A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, apelou esta quarta-feira à abertura de um inquérito sobre a violência tribal em Darfur, que já fez pelo menos 213 vítimas mortais.

Em comunicado, Bachelet pediu investigações “rápidas, completas, imparciais e independentes” que garantam que nenhum responsável fique impune, sendo que são cada vez mais os mortos e deslocados devido aos conflitos étnicos nesta região do Sudão ocidental, massacrada pela guerra há décadas.

Os mais recentes confrontos duraram quatro dias, começando na passada sexta-feira em Krink, cidade habitada maioritariamente pela tribo massalit, minoria etnicamente africana, e estendendo-se à capital de Darfur Ocidental, El-Geneina.

Segundo a Coordenação Geral para Refugiados e Deslocados no Darfur, homens armados pertencentes a tribos árabes atacaram aldeias massalit como represália pela morte de dois dos seus congéneres.

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O governador de Darfur Ocidental, Khamis Abkar, afirmou na terça-feira, num vídeo, que, só no domingo, registaram-se “201 mortos e 13 feridos”, somando-se a oito mortos de sexta-feira e a outros quatro já na segunda-feira.

No mesmo vídeo, Abkar também acusou as forças governamentais encarregadas de manter a paz em Krink de se terem retirado “sem qualquer justificação”, à medida que os combates se intensificavam, no domingo.

A cidade de Krink “foi completamente destruída, incluindo as instituições governamentais” continuou o governador, reiterando que se tratou de “um crime contra a humanidade”.

Algumas testemunhas acusaram a milícia Janjawid, uma força irregular do governo sudanês, de orquestrar a violência.

Milhares destes paramilitares, utilizados pelo ditador Omar al-Bashir durante a longa guerra lançada em 2003 contra Darfur, juntaram-se nos últimos anos às Forças de Apoio Rápido (RSF) lideradas pelo general Mohammed Hamdane Daglo, número dois na hierarquia militar em Cartum desde o golpe de outubro.

Dezenas de pessoas foram mortas e centenas de casas queimadas em vários episódios de violência em Darfur nos últimos meses, de acordo com as Nações Unidas.

Confrontos entre pastores árabes e agricultores africanos por disputas de terra ou acesso à água mataram quase 250 pessoas entre outubro e dezembro últimos na região, de acordo com um sindicato de médicos pró-democracia.

A região tem sido devastada por uma guerra civil que começou em 2003 entre o regime da maioria árabe e insurgentes de minorias étnicas que alegavam discriminação.

Cerca de 300.000 pessoas morreram e quase 2,5 milhões foram deslocadas durante os primeiros anos de violência, de acordo com a ONU.

O Sudão, que em 2019 emergiu de 30 anos de ditadura sob o regime de Omar al-Bashir, foi palco de um golpe de Estado em 25 de outubro de 2021, que interrompeu o processo de estabelecimento de um governo civil para o período de transição até à realização de eleições.

Militares e civis tinham acordado um calendário para um processo de transição na sequência do derrube do regime de Al-Bashir em 2019, segundo o qual os generais deviam ter cedido a condução desse processo a meio do período de transição inicialmente estimado, mas o golpe militar liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan consumou uma “correção do curso da revolução”, segundo o próprio.

No Darfur, o vácuo de segurança criado pelo golpe de Al-Burhan está na origem do ressurgimento da violência.