Ainda a guerra na Ucrânia não tinha começado e já Roman Abramovich tentava desfazer-se de uma propriedade no Algarve. Pelo menos é essa a conclusão a que chegou a Unidade de Investigação Criminal que recolheu indícios sobre o negócio de venda e aquisição de uma propriedade, avaliada em 10 milhões de euros, na Quinta do Lago no Algarve.
Poucos dias depois, a 25 de março, o ministério dos Negócios Estrangeiros acabaria por determinar o congelamento do registo da propriedade. A notícia é avançada este sábado pelo jornal Público que explica que o processo terá sido desencadeado por um alerta da Caixa Geral de Depósitos à Unidade de Informação Financeira da Polícia Judiciária.
Já esta tarde, à chegada da reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o ministro português dos Negócios Estrangeiros disse que Portugal leva “muito a sério” as sanções da União Europeia a oligarcas russos, confirmando o congelamento de um imóvel de Roman Abramovich, sem conhecimento de outros bens para já.
As sanções são tomadas muito a sério por Portugal e qualquer indivíduo sancionado que se julgue ter propriedades ou bens em Portugal será sempre investigado e, confirmando-se, os bens serão congelados”, disse João Gomes Cravinho.
“Neste caso, temos a convicção forte, que ainda não é a confirmação plena, de que [a propriedade] pertence a Roman Abramovich e está congelada, o que significa que não pode ser vendida, hipotecada ou arrendada para qualquer tipo de proveito financeiro”, explicou João Gomes Cravinho, embora realçando “as dificuldades” em descobrir a propriedade de certos imóveis por estarem em nomes de empresas detidas por outras.
Questionado se outros imóveis deste oligarca russo com ligações ao Presidente russo, Vladimir Putin, foram já congelados em Portugal, João Gomes Cravinho adiantou: “Nós não temos conhecimento, neste momento, de outros bens”.
No que diz respeito à propriedade na Quinta do Lago, a Millhouse Views LLC, detida pela Millhouse LLC — uma holding de investimentos detida pelo milionário Abramovich — estava a tentar vender “um talhão de terreno para construção urbana”, registado na Conservatória do Registo Predial de Olhão, sob a matriz n.º 12844, com a denominação de “Lote n.º 17 – São Lourenço Norte”. O comprador, David William Dalzell pediu no dia 9 de fevereiro um financiamento de crédito para habitação secundária à Caixa Geral de Depósitos de cinco milhões de euros.
Ainda que a Millhouse Views LLC tenha ligações a Roman Abramovich, David William Dalzell informou a Caixa Geral de Depósitos que era detentor de 50% da sociedade vendedora e que os restantes 50% pertenceriam a Deborah Louise Dalzell, a ex-mulher. Os cinco milhões de empréstimo serviriam então para pagar a metade que pertencia à ex-mulher, de quem se estaria a divorciar.
Em Portugal, de acordo com a base de dados do Banco de Portugal, escreve o Público, David William Dalzell tem apenas uma conta no EuroBic, que foi aberta em outubro de 2020 e que tem um saldo atual de 8.030 euros, depois de ter recebido duas transferências: uma de 20 mil euros proveniente da Dinamarca e outra de 7.500 euros de uma sociedade registada em território britânico.
As relações entre as empresas e a tentativa de compra e venda foi suficiente para convencer a Unidade de Investigação Criminal de que o negócio por trás do financiamento pedido à Caixa Geral de Depósitos servia apenas para Roman Abramovich alienar a propriedade na Quinta do Lago, à semelhança do que fez com várias propriedades que detinha direta ou indiretamente um pouco por todo o mundo, antes e nos primeiros dias da invasão da Rússia à Ucrânia, numa tentativa de contornar o congelamento de bens.