No que respeita ao Campeonato do Mundo de Ralis, o francês Sébastien Loeb é uma verdadeira instituição, contra o qual todos os outros se comparam. E tradicionalmente perdem. É o piloto com mais títulos de campeão conquistados, nada menos do que nove, com a particularidade de todos eles serem consecutivos. O rival que mais se aproxima é outro Sébastien, o Ogier, mas fica-se pelos oito títulos, dos quais apenas seis são consecutivos. Agora com 48 anos, Loeb regressou ao WRC este ano, depois de uma respeitável ausência. E começou em beleza, vencendo o Rali de Monte Carlo, a primeira prova da época, tornando-se no mais velho piloto a vencer uma prova do Mundial de Ralis. O rali monegasco não foi caso único, pois Loeb liderava o Rali de Portugal, a 4.ª prova do ano, quando uma distracção – um erro raro no francês – o levou a arrancar uma roda ao dar um toque num muro.

Aproveitando a sua presença entre nós, para mais uma participação não regular no WRC aos comandos de um Ford Puma, quisemos conhecer as diferenças dos novos Rally 1 face aos WRC utilizados até 2021 e se eram tão mais rápidos como o organizador do Mundial quer fazer crer.

Loeb começou por admitir a surpresa ao vencer o Monte Carlo. “É um rali que adoro e conheço bem, mas estava afastado há tanto tempo que, sinceramente, não esperava ter andamento para ganhar”, confessou ao Observador. Nos testes antes da prova monegasca, “o Puma Rally 1 estava perfeito”, garante o piloto francês, lamentando que o mesmo não se tenha verificado em Portugal. “Não gostei muito do comportamento, pois o carro fugia muito de frente”, queixou-se, tornando evidente que esta adaptação aos pisos de terra do Rali de Portugal do Ford preparado pela M-Sport, equipa do ex-piloto inglês Malcom Wilson, ainda necessitava de alguma atenção e trabalho por parte dos pilotos e engenheiros.

Com algumas alterações introduzidas no Puma Rally 1, realizadas já depois do shakedown, o Ford tornou-se mais fácil e eficaz de conduzir, mas Loeb avisava que o sistema híbrido, que reforça a potência original do motor 1.6 Turbo com 380 cv, elevando-a para mais de 500 cv, era mais difícil de regular do que no asfalto do Monte Carlo. “Em terra, se aceleramos a fundo à saída de uma curva lenta, os 136 cv do motor eléctrico chegam de repente e o carro fica mais difícil de controlar, degradando em demasia os pneus”, explicou o francês, acrescentando que o sistema híbrido entra em funcionamento quando o piloto acelera a partir de um certo ponto, para depois regenerar energia nas travagens e desacelerações.

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Igualmente limitado por ter tido apenas um dia de testes antes da prova, bem como pelo facto de ser o quarto na estrada, bem à frente dos principais rivais, o piloto francês admitiu que seria complicado bater-se com os mais rápidos: “Vou apanhar a estrada de terra com mais poeira e com pior tracção do que os pilotos que partem depois de mim, pelo que será difícil disputar a liderança.”

Sobre a comparação entre os novos carros de Rally 1 e os antigos WRC, o nove vezes campeão do mundo não tem dúvidas em garantir que, “no asfalto, os carros híbridos são muito mais rápidos do que os WRC, graças à potência adicional do sistema híbrido”. Contudo, reconhece que não há só vantagens: “Na terra ainda temos de ver, pois precisamos de alguma velocidade para a potência adicional não nos colocar problemas de tracção, já para não falar que a caixa com alavanca, em vez de patilhas no volante, é mais lenta e o facto de possuir apenas cinco velocidades (em vez de seis) tão pouco ajuda, devido aos buracos maiores entre as mudanças.”

E nem o facto de assegurar que gostaria de ter, no Rali de Portugal, “um equilíbrio melhor no chassi e uma frente mais incisiva em terra”, bem como estar mais à vontade na “regulação da forma como entra a potência do sistema híbrido em pisos de terra”, impediu Loeb de liderar o Rali de Portugal 24 horas após esta nossa conversa. Depois, uma “atravessadela” na primeira curva de um troço, metros depois do arranque para a classificativa, levou o Puma a bater no muro. Nada de muito forte, mas foi o suficiente para lhe arrancar uma roda. O Dirtfish capturou o momento: