Simão Sabrosa, antigo jogador que vai assumir a partir da próxima época um papel mais próximo junto da equipa principal do Benfica, terminou a carreira nos indianos do NorthEast United mas fez todo o percurso entre Portugal (Sporting e Benfica) e Espanha (Barcelona, Atl. Madrid e Espanyol) além da temporada que jogou na Turquia pelo Besiktas. No entanto, podia não ter sido assim. Aliás, podia não ter sido assim em duas ocasiões distintas com o mesmo destino: a Premier League e o Liverpool em específico. 

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“Estava na Seleção e o Benfica estava a negociar com o Liverpool. Informei o Scolari que a transferência ia concretizar-se, perguntei se me dava autorização para sair do hotel para ir fazer os testes médicos e assinar. Depois ligaram às 6h da manhã a dizer que o acordo estava feito. Quem estava a tratar era o Jorge Baidek, com o advogado do Rafa Benítez. Quando cheguei ao escritório do Baidek, o presidente [Luís Filipe Vieira] ligou a dizer que não aceitava a transferência e que não podia viajar. Não estive dentro do avião mas estive à porta do aeroporto à espera da autorização para viajar para Liverpool. O presidente tinha estado a noite toda em negociações, liguei para a esposa, porque o presidente tinha o telemóvel desligado, porque estava a descansar, e passou-me o telefone. ‘Se te deixar sair os adeptos vão cair em cima de mim, és o jogador mais importante. Não vou autorizar’. E voltei para a Seleção”, recordou em entrevista à BTV.

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Se em termos desportivos os encarnados não guardam propriamente grandes memórias do conjunto de Anfield, com a exceção dos oitavos da Champions em 2006 entre sete derrotas em 12 encontros, o passado recente de negócios com os reds também não era famoso. No entanto, tudo foi diferente com Darwin Núñez e em menos de uma semana ficou fechado aquele que passa a ser o segundo maior negócio de sempre do Benfica e do futebol português, apenas superado pelos 126 milhões de euros da venda de João Félix ao Atl. Madrid (que ainda chegou a sondar os responsáveis da Luz a propósito do uruguaio).

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“A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa, nos termos e para o efeito do disposto no artigo 248.º-A do Código dos Valores Mobiliários, que chegou a acordo com o Liverpool FC para a alienação da totalidade dos direitos do jogador Darwin Nuñez, pelo montante de € 75.000.000 (setenta e cinco milhões de euros). O acordo prevê o pagamento de uma remuneração variável, pelo que o montante global da alienação poderá atingir o montante de € 100.000.000 (cem milhões de euros). Mais se informa que o referido acordo está dependente da celebração de contrato de trabalho desportivo do jogador com o Liverpool FC”, anunciou a SAD dos encarnados num comunicado enviado à CMVM durante a madrugada.

O interesse da Premier League que nasceu ainda no verão de 2021

A Premier League tinha há muito os olhos no jovem avançado e ainda antes da “explosão” na última época, com 34 golos em 41 jogos oficiais entre Campeonato, Champions, Taça de Portugal e Taça da Liga, houve uma abordagem menos “mediática” do Brighton por Darwin Núñez no último verão, que acabou por ser recusada em definitivo a partir do momento em que o Benfica venceu o PSV e alcançou os grupos da Liga dos Campeões – algo que não acontecera na época anterior, o que acrescentou mais um motivo para a saída de Rúben Dias para o Manchester City para equilibrar com os 100 milhões de euros de investimento.

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Mais recentemente, na janela de inverno do mercado de transferências, mais dois clubes da Liga inglesa tentaram contratar o avançado sul-americano. O Newcastle, que entretanto passou para uma nova era após. formalização da compra por parte do fundo soberano da Arábia Saudita, chegou a apresentar uma oferta que ficou muito aquém do esperado entre os 50 e os 60 milhões, ao passo que o West Ham, mesmo no final de janeiro, formalizou uma proposta de 45 milhões fixos mais 15 milhões por objetivos (que não iriam demorar a ser concretizados). Nem o Benfica mostrou interesse em vender o jogador, pelos valores em causa e pelo momento da temporada, nem o avançado se mostrou interessado nesses projetos.

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Agora, o cenário e o contexto tinham mudado, com todas as partes cientes de que seria muito complicado aguentar por mais uma temporada o antigo avançado do Almería que foi a contratação mais cara de sempre do Benfica por um total de 24 milhões de euros. Aliás, a certa altura no início da última semana uma fonte ligada ao processo assegurava ao Observador que já tinha existido uma proposta que podia ascender a valores próximos dos 80 milhões de euros recusada pelo clube da Luz, abrindo a porta à possibilidade de haver valores entre fixos e variáveis que se aproximassem aos 126 milhões de euros de João Félix. Não foi isso que acabou por acontecer mas Darwin Núñez vai tornar-se de longe a segunda maior venda.

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O Manchester United fez chegar uma proposta oficial por um intermediário ao Benfica para a contratação do avançado mas quer o clube, quer o jogador apontavam para o Liverpool como uma prioridade. Pelo clube, pelo futebol que joga, pelo treinador que tem, pelo ambiente que sentiu em Anfield nos quartos da Champions e pela boa adaptação de Luis Díaz após sair do FC Porto, Darwin Núñez não demorou a aceitar a oferta apresentada pela formação inglesa. Entre clubes, o negócio ficou fechado este fim de semana.

Apesar de, a certa altura, ter sido equacionada a possibilidade de envolver jogadores no acordo (falando-se de nomes como Minamino ou Tsimikas), essa hipótese acabou por cair – o que não significa que nenhum jogador do Liverpool possa ainda chegar à Luz mas num outro negócio paralelo ao do uruguaio. Assim, e numa alteração feita nas últimas horas, Darwin Núñez vai render de imediato 75 milhões de euros ao clube da Luz, podendo ainda dar mais 25 milhões em objetivos variáveis que são relativamente fáceis de obter: quando fizer dez jogos pelos reds, rende mais cinco milhões; depois, quando chegar aos 60 jogos, entrarão mais dez milhões; por fim, existem mais dez milhões que estarão dependentes de outros objetivos relacionados com jogador e equipa. Julian Ward, diretor desportivo do vice-campeão inglês e europeu que veio a Lisboa, tentou baixar o montante fixo inicial para os 65 milhões de euros mas subiu depois a oferta.

De acrescentar ainda que o Almería, antigo clube do avançado que milita na Segunda Liga espanhola, tinha ficado com 20% da mais valia de uma futura transferência do uruguaio mas nesse mesmo acordo ficara igualmente consagrado que essa percentagem renderia no máximo dez milhões de euros. O acordo final deverá ser conhecido na totalidade esta segunda-feira, altura em que Darwin Núñez, que já deixou a concentração da seleção do Uruguai, complete os exames médicos em Liverpool e seja apresentado, com a particularidade de poder superar caso cumpra os objetivos a contratação recorde de Van Dijk (88 milhões).