Agora foi a vez de Dmitri Medvedev. “As máscaras caíram”, escreveu o antigo Presidente russo, que acusou a Polónia de “cobiçar” o território da Ucrânia. As mesmas acusações já tinham sido feitas pelo Kremlin quando Dmitry Peskov, o porta-voz, afirmou que a Polónia é uma “ameaça” à integridade territorial do país vizinho. Também o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, disse que alguns políticos polacos “estavam a afiar os sabres”. E porquê estas acusações? Por causa das declarações do Presidente polaco, Andrzej Duda.
A 3 de maio, durante uma celebração pública do Dia da Constituição, Duda falou da Ucrânia. “Será por décadas, se Deus quiser, por séculos, um estado fraterno para a República da Polónia”, disse, acrescentando que não haverá fronteiras entre os países. “Esta fronteira não existirá de fato, viveremos juntos nesta terra, nos reconstruindo e construindo a nossa felicidade e força comuns que nos permitirão resistir a todos os perigos, e todos terão medo de nos atacar no futuro.”
Em resposta, Lukashenko disse estar em causa “o desmembramento da Ucrânia” e, uma vez que considera que Kiev sozinha não será capaz de resistir à Polónia, pôs em cima da mesa uma outra hipótese: “Nós, os três povos eslavos, incluindo os ucranianos, teremos de defender a integridade da Ucrânia.” O terceiro país é a Rússia.
Já em abril, o chefe do Serviço de Inteligência Exterior da Rússia, Sergei Naryshkin, tinha acusado Polónia e Estados Unidos de estarem a criar um plano para que os polacos pudessem concretizar as suas “possessões históricas” na Ucrânia.
A reação da Ucrânia: a Polónia não apunhala pelas costas
“O espírito de Zhirinovsky mudou-se para Medvedev”, disse Mykhailo Podoliak, conselheiro do chefe do gabinete do Presidente ucraniano. “Dançaram falsificações no teclado sobre os planos imperiais da Polónia. O mundo civilizado funciona de forma diferente.”
Дух Жириновського вселився в Медведєва й витанцьовує на клавіатурі фейки про імперські плани Польщі. Цивілізований світ працює інакше. #Польща – великий друг, союзник і партнер України. Варшава не ніж у спину встромляє, як Рф, а подає руку допомоги. Не всі такі варвари, як ????????.
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) May 6, 2022
Vladimir Zhirinovsky, conhecido pelo seu populismo nacionalista, morreu em abril passado e as suas palavras sobre o ano de 2022 tornaram-se proféticas. “2022 não será um ano pacífico”, afirmou em dezembro do ano anterior, altura em que pediu à Rússia para atacar a Ucrânia e apontou o dia 22 de fevereiro como uma data importante. “Este será um ano em que a Rússia finalmente se tornará novamente um grande país e todos terão de calar a boca.”
No Twitter, Mykhailo Podoliak escreveu ainda que “a Polónia é uma grande amiga, aliada e parceira da Ucrânia. Varsóvia não nos apunhala pelas costas como a Rússia”.
Medvedev no Telegram: polacos têm dores da grandeza anterior
Na sua conta de Telegram, Medvedev ironiza ao dizer que Duda escolheu a data certa para as suas declarações, já que coincidiram com o Dia da Constituição. “A autoconsciência nacional dos polacos fortaleceu-se no contexto da mais profunda crise no país vizinho, exausto pelo governo bastardo do regime de Kiev. E junto com isso, os apetites territoriais estão a crescer.”
O antigo Presidente russo escreveu ainda que a Ucrânia ficará resignada a essa sorte “por causa de um sonho ilusório de uma vida feliz sob o guarda-chuva da União Europeia”. No entanto, alertou, “estamos a falar da anexação real dos territórios da Ucrânia Ocidental pela Polónia”, já que o país sofre de “dores fantasmagóricas da grandeza anterior” e quer recuperar as cobiçadas terras históricas, “escondendo-se atrás de uma retórica anti-russa agressiva e mantras falsos” sobre a felicidade comum com a Ucrânia sem fronteiras.