Continuam os combates na região do Donbass, neste que é já o 83.º dia de guerra na Ucrânia e que fica especialmente marcado pela operação de retirada dos soldados que ainda resistiam na metalúrgica Azovstal, em Mariupol.
Entre as últimas horas da manhã e o início da tarde desta terça-feira, responsáveis russos e ucranianos admitiram ambos que não há, de momento, negociações de paz a decorrer — cada lado responsabilizou o outro pela interrupção do diálogo.
Entretanto, várias cidades da Ucrânia, como Soledar e Bakhmut, no oblast de Donetsk; Desna, na região de Chernihiv; e Sumy, no noroeste do país, continuam sob bombardeamentos das forças russas.
Após mais de dois meses de cerco e após ao longo da semana que passou terem sido libertados os civis que ali se refugiavam, começaram finalmente a sair os combatentes esta segunda-feira à noite, em autocarros das forças russas e para duas cidades sob controlo das tropas de Vladimir Putin. De acordo com a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, estes soldados ucranianos — 264 até ao momento — serão posteriormente trocados com prisioneiros russos e devolvidos às respetivas famílias.
“Esperamos salvar as vidas dos nossos rapazes. Há feridos muito graves entre eles. Estão a ser cuidados”, disse entretanto Volodymyr Zelensky no seu habitual discurso, ao final da noite, explicando que para a operação de resgate poder ser finalmente dada como terminada ainda vão ser precisos “tempo” e “delicadeza.
Eis um ponto da situação, para ficar a par de tudo o que aconteceu nas últimas horas da guerra na Ucrânia. Pode ler também o liveblog do Observador, onde todas as notícias sobre o conflito são atualizadas ao minuto.
O que aconteceu durante a noite?
- Esta terça-feira, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou “uma combinação de ataques aéreos da Rússia à Ucrânia” em várias regiões como Sumy, Chernihiv e Lviv. No habitual discurso ao país, o chefe de Estado da Ucrânia apontou que esta é uma maneira de “criar tensão” e também “testar a força” do país.
- Zelensky participou na abertura do Festival de Cannes e aproveitou para lembrar os “ditadores mais terríveis do século XX” e o filme “The Great Dictator” de Charlie Chaplin. Desde este filme, que data de 1940, Volodymyr Zelensky frisou que a Humanidade “fez muitos filmes magníficos”. Durante o discurso, o Presidente da Ucrânia pediu que não haja desespero: “O ódio acabará por desaparecer e os ditadores vão morrer.”
- O Supremo Tribunal Russo vai decidir, a 26 de maio, se o Batalhão Azov (que esteve retido na fábrica siderúrgica de Azovstal) será ou não categorizado como uma organização terrorista. A justiça russa vai “julgar a associação paramilitar nacionalista Azov”, deliberando se é ou não “uma organização terrorista”. Será ainda decidido “a proibição de todas as suas atividades na Federação Russa”.
- França vai intensificar a entrega de armas à Ucrânia “nos próximos dias e semanas”, prometeu o Presidente francês a Volodymyr Zelensky, confirmando os compromissos anunciados no final de abril.
- O Departamento de Estado norte-americano anunciou um novo programa para recolher e analisar as alegadas provas dos crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia, tendo sido criado um observatório para documentar, verificar e divulgar as provas das ações das forças russas durante a invasão da Rússia à Ucrânia.
- A coordenadora para as emergências sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou hoje para um possível surto de cólera na cidade de Mariupol, indica o New York Times. Em causa, estará a mistura entre água provenientes dos esgotos e água potável em pântanos e no meio das ruas.
- A Organização Mundial da Saúde revelou ainda que houve 226 ataques contra instalações de saúde na Ucrânia desde o início da guerra, que causaram pelo menos 75 mortos e 59 feridos, anunciou hoje o diretor regional da OMS para a Europa.
- A Comissão Europeia vai propor um pacote energético que implica um investimento adicional de 210 mil milhões de euros até 2027 para a União Europeia (UE) se tornar independente da energia russa e cumprir metas ambientais.
- A Kalush Orchestra, o grupo que venceu a Eurovisão 2022, pondera fazer uma digressão pela Europa, de forma a angariar fundos para o exército ucraniano. “Em todas as atuações, vamos recolher fundos para as necessidades do nosso exército”, divulgou a Kalush Orchestra numa conferência de imprensa citada pela televisão estatal irlandesa, RTÉ.
O que aconteceu durante o fim da manhã e o início da tarde
- Ann Linde, a ministra dos Negócios Estrangeiros sueca, assinou esta terça-feira a candidatura formal do país à adesão à NATO;
Depois de Putin ontem ter dito que a entrada da Finlândia e da Suécia na NATO não é um problema, baixando o tom de anteriores reações, hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros Serguei Lavrov afirmou que a eventual adesão dos dois países à Aliança Atlântica “não vai fazer grande diferença”; - Leonid Slutsky, presidente interino da Comissão de Assuntos Internacionais da Duma e um dos deputados envolvidos nas negociações de paz com Kiev, defendeu esta terça-feira a pena de morte para os soldados ucranianos retirados da Azovstal. “Eles não merecem viver depois dos monstruosos crimes contra a humanidade que cometeram e que são cometidos continuamente contra os nossos prisioneiros”, disse em debate na câmara baixa do parlamento russo;
- Mikhail Khodaryonok, coronel russo na reserva, surpreendeu esta segunda-feira, ao condenar estratégia de Putin na Ucrânia ao vivo num canal de televisão estatal russo. “A principal deficiência da nossa posição político-militar é que, de certa forma, estamos em total isolamento geopolítico e que, por muito que odiemos admitir isto, praticamente o mundo inteiro está contra nós”, admitiu;
- Joe Biden vai reunir-se esta quinta-feira com a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, e o Presidente finlandês, Sauli Niinistö, anunciou a Casa Branca. Ao início da tarde, o parlamento finlandês anunciou que aprovou (com 188 votos a favor e 8 contra) a adesão do país à NATO;
- Josep Borrell diz que está confiante de que a Turquia irá dar o seu aval à entrada de Finlândia e Suécia na NATO, candidatura que, frisou, a UE apoia “com firmeza”;
- Ao contrário do que disseram Forças Armadas ucranianas na semana passada, Putin estará a trabalhar em conjunto com Valery Gerasimov, o comandante das Forças Armadas russas, na tomada de decisões relacionadas com a movimentação das forças russas na Ucrânia, avança o Guardian, citando fontes militares ocidentais;
- Mais de 3 mil moradores de Mariupol estarão a ser mantidos em “prisão de filtragem” na região de Donetsk, acusa Lyudmyla Denisova. A provedora de justiça ucraniana revelou que, antes de serem transportados para aquele local, estes cidadãos ucranianos terão sido interrogados durante várias horas e torturados com choques elétricos;
- Tribunal Penal Internacional diz que vai enviar “maior equipa de sempre” da sua história para investigar alegados crimes de guerra ocorridos na Ucrânia.
O que aconteceu durante a madrugada e início da manhã
- As Forças Armadas da Ucrânia informaram que as forças russas sofreram grandes perdas em Sievierodonetsk e que estão a recuar em várias frentes. Os esforços dos invasores continuam concentrados no Donbass, nas regiões de Lugansk e Donetsk;
- O exército ucraniano atualizou o número de baixas russas desde o início da invasão: 27.900 soldados russos já terão perdido a vida, 200 deles nas últimas 24 horas. Até esta terça-feira, foram destruídos 1.235 tanques russos, 3.009 veículos armados, 578 sistemas de artilharia, 90 sistemas anti-aéreos, 201 aeronaves, 167 helicópteros, 97 mísseis de cruzeiro, 2.109 veículos, 13 navios e 43 equipamentos especiais;
- Um míssil russo atingiu a aldeia de Desna, na região de Chernihiv, provocando mortos e feridos, informou o governador local, não adiantando ainda assim números concretos. Vyacheslav Chaus apelou à população que não ignore os alertas, lembrando que a zona da fronteira continua a ser bombardeada diariamente;
- A Rússia atacou instalações militares em Lviv, junto à fronteira com a Polónia, denunciou o governador da região esta terça-feira ao início da madrugada. Os mísseis, que visavam o campo de treino militar do distrito de Yavoriv, terão sido repelidos com sucesso, acrescentou Maksym Kozytsky. Andriy Sadovyi, o presidente da autarquia local, disse que o ataque desta madrugada foi “um dos maiores” na região de Lviv “em termos do número de mísseis”.
- As forças russas estão a bloquear as saídas do oblast de Kherson, no sul da Ucrânia, e introduziram documentos de autorização de residência para restringir a circulação dos cidadãos ucranianos na região, sob controlo das forças leais ao Kremlin;
- Nas próximas semanas devem continuar os “ataques maciços” de artilharia contra zonas residenciais da Ucrânia, enquanto a Rússia “tenta recuperar o ímpeto” na região do Donbass, avisaram os serviços secretos ingleses no habitual boletim diário sobre a invasão daquele país. A destruição de Chernihiv, cidade a norte de Kiev onde foram danificados ou arrasados cerca de 3.500 edifícios, 80% deles residenciais, “indica a disposição da Rússia para utilizar artilharia contra áreas habitadas, com o mínimo de discrição ou proporcionalidade”, pode ler-se no relatório;
- Ministro da Defesa da Letónia diz que Rússia tem de aprender a perder: “Salvar-lhes a face não é a nossa obrigação nem o nosso dever”, defendeu Artis Pabriks, contrariando Emmanuel Macron e outros líderes europeus, que defendem que a Europa deve evitar “humilhar” Vladimir Putin — o Presidente francês terá até pedido à Ucrânia para fazer algumas concessões, de forma a “salvar a face” do Presidente russo, revelou Volodymyr Zelensky recentemente em entrevista;
- Antes do início da guerra, duas em cada três crianças mal nutridas não tinham acesso à medicação necessária. A subida dos preços provocada pelo conflito na Ucrânia pode levar a uma situação “catastrófica”, está a alertar a UNICEF.