Cabo Verde vai acolher, em 1 de maio de 2024, uma cerimónia evocativa para assinalar os 50 anos da libertação dos últimos presos políticos do campo de concentração do Tarrafal, anunciou este domingo o ministro da Cultura português.

“Cumprimos 50 anos da democracia portuguesa no dia 25 de abril de 2024 e estamos a fazer umas celebrações longas, com várias dimensões em que claramente as lutas pela independência nas ex-colónias são também muito importantes”, afirmou Pedro Adão e Silva, na cidade da Praia, no último de quatro dias de visita oficial a Cabo Verde.

Para o governante português, essa cerimónia de evocação e de celebração conjunta vai “relançar” o processo de candidatura do ex-campo de concentração do Tarrafal a património mundial da UNESCO, ainda sem uma data concreta para avançar.

“No Tarrafal, uma memória partilhada entre Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), uma memória traumática, mas que de certa forma se libertou no mesmo momento com a nossa democracia em Portugal e com a independência das ex-colónias”, lembrou o ministro.

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Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.

Reabriu em 1962, com o nome de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ao todo, foram presas neste “campo da morte lenta” mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.

Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, desde 2000 alberga o Museu da Resistência e em 2004 foi classificado Património Cultural Nacional e integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.

Durante os quatro dias em Cabo Verde, no âmbito das comemorações do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas, o museu do ex-campo de concentração do Tarrafal foi um dos muitos sítios que Pedro Adão e Silva visitou, tendo feito um balanço “muito positivo” de toda a deslocação ao arquipélago africano.

“O balanço é muito positivo, para além do programa protocolar na embaixada e junto das comunidades portuguesas, quis conhecer a realidade cultural nas suas várias dimensões”, frisou o ministro, que esteve também na Cidade Velha e em muitos outros locais e projetos, incluindo os financiados pela cooperação portuguesa.

No âmbito desta deslocação, o governante português visitou hoje murais de arte urbana, moderna e de intervenção comunitária no bairro de Achada Grande Frente, na Praia, no âmbito projeto “Xalabas”, da organização não-governamental África 70, e financiado pela Delegação da União Europeia em Cabo Verde.

Entre os diversos murais artísticos — de criação de artistas nacionais e internacionais — encontra-se um de Amílcar Cabral, realizado pelo artista português Vhils, uma obra que contou igualmente com o apoio da cooperação Portuguesa em Cabo Verde, em parceria com a União Europeia e Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde.

“Procurei ver de tudo um pouco e isso tem dado um sinal muito positivo de Cabo Verde e um sinal que eu acho que o Ministério da Cultura português pode ajudar a contribuir, através da cooperação, ajudando projetos locais, mas também trabalhando em conjunto no campo do Tarrafal. Portanto, há muito espaço e caminho para fazermos em conjunto”, perspetivou.

Pedro Adão e Silva, que é ministro da Cultura português há pouco menos de três meses, prometeu ajudar a mobilizar e “dar energia” à cooperação entre Cabo Verde e Portugal, que entende tem “muito potencial”.