Uma análise de 230 grandes empresas, nove delas portuguesas, mostrou que a grande maioria (84%) praticamente ignora a sustentabilidade das suas deslocações e nem se compromete a reduzir as viagens de avião.
O estudo foi divulgado pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), organização não governamental de defesa da mobilidade sustentável de que faz parte a associação ambientalista Zero. Segundo os dados comunicados, nove empresas portuguesas analisadas não passaram de uma classificação medíocre: quatro valores de máxima numa escala em que bom seria obter 12,5 valores.
A T&E avaliou as viagens empresariais de avião dos trabalhadores das 230 empresas mundiais e concluiu que 193 delas não estão comprometidas com a opção de viagens mais sustentáveis. A organização salienta, no entanto, que algumas empresas estão já a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa relacionadas com viagens. E de oito empresas que se destacam pela positiva sobressaem três: a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, a companhia de seguros suíça Swiss Re e o grupo britânico de serviços financeiros Legal & General Group.
A T&E usou nove indicadores para as empresas, sobre planos de redução de emissões, relatórios de sustentabilidade e emissões de viagens aéreas. Com base nesse trabalho refere, por exemplo, que empresas como a Vodafone, a Renault ou a L’Oréal já têm estabelecidos objetivos globais de redução de emissões, mas sem se comprometerem em reduzir as emissões das viagens aéreas empresariais.
O estudo coloca no fundo da tabela empresas como a Google, Volkswagen e Microsoft, que não divulgam as suas emissões em viagens (ou mesmo emissões totais), são grandes emissoras e não têm compromissos ou objetivos específicos de redução das emissões das viagens, refere a Zero em comunicado.
A associação portuguesa e a federação consideram no documento que a pandemia de Covid-19 mostrou que as empresas europeias e norte-americanas podem ser eficazes fazendo menos viagens de avião e sendo responsáveis por menos emissões de gases.
Na lista da T&E e em relação a Portugal, a Jerónimo Martins SGPS aparece como a mais bem classificada, mas muito longe de uma boa pontuação. Segue-se a REN – Redes Energéticas Nacionais e, com a pior classificação, fica a The Navigator Company (fabrico de papel), não indo além de 0,5 pontos.
A Zero admite que, pela posição de Portugal na Europa, as viagens de avião são muitas vezes insubstituíveis e apela à consciência ambiental das empresas. No comunicado a associação ambientalista nota que, em 2019, as viagens de negócios no mundo inteiro representaram entre 15% e 20% de todas viagens aéreas, o que representa cerca de 154 milhões de toneladas de dióxido de carbono (MtCO2), o triplo das emissões totais em Portugal. Devido à pandemia, essas emissões baixaram drasticamente em 2020, sem inviabilizar as empresas, prossegue a Zero, realçando que “a redução das viagens empresariais é a forma mais fácil, rápida e eficaz de reduzir as emissões da aviação no curto prazo”. Ao reduzir as viagens de negócios em 50%, reduzir-se-iam as emissões em 32,6 MtCO2 até 2030 na Europa, o que equivale a retirar 16 milhões de automóveis poluentes das estradas, diz-se no comunicado.
Este trabalho foi feito no âmbito da iniciativa “Viajar Responsavelmente”, tendo a Zero enviado convites às empresas para que se juntem à iniciativa.