O Hope Hostel, localizado em Kigali, capital de Ruanda, que abrigou durante décadas os estudantes sobreviventes do genocídio ocorrido durante a guerra civil no país em 1994, está a ser preparado para abrigar os migrantes deportados pelo Reino Unido.
A instalação de um novo sistema de segurança e a renovação dos quartos são algumas das medidas tomadas pelo governo ruandês para garantir a melhor receção possível a quem terá neste espaço o seu primeiro refúgio no país africano. Durante os próximos cinco anos, ou até conseguirem manter-se por conta própria, os migrantes têm direito a habitação e acesso a cuidados de saúde de forma gratuita, além de receberem apoio financeiro, revelou o governo ruandês à CNN.
Queremos que tenham acomodações seguras e dignas. Além disso, também vão receber documentação para que que possam investir em educação ou talvez iniciar um negócio” declarou o porta-voz do governo de Ruanda Yolande Makolo.
Durante a estadia no Hope Hostel, os migrantes terão de dividir o quarto com outro refugiado – há acesso a casas de banho comunitárias e o hostel tem lavandarias – e têm livre acesso a computadores ligados à Internet. No local, também vão ter um restaurante, zonas para fumadores e um salão de jogos.
Segundo o diretor do hostel, Ismael Bakina, disse à CNN também está a ser preparada uma loja de conveniências para que “os migrantes possam comprar qualquer coisa que precisem dentro das instalações, ao invés de saírem deste espaço”.
Para sustentar este programa, o Ruanda vai receber, nos próximos cinco anos, um apoio financeiro do Reino Unido de cerca de 120 milhões de libras (aproximadamente 138 milhões de euros). Os custos de alimentação, estadia, serviços de saúde, e de integração dos migrantes no novo país, com tradutores e processos legais, também serão de responsabilidade do governo britânico. O Reino Unido recusou-se, até ao momento, a divulgar o valor que será gasto no transporte das pessoas até ao país africano.
No entanto, a chegada destes migrantes não é bem vista por associações de direitos humanos como a HumanRightsWatch ou como o partido de oposição ao Presidente Paul Kagame, o Democratic Green Party of Rwanda.
“O Ruanda é o país com maior densidade populacional de África. Acha que será fácil para o país ajudar essas pessoas” questionou, também em declarações à CNN, Jean Claude Ntezimana, a secretária geral do partido.
Os democratas ruandeses consideram ainda que o país não têm condições financeiras de sustentar a receção destas pessoas e acusam o Reino Unido de desrespeitarem de forma “ilegal” e “inumana” obrigações internacionais ao obrigar os refugiados a saírem do país.
Em defesa do governo, Makolo afirmou que “não há nada no Estatuto dos Refugiados que impeça que os requerentes de asilo sejam transferidos para outro país seguro.”
Já a Human Rights Watch, através de uma carta pública, defendeu que Ruanda “não pode ser considerado um terceiro país seguro para quem procura asilo”. A ONG de direitos humanos acusa o governo ruandês de ser responsável pela morte de ao menos 12 refugiados e detenção de mais 60 em 2018. Além disso, ao longo das últimas décadas, tem documentado abusos como “repressão da liberdade de expressão, detenção arbitrária, maus-tratos e tortura pelas autoridades ruandesas”.