“Um passo gigante”, disse o presidente francês. Mas “temos de aumentar a perna”, refreou logo de seguida o primeiro-ministro português. No dia em que os líderes europeus aprovaram a atribuição do estatuto de candidato à Ucrânia e à Moldávia, António Costa surgiu na conferência de imprensa do Conselho Europeu mais focado na parte meio vazia do copo. Apontou sobretudo a “desilusão” dos países dos balcãs ocidentais que, na cimeira informal que tiveram com os líderes europeus, se queixaram da lentidão europeus sobre os seus próprios processos.

“Esta desilusão sinaliza que a atribuição deste estatuto de candidato à Ucrânia e à Moldávia constitui uma enorme responsabilidade para a União Europeia de não criar falsas expectativas, de não gerar frustrações que serão um amargo futuro na nossa relação”, avisou o primeiro-ministro português que tem estado com o pé atrás na aceleração do processo de adesão da Ucrânia.

A frustração dos balcãs ocidentais tem toda a razão. Quando um país que há 20 anos pediu e ainda não cumpre os critérios de adesão, a falha não é só desse país mas é também um fracasso das instituições europeias que não foram capazes de se organizar no apoio a esse país para preencher esses critérios”.

A sua reserva face a um passo acelerado neste sentido foi explicada (novamente) esta quarta-feira no debate no Parlamento e, esta quinta, depois de saudar a aprovação do estatuto de candidato à Ucrânia, Costa voltou à carga. “Insisti para a necessidade de termos uma estrutura institucional e orçamental à altura dessa responsabilidade e para que o passo não seja maior do que a perna. Temos de aumentar a perna para que o passo seja compatível.” Já sobre como materializar este objetivo, Costa nada avança e diz apenas que “há muito tempo”: “Não se trata de anunciar nada brevemente e nem entrar aqui numa corrida de curta distância. Este processo vai ser necessariamente longo e há tempo para a União Europeia se preparar.”

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Face à aprovação já certa do estatuto, o que Costa disse que era importante nesta reunião de líderes era “deixar claro que esta necessidade [de mudar a arquitetura] é absolutamente imprescindível, porque a atual estrutura não é compatível com esta vontade de alargamento da União Europeia”, argumentou.

Quanto à Ucrânia, o primeiro-ministro prometeu que Portugal “continuará a reforçar a cooperação bilateral, designadamente no apoio técnico à candidatura”, insistindo que o papel da União “não é só verificar que estes candidatos venham a preencher requisitos para entrar na União, mas também que ela se possa preparar para preencher requisitos para os receber”.

O que é de evitar, repetiu ainda, é que no futuro a União “venha a ter com a Ucrânia ou a Moldávia, uma reunião com a que teve hoje com os países dos balcãs ocidentais, impacientes com a longa espera que têm enfrentado. À saída da reunião da manhã, o primeiro-ministro da Macedónia do Norte, Dimitar Kovacevski, foi claro na manifestação de desapontamento: “que está a acontecer agora é um problema grave e um duro golpe na credibilidade da União Europeia”, referindo-se aos bloqueios à entrada do seu país no clube europeu.