“Stefania”, a canção com que a Ucrânia venceu, este sábado, a Eurovisão, está a transformar-se numa espécie de hino do país em tempos de guerra. Desta vez, está a espalhar-se pelas redes sociais o vídeo que mostra um soldado em Azovstal, a fábrica atacada pelos russos em Mariupol, a cantar alguns versos da canção, com um ruído de fundo que parece ser de bombardeamentos.

Embora a música tenha sido criada e escolhida para a Eurovisão antes do início da invasão russa, ganhou outro significado com a guerra e inclui até alguns versos que parecem premonitórios (“Vou sempre encontrar a minha casa/ Mesmo que todas as estradas sejam destruídas”).

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Originalmente, “Stefania” é uma canção inspirada na mãe de Oleh Psiuk e mistura elementos de música folclórica e tradicional ucraniana com hip-hop. Mas o videoclipe de “Stefania” já faz a ligação ao tema da guerra, mostrando os elementos da banda, a Kalush Orchestra, a tocarem e cantarem em vários pontos destruídos do país, com edifícios bombardeados e até em chamas como cenário, incluindo em Bucha.

No texto que acompanha o videoclipe, a banda puxa por essa ligação: “Embora não haja uma só palavra sobre a guerra na canção, muitas pessoas começaram a associá-la com a mãe Ucrânia. Além disso, a sociedade começou a chamar-lhe um hino da nossa guerra. Se ‘Stefania’ é o hino da nossa guerra, quero que se converta agora no da nossa vitória”.

“Por favor ajudem a Ucrânia, Mariupol. Ajudem Azovstal agora”, pediu a banda assim que acabou a atuação, no sábado, antes de vencer o concurso com uma pontuação alta atribuída pelo público (na classificação do júri, estava em quarto lugar).

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Quando o resultado foi anunciado, o vocalista, Oleh Psiuk, agradeceu no palco: “Obrigado por apoiarem a Ucrânia. Esta vitória é para todos os ucranianos. Slava Ukraini [glória para a Ucrânia]”.

Sendo a Ucrânia a vencedora do festival, ditariam as regras que fosse a anfitriã e organizadora da próxima edição, em 2023. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu à vitória ainda no sábado e garantiu que a Ucrânia quer mesmo organizar a Eurovisão, especificamente em Mariupol, já “livre, pacífica e reconstruída”.

“No próximo ano, a Ucrânia vai ser a anfitriã da Eurovisão. A nossa coragem impressiona o mundo, a nossa música conquista a Europa”, garantiu Zelensky.

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Entretanto, a fábrica Azovstal continua a ser o último bastião dos militares ucranianos que tentam defender Mariupol, cercada e atacada pela Rússia há meses. Os combatentes do batalhão Azov, a ala ultranacionalista integrada no exército da Ucrânia, estão cercados há mais de 75 dias na fábrica. Centenas de civis já foram retirados com recurso a corredores humanitários (embora muitas outras promessas de cessar-fogo tenham falhado).