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Treatment of children with Covid-19 at UHS Training and Research Hospital
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A OMS descarta uma relação entre estes casos de hepatite aguda de origem desconhecida e as vacinas contra a Covid-19, uma vez que a maioria das crianças com esta doença não estava vacinada.

Anadolu Agency via Getty Images

A OMS descarta uma relação entre estes casos de hepatite aguda de origem desconhecida e as vacinas contra a Covid-19, uma vez que a maioria das crianças com esta doença não estava vacinada.

Anadolu Agency via Getty Images

Hepatite aguda de origem desconhecida nas crianças. O que é, quais são os sintomas e que riscos tem esta infeção?

Não se sabe a origem desta doença que leva a que 1 em cada 10 crianças precise de um transplante do fígado. Icterícia é o sintoma mais comum. DGS apela à higienização das mãos e etiqueta respiratória.

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Desde o início do ano que se tem registado um aumento no número de casos de uma hepatite aguda de origem desconhecida. O Reino Unido foi primeiro país a reportar esta situação e, neste momento, são pelo menos 12 os países com menores com esta inflamação aguda no fígado. Apesar de a maioria serem casos ligeiros, uma em cada dez crianças precisa de um transplante hepático devido às graves lesões, um número elevado para o que é habitual neste tipo de situações.

Até ao momento não foram identificados casos em Portugal — o bebé de 21 meses internado no Hospital São João, no Porto, e que se suspeitava ter esta hepatite aguda testou positivo para três vírus, um deles gripe A, tendo sido descartada a possibilidade de se tratar de um caso igual aos cerca de 200 já identificados em todo o mundo.

Criança internada no Hospital de São João teve alta e não tem hepatite aguda

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O Observador falou com especialistas para tentar perceber o que é afinal esta hepatite aguda, quais os seus sintomas e riscos, e o que Portugal está a fazer para se preparar para a provável chegada desta doença ao país, depois da DGS ter anunciado uma task force para monitorizar a situação.

O que é e o que está na origem desta hepatite aguda?

“A hepatite é uma inflamação do fígado, que fica inchado e com células de inflamação”, explica Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, ao Observador.

É uma situação “conhecida” da comunidade médica, que ocorre tanto em adultos como em crianças, sendo que no caso concreto desta doença, há uma “morte maciça das células” do fígado, que leva a que uma em cada 10 crianças precise de um transplante hepático.

A sua origem, porém, ainda está por apurar. Trata-se de uma hepatite aguda, porque está em causa uma inflamação aguda do fígado, mas ao contrário das outras hepatites, como a hepatite A ou a hepatite C, que são provocadas por vírus, ainda não está identificada a sua causa.

"Sempre houve adenovírus que provocavam inflamações no fígado, embora não fosse algo muito comum, mas não eram situações tão graves"
Luís Varandas, pediatra infecciologista e Coordenador do Centro da Criança e Adolescente do Hospital CUF Descobertas

Ainda assim, Rui Tato Marinho explica que esta doença tem algumas “particularidades”: o aparecimento de “vários casos num curto espaço” em “crianças muito pequenas” , em que 10% dos casos acabam por precisar de um transplante, e a presença em 70% dos casos do adenovírus F41, um tipo de adenovírus que por norma não ataca o fígado e apresenta um quadro de infeção respiratória.

“A ser este adenovírus [F41] não é habitual dar estes quadros de hepatites. Sempre houve adenovírus que provocavam inflamações no fígado, embora não fosse algo muito comum, mas não eram situações tão graves. Algo mudou, se é o vírus ou o ambiente é pura especulação”, considera Luís Varandas, pediatra infecciologista e Coordenador do Centro da Criança e Adolescente do Hospital CUF Descobertas. Já Rui Tato Marinho sublinha que não se sabe ao certo qual o papel deste adenovírus, mas “não há fumo sem fogo”, diz.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de já terem existido casos de hepatite em crianças imunocomprometidas infetadas com um adenovírus, a estirpe F41 por norma não causa hepatites em crianças saudáveis. Os vírus que habitualmente provocam hepatites virais agudas (hepatite A, B, C, D e E) não foram detetados nestes casos, sendo que algumas crianças testaram positivo para o SARS-CoV-2 e noutras foi detetado o novo coronavírus e um adenovírus.

As autoridades internacionais têm várias hipótese em cima da mesa para a origem desta hepatite aguda, explica o gastroenterologista do CHLN:

  • um “novo vírus“;
  • um “vírus conhecido que se tenha modificado e que se tenha tornado mais agressivo” — como, por exemplo, o adenovírus F41;
  • um “conjunto de vírus ao mesmo tempo“, que se podem “potenciar”;
  • uma “alteração da imunidade das crianças” após dois anos de pandemia, que obrigaram a um maior isolamento numa altura em que os mais novos costumam contrair várias infeções e acabam por ganhar defesas ‘naturais’.

“A circulação de vírus, que é normal e que a pouco e pouco nos vai imunizando, como se fossem vacinas naturais, deixou de acontecer porque as pessoas passaram a viver com a máscara. Não as desmerecendo, porque foram muito importantes, mas se calhar não faz sentido passar a vida com máscaras e não deixar que os vírus circulem“, diz ainda o diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), acrescentando que o contacto com vários vírus é positivo, porque as pessoas vão criando defesas.

Já Luís Varandas questiona o facto de a pandemia, e o respetivo isolamento, explicar esta situação: “Poderia fazer sentido nas crianças pequenas, com dois ou três anos, que de facto nos últimos dois anos estiveram muito resguardadas, mas quando falamos em crianças de oito, nove e dez anos, eles tiveram já muito anos expostos aos agentes infecciosos habituais, portanto nesses torna-se mais difícil arranjar essa explicação. Provavelmente a explicação estará em vários fatores.”

"Não as desmerecendo, porque foram muito importantes, mas se calhar não faz sentido passar a vida com máscaras e não deixar que os vírus circulem"
Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais

A OMS descarta por completo uma relação entre estes casos de hepatite aguda e as vacinas contra a Covid-19, uma vez que a maioria das crianças com esta doença não estava vacinada.

Como se transmite?

Uma vez que não se sabe o que causa esta hepatite aguda, torna-se difícil dizer a certo a sua forma de transmissão. A ser um vírus, como acham os especialistas, pode ser transmitido de duas formas: por via respiratória — caso a criança esteja com tosse ou a espirrar —, por via digestiva ou “via fecal-oral”.

“Se temos uma inflamação hepática e se temos sinais de gastroenterite — há muitas crianças que têm diarreia e usam fralda ou vão à casa de banho e não têm as medidas de higiene ‘normais’ —, provavelmente excreta-se nas fezes e o vírus arranja forma de sair daí e chegar até à outra pessoa, seja através das superfícies, seja através de mãos sujas. É como se transmitem as gastroenterites ou o rotavírus”, explica o pediatra Luís Varandas.

Quais são os sintomas?

Esta hepatite aguda pode apresentar diversos sintomas:

  • icterícia, isto é,  a criança ficar com os olhos amarelados — é o mais comum dos sintomas, acontecendo “em três quartos dos casos”, indica o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais;
  • tosse;
  • febre;
  • diarreia;
  • vómitos;
  • mal-estar;
  • falta de apetite.

Rui Tato Marinho ressalva a importância de se ir vigiando o funcionamento do fígado: “É muito fácil, através de análises, perceber se alguma coisa não corre bem e depois referenciar na altura certa para se fazer o transplante e salvar vidas.”

Quais são os riscos?

“O maior risco é o fígado deixar de funcionar. Numa hepatite aguda há uma morte das células do fígado e o risco é essa morte ser excessiva. Não há vida sem fígado”, explica Rui Tato Marinho ao Observador, acrescentando que em cada 10 crianças, entre três e quatro têm doença ligeira e não precisam de internamento, cinco ou seis têm doença moderada, isto é, precisam de ser internadas, mas “corre tudo bem e têm alta” e uma precisa de um transplante hepático.

“[Os 10%] pode parecer pouco, mas é uma percentagem muito elevada para o que estamos habituados“, refere o gastroenterologista, acrescentando que o transplante “muitas vezes tem de ser feito de emergência, em meia dúzia de dias”, porque há uma falência do fígado, mas “é para salvar” a vida da criança.

"O maior risco é o fígado deixar de funcionar. Numa hepatite aguda há uma morte das células do fígado e o risco é essa morte ser excessiva"
Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais

Já Luís Varandas sublinha que nas epidemias, os casos que são inicialmente reportados são os mais graves, porque os “ligeiros ou pouco sintomáticos” só são identificados mais tarde, quando a comunidade médica está mais atenta e se começam a fazer mais diagnósticos.

“É natural que agora surjam muitos casos graves, mas na minha perspetiva isto é uma ínfima percentagem deles, porque os outros não são diagnosticados. O melhor exemplo disso é o SARS-CoV-2, que quando começou era catastrófico e depois fomos vendo que havia casos mais ligeiros e casos assintomáticos”, diz o pediatra infecciologista ao Observador.

O que se passa lá fora?

O Reino Unido foi o primeiro país a alertar para um aumento inesperado de casos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças, a maioria saudáveis anteriormente. É o país com o maior número de casos — desde janeiro já contabilizou 114. Esta terça-feira, o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) dava conta de 190 casos reportados na Europa e Estados Unidos.

Reino Unido, Espanha, Israel, Estados Unidos e Dinamarca são apenas alguns dos países onde foi detetada esta doença, que afeta crianças entre um mês e 16 anos. Destes menores, cerca de 10% precisa de um transplante hepático e pelo menos uma criança morreu devido a esta hepatite aguda, indica a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esta doença pode chegar a Portugal?

Apesar de o caso suspeito desta quinta-feira no Hospital São João, no Porto, não se ter confirmado, “é bem possível que chegue a Portugal”, considera Rui Tato Marinho ao Observador, recordando que já foram detetados casos em Espanha.

Cinco novos casos de hepatite aguda identificados em Espanha

Já Luís Varandas considera que “provavelmente” já existem casos ligeiros desta hepatite aguda em Portugal, mas que ainda não foram diagnosticados.

"É natural que agora surjam muitos casos graves, mas na minha perspetiva isto é uma ínfima percentagem deles, porque os outros não são diagnosticados"
Luís Varandas, pediatra infecciologista e Coordenador do Centro da Criança e Adolescente do Hospital CUF Descobertas

De que forma Portugal está a preparar-se para estes casos?

Rui Tato Marinho garante que o país “está preparado” para o possível aparecimento destes casos e destaca a criação, por parte da Direção-Geral de Saúde, de uma task force para acompanhar este surto mundial em crianças, que estará articulada com o o Programa Nacional para as Hepatites Virais e com a Sociedade Portuguesa de Pediatria.

Esta equipa terá como objetivo “o acompanhamento e atualização da situação internacional, a avaliação de risco a nível nacional e a elaboração de orientações técnicas para a deteção precoce de eventuais casos que venham a ser identificados no país”, referiu a Direção-Geral da Saúde (DGS) em comunicado.

“Apesar de a task force se ter formado oficialmente ontem [esta quinta-feira], já desde a semana passada ou há 15 dias que falamos quase todos os dias com pediatras, entre vários médicos até a nível internacional”, afirma o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, que faz parte desta “brigada”.

DGS cria “task force” para acompanhar surto mundial de hepatite aguda em crianças

O gastroenterologista referiu ainda que Portugal tem uma equipa especializada em transplantes pediátricos, em Coimbra, que faz este tipo de intervenções “há muitos anos” e com “bons resultados”. Ou seja, se alguma criança precisar de um transplante hepático terá de ser transferida para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Ao que devem estar atentos os pais?

Calma e vigilância são os principais conselhos de Rui Tato Marinho. Para o diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do CHLN, os pais devem estar atentos e fazer o que sempre fizeram quando uma criança não está bem, como ir a uma urgência ou falar com o médico que a acompanha. Se a criança tiver icterícia, os pais devem levá-la ao hospital para ser observada.

Há forma de evitar esta doença?

A DGS recomenda a higienização das mãos e a etiqueta respiratória como as principais medidas de prevenção deste surto. Também Rui Tato Marinho diz que a lavagem de mãos e a etiqueta respiratória é “muito importante”.

“Aqueles cuidados gerais que tínhamos com o coronavírus, exceto a máscara, como lavar as mãos, não tossir para cima de outras pessoas, são medidas gerais que salvam vidas”, considera Rui Tato Marinho.

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