Ernest W. Baker, David Catalán, Estelita Mendonça, Huarte e Duarte partilham o facto de serem todas marcas portugueses e tiveram encontro marcado em Paris entre os dias 21 e 26 de junho, na Semana de Moda Masculina.

A cidade francesa não precisa de pretextos para exibir o seu estatuto de capital da moda, mas de vez em quando há umas semanas especiais que põem a indústria em alvoroço e este destino ganha um brilho especial como cenário e montra das propostas para as próximas estações. E assim foi por estes dias. Marcas, convidados e a elite da moda masculina rumaram à cidade luz para saber o que se vai usar na primavera/verão 2023.

Num apertado calendário com mais de oitenta desfiles e muitos eventos foi possível encontrar propostas destas marcas nacionais que mostraram as suas coleções e contribuíram para o rico leque de propostas e também de histórias que as suas inspirações contam.

A dupla Ernest W. Baker integrou o calendário oficial da Semana de Moda masculina de Paris. A coleção de verão da marca foi apresentada através de um vídeo no passado dia 25 de manhã e seguiu-se uma apresentação num showroom, também na cidade, onde os convidados puderam ver as peças ao vivo.

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Para o verão do próximo ano a dupla de designers regressou à primavera de 2020, “algo familiar e confortável, o sentimento de inocência, de ingenuidade — uma impressão de abrigo”, dizem em comunicado do Portugal Fashion. Também se questionou sobre “o trabalho da moda” numa altura de pandemia e crises e criou uma coleção com peças de alfaiataria em que vermelho, amarelo e lilás sobressaem entre preto e castanho. Há ainda peças como blusões, casacos em malha, macacões e texturas como ganga, pele e um padrão xadrez em tamanho grande enriquece a coleção. “No final do dia, estamos apenas a fazer moda: deve ser agradável, refrescante e divertido. Algo a ser usado. Algo a ser partilhado”, afirmam os designers. O filme que apresentaram nesta semana de moda em Paris é um trabalho do realizador e fotógrafo ucraniano Vladimir Kaminetsky e no qual se podem ver os modelos a desfilar a coleção num ambiente escuro e com uma janela onde cai chuva como pano de fundo.

A marca nasceu em 2017 e foi fundada pela dupla Reid Baker e Inês Amorim. Ele é natural de Detroit e cresceu em Park City, no estado norte-americano do Utah, e ela é de Viana do Castelo. Foi também dos Estados Unidos que veio a inspiração da marca, Ernest W. Baker, que foi o avô de Reid e também um dos primeiros publicitários de Detroit, o resultado é uma aposta na reinterpretação de roupas clássicas com uma certa dose de nostalgia. Licenciaram-se na Domus Academy de Milão em 2014, trabalharam para designers como por exemplo Haider Ackerman e, com apenas duas coleções no currículo, em 2018 a marca entrou na corrida ao LVMH Prize, um prémio que o grupo gigante do luxo entrega a jovens designers de moda.

Outras marcas nacionais marcaram presença em Paris, mas através do Tranoï, um showroom parceiro da semana de moda e do Portugal Fashion. A mostra teve lugar no Palais de Tokyo entre 23 e 26 de junho e contou com o trabalho de 45 designers selecionados pela Tranoï e pela Fédération de la Haute Couture et de la Mode (FHCM), a instituição que organiza a Semana de Moda de Paris. Entre estes estiveram nomes portugueses como David Catalán, Estelita Mendonça e Huarte, designers que habitualmente apresentam as suas coleções no Portugal Fashion, e ainda Duarte, que costuma desfilar na ModaLisboa.

A marca de Ana Duarte apresentou na capital francesa a coleção Street Swell inspirada nos “surfistas do asfalto que navegam por aí e não têm medo de ser eles próprios”. Há uma forte aposta nas peças unissexo, o habitual mood de sportswear, uma inspiração no universo do skaters e dois padrões camuflados e refrescantes.

David Catalán levou para Paris a coleção Open Club e disse ao site da Semana da Moda de Paris que a sua inspiração foi a dança que se vivia nos bairros norte-amaericanos de Harlem e Brooklyn, em Nova Iorque, nos anos da década de 1960 e início de 70. “Depois da luta pelos direitos civis, estas comunidades reuniram-se em autênticos centro culturais, como a Harlem Renaissance, onde os músicos, designers, fotógrafos e uma série de artistas popularizaram a cultura afro-americana.”

Huarte apresentou a coleção Destination Unknown que “celebra a liberdade, o sentimento de chegar a um aeroporto e apanhar o primeiro voo sem um destino definido”, segundo a mesma fonte, onde também se pode ler que as propostas se baseiam no guarda-roupa masculino clássico, com uma abordagem divertida e utilitária e ainda com detalhes refletem a identidade da marca. O designer Estelita Mendonça explicou que a coleção começou com uma reflexão sobre o movimento e a transformação, seja de de pessoas, nações ou conceitos. “Tentámos interpretar esta ideia através do uso de camadas de diferentes materiais e cores, e da exposição de costuras e acabamentos quase como se algumas peças ainda estivessem em transformação.”