Devido ao agravamento do estado de saúde de José Eduardo dos Santos, João Lourenço decidiu enviar para Barcelona o ministro das Relações Exteriores de Angola. O quadro clínico do antigo Presidente angolano piorou seriamente nas últimas 24 horas, confirmou ao Observador uma fonte próxima do antigo núcleo duro do ex-Presidente de Angola.

Téte António partiu às primeiras horas desta quarta-feira para a capital catalã, informou o Observador fonte da delegação oficial do Presidente angolano que está em Lisboa para a conferência dos Oceanos. Uma publicação na página do Facebook da presidência angolana explica que o ministro irá acompanhar, no local, o evoluir da situação.

Já na manhã desta quarta-feira João Lourenço admitiu, à saída de uma visita à sede da CPLP, em Lisboa, que “a situação [de José Eduardo dos Santos] é “preocupante, mas mais do que isso não podia dizer. “Só a equipa médica se pode pronunciar, nós não somos médicos”. O Presidente de Angola reforçou ainda que, “como é óbvio, tem acompanhado muito de perto” e com “bastante preocupação” o evoluir do estado de saúde do seu antecessor e confirmou o contacto com a família.

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Está agendada para esta quarta-feira ao fim da manhã uma reunião da equipa médica com a família — a mulher Ana Paula e duas das filhas, Isabel e Tchizé — para decidirem que passos dar a seguir. Tchizé já fez saber que não permitirá desligar as máquinas que estarão a ajudar o pai numa gravação em que acusou João Lourenço de aproveitamento político: “Para aparecer em grande e meterem bandeiras do MPLA em cima do caixão” de José Eduardo dos Santos. E voltou a insistir no mesmo esta quarta-feira de manhã, numa publicação no Instagram, em que escreveu: “Não desliguem as máquinas! #souzedu” (Zedu é a abreviatura com que José Eduardo dos Santos é tratado por muitos angolanos).

Os outros filhos de JES irão em sentido semelhante ao da irmã: não terminar com qualquer suporte artificial de vida enquanto os outros órgãos do pai estiverem a funcionar, o que, disse Tchizé, acontece.

Filha de José Eduardo dos Santos diz que não vai permitir que desliguem as máquinas ao pai e critica João Lourenço

Internado nos cuidados intensivos no dia 23 de junho na clínica Teknon, em Barcelona, o antigo Presidente de Angola tinha sido induzido em coma e na manhã desta terça-feira os médicos tentaram despertá-lo, sem sucesso, avançou o Jornal de Negócios ao final da tarde de terça-feira. Assim sendo, José Eduardo dos Santos, continuou em coma e, segundo o mesmo jornal, terá tido três paragens cardíacas. Porém, o seu coração estará a funcionar sem a ajuda de qualquer máquina.

De acordo com o Expresso, uma tomografia realizada na segunda-feira revelou graves lesões isquémicas no cérebro, que serão irreversíveis, confirmou ao Observador fonte ligada ao círculo restrito de JES. O relatório clínico das 18h00 não foi mais animador, acrescenta o semanário.

Questionado pelos jornalistas sobre o antigo estadista angolano, no final da reunião do Conselho de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa disse na terça-feira à noite não ter informações e não querer comentar. No entanto, acabou por dizer: “Até por respeito pela situação em que se encontra, todos os comentários que possam ser feitos são os que se fazem nessas circunstâncias: até ao fim acreditar que é possível desejar melhoras e desejar o melhor”.

José Eduardo dos Santos internado em unidade de cuidados intensivos em Barcelona

José Eduardo dos Santos terá sido internado pouco depois de chegar a Barcelona vindo de Angola, em março. Fonte ligada ao ex-Presidente recorda um homem muito débil a embarcar no avião.

Há várias versões sobre o que o levou a ser hospitalizado. Algumas fontes angolanas referiram ao Observador que se tratou de um quadro de Covid-19, enquanto uma outra fonte refere uma queda em casa e a ocorrência de três Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC). O Jornal de Negócios diz que o anterior Chefe de Estado angolano caiu em casa e esteve quinze minutos sem que alguém o encontrasse, pelo que nesse período terá tido pouco oxigénio.

Tchizé dos Santos, numa nota enviada à SicNotícias disse que o pai não tinha tido Covid-19 mas sim uma infeção pulmonar não tratada e que foi a falta de ar que o terá feito cair. Lamentou ter sido impedida de colocar um enfermeiro 24 sobre 24 horas ao lado do pai ou não ter conseguido internar o pai em abril devido ao baixo peso. Se “tivesse um enfermeiro ao lado não tinham demorado 15 minutos a telefonar para a linha de emergência a pedir socorro” depois da queda.

O Observador sabe que José Eduardo dos Santos está internado numa ala particularmente privada da clínica oncológica sob medidas de alta segurança e que os filhos foram chamados a ver o pai antes de este perder a consciência.

Isabel dos Santos e Coreón Dú (nome artístico de José Paulino dos Santos) foram vistos a entrar na clínica na sexta-feira passada. Fontes angolanas garantem que Joseane Lemos também o visitou. Menos certa terá sido a presença de Tchizé dos Santos, que se terá desentendido com a mulher do pai, Ana Paula dos Santos (Tchizé, tal como Coréon Dú, é filha de “Milucha”, Maria Luísa Abrantes).

Mas na gravação que ontem circulou nas redes sociais, a antiga deputada do MPLA dizia ter estado com o pai.

 Tchizé tem sido a voz polémica deste processo. Ainda no sábado negou que o pai tivesse tido qualquer AVC, ataque ao coração e cancro da próstata e criticou João Lourenço, por ter ligado a Ana Paula dos Santos. Desde que José Eduardo dos Santos deixou a presidência de Angola, em 2017, que a ex-primeira dama se tinha afastado do marido, mas viajou para Barcelona para cuidar dele a pedido dos filhos.

Segundo a VOA (Voice of America) Tchizé usou uma série de áudios divulgados numa rede social, para se insurgir contra o telefonema solidário do Presidente de Angola a Ana Paula dos Santos.

“Porque é que JLO [João Lourenço] não ligou para Isabel dos Santos que está no hospital ao lado do paciente ao invés da Ana Paula dos Santos que até abandonou o marido?”

Já José Filomeno dos Santos, o filho homem mais velho de José Eduardo dos Santos, continua em Angola. A aguardar em liberdade decisão do recurso que apresentou da sua condenação a cinco anos de prisão em 2020, por burla e defraudação, peculato e tráfico de influências, Zénu, como também é conhecido, queixou-se na terça-feira à Sic Notícias por não poder viajar e ver o pai. “Os meus passaportes estão retidos pelo Tribunal, ilegalmente, e estou impedido de sair do país”.

(texto atualizado às 10h55 e às 6h30 do dia 29 de junho com as declarações de João Lourenço e de Tchizé)