Marta Temido anunciou esta segunda-feira um plano de contingência de curto prazo para os meses de verão, depois de identificar um problema de “constrangimentos na organização das escalas de urgência externa de ginecologia e obstetrícia”. Um plano de curto prazo para os meses de junho, julho, agosto e setembro, “com um funcionamento mais articulado e antecipado e organizado das urgências em rede do Serviço Nacional de Saúde” foi o prometido pela ministra da Saúde ao início da noite desta segunda-feira.

A médio prazo, a ministra anunciou um plano de coordenação nos mesmos moldes da comissão de apoio à resposta em medicina intensiva. Lembrou que “infelizmente, esta situação não é nova” e referiu que a pressão sobre os serviços de saúde se repete em determinadas alturas do ano.

Marta Temido revelou que há um concurso de contratação para recém especialistas para ser aberto esta semana, afirma que “infelizmente” não há tantos especialistas para contratar como seria ideal e reconhece que “as condições no Serviço Nacional de Saúde são pesadas”. Apontou ainda a necessidade de ter em atenção “a formação de recursos na área de ginecologia e obstetrícia”.

Quanto às respostas estruturais, disse que envolvem a “contratação de todos os especialistas que aceitem ser contratados pelo Serviço Nacional de Saúde”.

A Ministra da Saúde, Marta Temido, começou ao início da tarde as reuniões com os sindicatos e a Ordem dos Médicos, na sequência do encerramento das urgências de Ginecologia e Obstetrícia em alguns hospitais na região de Lisboa. Durante a manhã, a ministra da Saúde esteve reunida com diretores clínicos de vários hospitais da região de Lisboa.

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À saída da reunião com a ministra da Saúde, ao final da tarde desta segunda-feira, Jorge Roque da Cunha, presidente do Sindicato Independente dos Médicos, afirmou que a ministra “não tem noção da gravidade do que está a ocorrer nos serviços de obstetrícia. Está a acontecer na medicina interna, está a acontecer na anestesiologia, está a acontecer um pouco por todo o Serviço Nacional de Saúde”, afirmou, em declarações transmitidas pelas televisões.

Segundo o sindicalista, a ministra “reconheceu que tinha aqui um problema sério”, contudo afirma que este problema não é pontual mas sim estrutural e diz que há uma aposta no trabalho precário. Afirma ainda que a situação atual “não tem a ver com folgas, não tem a ver com férias, não tem a ver com feriados. Isso é a narrativa de quem quer mitigar o problema. Tem a ver com questões estruturais”.

Junto a Roque da Cunha estava também Noel Carrilho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Já depois de ouvir Marta Temido, a FNAM lançou esta noite um comunicado em que afirma que o encerramento de urgências é um grito de alerta que o Ministério da Saúde não quer ouvir. Noel Carrilho lamentou, à Rádio Observador, a falta de propostas apresentadas pelo Ministério da Saúde.

“O país não precisa de declarações vagas. Precisa de medidas que tragam os médicos para o SNS”

Reunião com Ordem dos Médicos garante “medidas de curto prazo”

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, disse esta tarde nem declarações à CNN que da reunião da manhã resultaram “algumas medidas de curto prazo” e “algumas medidas de médio prazo, sendo que o problema maior, que é o problema de resolver as questões relacionadas com capital humano no Serviço Nacional de Saúde, demoram mais tempo porque têm a ver com contratação de médicos, que não tem sido conseguido com eficácia, mas tem de ser.”

O bastonário acrescentou que lhe foi pedida ajuda na definição dos planos de contingência para o verão. Miguel Guimarães avançou que os dados atualizados obre a assistência à gravidez e ao parto vão ser publicados, uma função que diz caber à Direção Geral de Saúde, e confirmou que a diretora desta instituição também esteve presente na reunião. Esta informação vem em resposta ao pedido que havia sido feito pela Ordem dos Médicos este domingo.

Depois de enumerar várias medidas discutidas na reunião conclui que, “neste momento, estas medidas de curto e médio prazo servem apenas para mitigar a situação” e destaca como “problema principal, começar a contratar os especialistas para ficarem no Serviço Nacional de Saúde”.

António Costa foi questionado sobre o tema durante uma viagem a Londres, para um encontro com o Primeiro Ministro britânico Boris Johnson. O Primeiro Ministro declarou que o Governo está a trabalhar para resolver os problemas ocorridos nos últimos dias em serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), apontando as reuniões em curso no Ministério da Saúde. O Primeiro Ministro não se pronunciou mais sobre o assunto e afirmou que fora do país não fala sobre problemas nacionais.

Várias unidades hospitalares acusaram problemas nestas especialidades ao longo dos últimos dias

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) referiu esta segunda-feira que, até ao final do dia, “haverá períodos em que alguns hospitais estarão a funcionar com limitações, ou seja, a desviar a sua urgência externa de Obstetrícia/Ginecologia para outras unidades da Região, que assegurarão a resposta do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.

Entre 10 e 12 de junho foram efetuados 192 partos nas 13 maternidades da região, adianta, apelando “à compreensão dos utentes” e lamentando, desde já, o constrangimento que, apesar de todos os meios disponibilizados, disse não ter sido possível ultrapassar.

As urgências de Ginecologia e Obstetrícia dos hospitais São Francisco Xavier e do Barreiro-Montijo vão estar encerradas entre as 20h00 desta segunda-feira e as 08h00 de terça-feira, segundo a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. As grávidas devem dirigir-se ou ser encaminhadas para o Hospital de Setúbal, Hospital Garcia de Orta, em Almada, Hospital Santa Maria, em Lisboa, Maternidade Alfredo da Costa e para o Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, informa a ARSLVT em comunicado.

O Hospital de Braga assegurou esta segunda-feira que está a “envidar todos os esforços” para preencher as escalas do Serviço de Urgência (SU) de Ginecologia e Obstetrícia, não confirmando um novo encerramento temporário desta unidade, entre quarta e sexta-feira. “O Hospital de Braga não confirma o encerramento do SU de Ginecologia e Obstetrícia nos próximos dias 15, 16 e 17 de junho. Neste momento, as escalas ainda não estão fechadas, estando o Conselho de Administração a envidar todos os esforços para minimizar os impactos da falta de disponibilidades”, refere o hospital, em resposta escrita enviada à agência Lusa.

O Conselho de Administração do Hospital de Braga confirmou, no sábado, que as urgências de Ginecologia e Obstetrícia iriam estar encerradas no domingo e durante 24 horas, devido à “impossibilidade de completar escalas”, após o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) denunciar a falta destes profissionais.

O Observador avançava no sábado que as urgências de obstetrícia e ginecologia dos hospitais de São Francisco Xavier, em Lisboa; Beatriz Ângelo, em Loures; no Hospital de Setúbal; o Centro Hospitalar-Barreiro Montijo; e o Hospital Garcia de Orta iriam estar estar encerradas em diferentes períodos, por não terem escalas completas que permitissem o atendimento aos utentes.

Em comunicado, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo assumiu que, “apesar de todos os esforços desenvolvidos”, não foi possível “ultrapassar os constrangimentos” e completar as escalas neste fim de semana longo. Esses serviços tiveram de ser assegurados por outras unidades da rede, como o Hospital Santa Maria, o Amadora-Sintra (no caso dos utentes do São Francisco Xavier) e pela Maternidade Alfredo da Costa.

Explicador. O caso do bebé que morreu nas Caldas e a falta de médicos obstetras em nove perguntas e respostas

O caso que alertou para o problema

Na sexta-feira, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo alertou para constrangimentos no funcionamento dos serviços de obstetrícia e ginecologia, até esta segunda-feira, em vários hospitais na região de Lisboa. Nesse dia, foi noticiado o caso de uma grávida que perdeu o bebé alegadamente por falta de obstetras no hospital das Caldas da Rainha, o que levou o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Oeste a abrir um inquérito e a participar a situação participando à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).