de Alex Nascimento mas o árbitro nada assinalou. Já ao cair do pano, Weigl desperdiçou uma grande oportunidade mesmo em frente à baliza, falhando completamente o remate (92′).

Depois da vitória em Alvalade e de uma expectável confiança por parte das águias, o Benfica deixou assim mais dois pontos pelo caminho na Primeira Liga (e muitas das explicações para o terceiro lugar entroncam nos pontos perdidos na Luz). Um duelo em que teve de assumir as despesas do jogo e não conseguiu fazê-lo. É certo que do outro lado esteve também uma “muralha” chamada Luiz Junior e um eixo defensivo famalicense de “pedra e cal”, mas, mais uma vez, os encarnados mostram claras dificuldades em contrariar blocos muito recuados e a responder em ataque organizado. Um ponto com um sabor amargo para o clube da Luz, mas que para o Famalicão sabe a ouro por ser essencial na corrida pela manutenção.