A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou, esta terça-feira, uma orientação que define a abordagem aos casos de hepatite aguda de origem desconhecida e as medidas a seguir para prevenir novos contágios. De acordo com o documento, as crianças com idade igual ou inferior a 16 anos que apresentem sintomas compatíveis com esta doença ou tenham queixas “inespecíficas” devem ser vistas de urgência no hospital.

Hepatite aguda de origem desconhecida nas crianças. O que é, quais são os sintomas e que riscos tem esta infeção?

A orientação, dirigida aos profissionais de saúde e que foi elaborada pela task-force criada para acompanhar este surto mundial, começa por avançar com uma definição de caso. Uma vez que ainda não há casos confirmados, já que se desconhece a origem desta doença, a DGS define aquilo que pode ser considerado um caso provável de hepatite aguda de origem desconhecida: uma criança com 16 anos ou menos, que apresente sintomas de hepatite aguda que não seja hepatite A a E e que apresente alterações específicas que constam do documento nos marcadores de lesão do fígado AST e ALT desde 1 de outubro de 2021.

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O documento define ainda o que é uma ligação epidemiológica — ou seja, em que casos se pode admitir ter existido contacto que tenha resultado num novo contágio —, explicando que pode ser identificada esta ligação numa pessoa de qualquer idade, que tenha sintomas de hepatite aguda que não hepatite A a E, e que tenha tido um “contacto próximo de um caso considerado provável, desde 1 de outubro de 2021”.

Casos suspeitos ou crianças com 16 anos ou menos com queixas “inespecíficas” devem ser vistas de urgência no hospital

De acordo com estas indicações da DGS, se um caso suspeito desta hepatite aguda de origem desconhecida surgir num contexto de cuidados de saúde não hospitalares, devem ser referenciadas para qualquer hospital de urgência crianças até aos 16 anos “com manifestações clínicas sugestivas de hepatite aguda”, nomeadamente pele com tom amarelado (icterícia), falta de apetite, náuseas, vómitos intermitentes, mudança de cor na urina (colúria) e fezes de cor esbranquiçada ou acinzentada (acolia). Também devem ser referenciadas de urgência crianças até à mesma idade com “manifestações clínicas inespecíficas”, entre elas “dor abdominal, náuseas e vómitos, diarreia, com mais de uma semana de evolução e prostração importante”, sendo que com estes sintomas “podem coexistir sintomas respiratórios e febre”.

Já no hospital, os profissionais de saúde que recebam uma criança com os sintomas acima referidos, e “que levantaram a suspeita de hepatite”, devem fazer uma “investigação laboratorial“, pedindo análises, como “hemograma completo”, “estudo da coagulação”, entre outras especificadas nesta orientação. Se nessas análises surgirem alterações específicas referidas no documento nos marcadores de lesão do fígado AST e ALT, os profissionais terão de fazer uma “investigação etiológica complementar” também detalhada neste documento.

Na impossibilidade do laboratório hospitalar da instituição onde a criança está a receber cuidados de saúde realizar algumas destas análises, as amostras deverão ser enviadas ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), acompanhadas da respetiva requisição e termo de responsabilidade”, lê-se ainda na orientação, que acrescenta que esta situação terá de ser comunicada de imediato à DGS.

Caso efetivamente se trate de um caso provável, serão feitos “estudos complementares” para “identificação e caracterização do adenovírus, ou de outros agentes“. Para isso, terão de ser enviadas “amostras biológicas para o INSA”, nomeadamente de “soro, sangue total, fezes e secreções respiratórias”. Os profissionais de saúde terão ainda de reportar o caso “às autoridades de saúde territorialmente competentes” através da plataforma do SINAVEmed. Uma vez feita a notificação, as autoridades de saúde irão proceder à realização de um inquérito epidemiológico.

Higiene das mãos e etiqueta respiratória: as medidas de prevenção

Tendo em conta que os “adenovírus entéricos” foram “indicados como possível agente envolvido” nos casos de hepatite aguda de origem desconhecida, a orientação da DGS recomenda ainda as seguintes medidas de prevenção:

  • Na comunidade:
    • “Reforço de medidas de proteção gerais conhecidas, como a higiene das mãos (supervisão em crianças mais pequenas), e a etiqueta respiratória“;
    • “Arejamento e/ou ventilação dos espaços interiores, limpeza e/ou desinfeção frequente de superfícies na presença de casos de gastroenterite aguda ou de infeção respiratória”.
  • Nas unidades de saúde:
    • “Medidas de precaução de contacto para casos suspeitos ou prováveis em caso de sintomatologia respiratória, dando cumprimento às regras estabelecidas para controlo de infeção pelo Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA)”.

Portugal com 15 casos suspeitos até 3 de junho

A orientação confirma que, até à passada sexta-feira, dia 3 de junho, tinham sido reportados 15 casos suspeitos. De acordo com as autoridades de saúde, as crianças em causa tinham entre quatro meses e 16 anos, sendo que estes casos foram identificados entre novembro de 2021 e 31 de maio deste ano. “O quadro clínico destas crianças tem evoluído favoravelmente“, indica ainda a DGS, acrescentando que está “em curso a avaliação epidemiológica e laboratorial” destes casos.

De acordo com um boletim epidemiológico do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado a 31 de maio, foram identificados 305 casos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças com 16 anos ou menos, em 17 países da região europeia da OMS. Nessa altura, Portugal era o quarto país com o maior número de casos, sendo ultrapassado pelo Reino Unido (155), Itália (29) e Espanha (34).

O número total de casos notificados em todo o mundo era de 621, havendo registo de um total de 14 mortes, divididas pela Indonésia (6), Estados Unidos (5), Irlanda (1), México (1) e Palestina (1)”, lê-se ainda na orientação, sendo que o Reino Unido continua a ser o país mais afetado, tendo sido confirmados 176 casos até 12 de maio.