A filha do antigo Presidente angolano, Tchizé dos Santos, afirmou, esta terça-feira, que “não vai permitir que desliguem as máquinas” a José Eduardo dos Santos e acusou o atual chefe de Estado, João Lourenço, de estar a fazer uma gestão política do caso. “Se o senhor João Lourenço quer preparar um funeral, prepare o seu próprio e mate-se”, diz a filha do antigo líder do MPLA.

Num áudio posto a circular nas redes sociais, sob a forma de recado “para quem anda a fazer os preparativos para o funeral do presidente emérito do MPLA”, Tchizé dos Santos afirma que José Eduardo dos Santos “está vivo”, com “todos os órgãos a funcionar” e o seu estado de saúde é estável.

Acusou ainda o médico João Afonso, que acompanha o ex-Presidente há vários anos e com quem entrou em rota de colisão, de “andar a plantar” informações na comunicação social para preparar a opinião pública para a morte do antigo Presidente, que governou Angola durante 38 anos, enquanto “tentam convencer a família” que deve autorizar os médicos a desligar as máquinas.

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“Eu, como filha, nunca irei permitir que desliguem as máquinas de um pai vivo, que tem o coração a bater normalmente, um coração que está bom, não teve ataque cardíaco, não teve AVC”, afirma a empresária e antiga deputada do MPLA, partido no poder em Angola desde a independência, em 1975. Tchizé dos Santos reforça que visitou o pai e que este, apesar de internado há quatro dias, “está vivo”.

Dirigindo-se a João Lourenço, que orientou o ministro angolano das Relações Exteriores para viajar até Barcelona para acompanhar o estado de saúde do ex-chefe de Estado, aconselhou o Presidente angolano a preparar o seu próprio funeral e avisou que “ninguém vai permitir que se desliguem as máquinas”.

Acusou ainda João Lourenço de querer retirar dividendos políticos, “para aparecer em grande e meterem bandeiras do MPLA em cima do caixão” de José Eduardo dos Santos.

Alguém “que está extremamente dececionado consigo e com o MPLA, está extremamente triste e não ia fazer campanha para vocês”, prosseguiu Tchizé dos Santos, aludindo às eleições gerais marcadas para 24 de agosto. “Provavelmente iria mesmo querer ver alternância política”, rematou.

O conflito entre João Lourenço e alguns dos filhos do seu antecessor teve início quase após a tomada de posse, em setembro de 2017, agravando-se com os processos em tribunal que contra a empresária Isabel do Santos, ainda em curso, e Filomeno dos Santos, já julgado e condenado mas aguardando recurso depois de ser condenado a uma pena de prisão no âmbito do caso que ficou conhecido como “500 milhões”.

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Por seu lado, Tchizé dos Santos saiu do país em 2019 por, alegadamente, correr risco de vida, foi suspensa do comité central e acabou por perder também o seu mandato de deputada na bancada do partido do poder, MPLA.

As duas filhas de José Eduardo dos Santos têm manifestado publicamente as suas divergências com o regime, afirmando ser vítimas de perseguição e acusando o governo angolano de usar a justiça de forma seletiva para atingir familiares e outras pessoas próximas do seu antecessor.

O ministro das Relações Exteriores de Angola viaja quarta-feira de manhã para Barcelona para acompanhar o estado de saúde do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, cuja situação de saúde se deteriorou nas últimas horas.