A duplicação da utilização de águas residuais tratadas para rega até final do ano no Algarve implica investir e construir infraestruturas para transportá-la da origem ao destino e falta fazer esse trabalho, alertou um especialista da Universidade do Algarve.
O diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve (UAlg) advertiu que é necessário primeiro perceber onde estão as Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e quem são os destinatários dessa água não potável que pode ser utilizada na rega de culturas ou campos de golfe para depois definir o tipo de investimento necessário para transportar essa água até ao destino.
Carlos Guerrero comentou assim à agência Lusa o objetivo definido pela Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca de “alargar o uso de águas reutilizada para fins que não carecem de água potável, nomeadamente na rega de culturas permanentes e no suporte a ecossistemas”.
De acordo com a Comissão, “neste momento, no Algarve, já é usado um hectómetro cúbico de água reutilizada, prevendo-se a duplicação deste valor até ao final do ano”, mas o professor universitário considerou que há outras medidas que também podem ajudar a poupar água e aumentar as reservas deste bem para permitir o seu uso na agricultura e fazer o abastecimento humano.
“O problema de duplicar [as águas residuais tratadas para rega] passa por promover e instalar as infraestruturas necessárias para levar a água onde ela é necessária. Estou a falar de água resultante das Estações de Tratamento de Águas Residuais, que não se podem deslocar e não são móveis, estão bem fixas”, afirmou o professor universitário.
A mesma fonte disse que o Algarve “tem um conjunto de ETAR que custaram milhões” e têm “tecnologia de ponta do ponto de vista do tratamento de água”, mas sublinhou que, “depois, essa água tratada tem de ser levada para os sítios onde é necessária”, como os espaços verdes nas cidades, os campos de golfe, ou algumas culturas arbóreas”.
“Acho que falta criar essas infraestruturas e, antes disso, saber quem as vai pagar. É preciso ter de base os projetos de instalação e conhecer as necessidades, não só de tubagens, como de estações elevatórias e todas as infraestruturas necessárias para mover a água”, exemplificou.
Carlos Guerrero frisou “que falta explicar e ser definido quem paga estas estruturas”, saber se “é quem produz a água, quem a vai utilizar ou o cidadão comum”, e nenhuma destas questões está já definida, acrescentou.
Carlos Guerrero considerou que a redução das disponibilidades de água por efeitos da seca e das alterações climáticas é uma realidade que pode ser “mitigada” também com outras medidas “complementares”, como a instalação de tecnologias de apoio à gestão de rega na agricultura, a sensibilização das pessoas para a poupança ou o combate a perdas na rede de abastecimento, que davam para, assegurou, “regar os 40 de campos de golfe do Algarve”.
Outra das medidas preconizadas pela Comissão foi a reativação de captações subterrâneas, que a também docente da Universidade do Algarve Carla Antunes disse ser das “mais fáceis e rápidas” de implementar.
“Embora se considere que os recursos hídricos subterrâneos são uma reserva estratégica e como alternativa última, se calhar, no imediato, se continuarmos com esta seca, teremos mesmo de recorrer às águas subterrâneas”, afirmou Carla Ventura, frisando que “não há uma solução ótima” e será com “pequenas soluções” que se vai “conseguir ultrapassar esta seca”.