Um grupo de cerca de 200 soldados russos colocados na zona de Donetsk, no Donbass, ter-se-á recusado a lutar e quase trocou fogo com um general e as forças especiais russas. É esse o relato feito por um dos soldados presentes no grupo, de acordo com os serviços secretos ucranianos, que dizem ter interceptado uma chamada entre o soldado e a sua mulher, onde este relata não apenas o momento de confrontação, como as más condições em que está a sua companhia.
A chamada foi divulgada e traduzida pelos serviços de informação de Kiev, que descrevem o incidente da seguinte forma: “[Soldados] russos contratados quase dispararam sobre o general Valery Solodchuk e os seus guardas, que tinham ido ali para controlar o motim e obrigar os ‘comandantes’ a continuar a lutar”.
Na chamada, o soldado começa por descrever o incidente dizendo que as tropas confrontaram Solodchuk sobre as suas condições no terreno:
Uma pessoa cujo contrato estava a chegar ao fim fez-lhe uma pergunta. E ele perguntou-me a mim ‘Quanto tempo falta para o fim do teu contrato?’. Eu disse ’20 e poucos dias’. E ele ‘Bem, tens 20 dias para morrer aqui'”, relata o soldado à mulher, que reage de forma indignada.
Terá sido esta discussão que levou os 215 soldados daquele batalhão (originalmente com 600 homens, dos quais 200 terão sido mortos em combate e 300 estarão feridos) a recusarem-se a ir para a linha da frente. Aí, de acordo com o soldado, Solodchuk apontou a sua arma aos soldados e disse que os mataria se eles recusassem combater. Um terá então puxado de uma granada e confrontado o oficial: “Anda, dispara, vá lá! Explodimos aqui juntos”.
Nesse momento, segundo o soldados, membros das forças especiais russas (Spetnaz) apontaram também armas ao batalhão e os soldados fizeram o mesmo. “Em suma, quase que nos matámos uns aos outros“, relata o militar. Solodchuck terá então abandonado o local.
Na conversa telefónica, o soldado relata ainda a situação do seu batalhão em Donetsk, queixando-se à mulher da falta de condições para combater. “Foi tudo destruído. De 12 veículos, agora só temos três em condições”, ilustra. Instado pela mulher a desertar, o homem admite que está a considerar fazer isso mesmo: “Depois de ouvir as palavras dele, acho que não quero de todo ficar aqui”, diz, referindo-se ao general russo.