O presidente do Chega, André Ventura, considerou nesta terça-feira que os hospitais enfrentam uma situação de “pré-caos” e defendeu que os utentes devem poder temporariamente recorrer a unidades de saúde privadas quando encontrarem serviços encerrados no Serviço Nacional de Saúde.

“Eu acho que estamos numa situação de pré-caos bastante significativa e temos de fazer alguma coisa para evitar que isto aconteça”, afirmou o líder do Chega.

André Ventura falava aos jornalistas no final de uma reunião com a administração do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures (distrito de Lisboa), unidade que este fim de semana teve as urgências de Ginecologia e Obstetrícia encerradas.

Segundo Ventura, “com toda a probabilidade os cidadãos vão ter que enfrentar novos encerramentos nos próximos dias” ao nível da maternidade e obstetrícia neste hospital.

De acordo com o líder do partido de extrema-direita, as causas apontadas pela administração prendem-se com constrangimentos provocados pela pandemia de Covid-19 e também com a falta de profissionais.

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Nós temos de parar com esta ideia de que o Covid é a responsabilidade de tudo em Portugal. Já ninguém acredita que o Covid é a causa do que está a acontecer”, criticou. E considerou que “nos últimos meses o Governo nada fez para acautelar que quando este hospital foi transformado num hospital público que mantinha os seus profissionais”.

Não ir buscar outros profissionais e não conseguir conservar os que já se tinha é uma péssima gestão. Isso significa que estamos agora a enfrentar um problema e não temos profissionais para o resolver”, declarou.

Em relação ao plano de contingência anunciado pela ministra da Saúde, André Ventura afirmou que “nada satisfaz em relação a esta matéria”.

A solução para estes casos, segundo o dirigente, passa pela “modelação de horários”, dar “informação prévia de que os serviços estão encerrados” e “lançar as bases de um recrutamento nacional e internacional de especialistas a condições dignas para o nosso Serviço Nacional de Saúde” e uma “remuneração aceitável”.

O Chega defende também que “temporariamente, enquanto se mantiver este momento de crise nos serviços se possa recorrer, ou através de um vale médico ou através de um cheque clínico” a hospitais privados, comparticipando o Estado o atendimento das “pessoas que chegam aos serviços e os veem encerrados por questões de constrangimento pessoal, de Covid ou outro motivo qualquer”.

“Não há mais tempo a perder”, salientou, pedindo ação imediata.

No sábado, o Grupo Parlamentar do Chega anunciou ter pedido ao presidente da Assembleia da República a marcação de um debate de urgência sobre a situação dos serviços de ginecologia e obstetrícia, que de acordo com André Ventura deverá realizar-se na sexta-feira.

O partido espera que a ministra da Saúde esteja presente no parlamento e “já leve algumas informações e alguns dados que ajudem a ver que vai haver uma solução para isto”.

Questionado se Marta Temido tem condições para continuar como ministra da Saúde, o presidente do Chega defendeu que primeiro é preciso “ouvir o que tem a dizer”, mas considerou que a atitude da governante não tem sido “a mais correta até agora porque se tem escondido”.

E criticou o primeiro-ministro por “não responder a nada” sobre a situação na saúde por estar no estrangeiro.

Nesta terça-feira, o Grupo Parlamentar do Chega entregou na Assembleia da República um projeto de lei para que, “sempre que se mostrem esgotados os tempos máximos de resposta garantidos” no Serviço Nacional de Saúde, os utentes sejam referenciados para serem atendidos nos setor privado ou social.

No final das declarações aos jornalistas, quando se dirigia para o carro, André Ventura foi apupado por algumas pessoas que se encontravam junto à entrada principal do Hospital Beatriz Ângelo, que gritaram “racista”.

A falta de médicos em vários hospitais do país tem levado nos últimos dias ao encerramento de urgências de obstetrícia, ou a pedidos aos centros de orientação de doentes urgentes (CODU) de reencaminhamento de utentes para outros hospitais.

Na segunda-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que vai ser posto em prática “um plano de contingência” entre junho e setembro para procurar resolver a falta de médicos nas urgências hospitalares do país.