O autarca de Oeiras Isaltino Morais descartou esta segunda-feira as críticas do Bloco de Esquerda a um projeto habitacional numa reserva ecológica em Caxias Norte, qualificando Catarina Martins de “líder da extrema-esquerda radical”, que desconhece a realidade do município.

Num comunicado com o título “Os radicais estão a destruir Portugal”, Isaltino Morais reagiu a uma visita feita esta segunda-feira de manhã a Caxias Norte pela coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, e pela vereadora independente Carla Castelo, no decorrer da qual acusaram a autarquia de ter aprovado um projeto de construção de 16 edifícios numa área de 3,4 hectares classificada como Reserva Ecológica Nacional (REN).

Segundo Isaltino Morais, o projeto em questão está “em fase de aprovação” e é promovido por “um consórcio entre a Teixeira Duarte e a China Construction Company, em terrenos numa antiga pedreira, em Caxias, a Pedreira das Perdigueiras”, sem nunca se referir às críticas que se prendem com a vertente ambiental do empreendimento.

O autarca de Oeiras diz que o investimento estimado é de “mais de 300 milhões de euros” e deverá “criar mais de 2.000 postos de trabalho”.

“Caso o empreendimento seja bem-sucedido, é provável que haja lugar à criação de riqueza, de postos de trabalho e de lucro, tudo conceitos espúrios para os radicais que, para os comuns mortais, são positivos”, lê-se no comunicado.

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Nesta nota, o autarca frisa que “sem criação de riqueza, os salários dos portugueses não crescem”, “sem trabalho, o país não evolui” e “sem perspetiva de lucro, não há investimento privado”, voltando a apontar críticas ao Bloco de Esquerda para afirmar que o “trabalho não é coisa muito habitual para os radicais”.

“Percebemos que a líder daquele partido de extrema-esquerda radical não aprecie a qualidade de vida e os bons indicadores de Oeiras, há muito que defendemos uma sociedade livre, inclusiva e de bem-estar, provavelmente muito distante da Albânia sonhada pelos radicais do Bloco de Esquerda”, escreve o autarca.

Dirigindo-se diretamente a Catarina Martins, Isaltino Morais afirma que, “muito provavelmente”, a coordenadora do BE “não conhecerá a realidade de Oeiras”, onde “não há terreno fértil para vender as suas propostas de banha da cobra, que vêm dividindo os portugueses e atrasando Portugal”.

“Oeiras, nos seus curtos 46 quilómetros quadrados, e com apenas 1,7% da população do país, representa 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem os melhores indicadores de desenvolvimento de Portugal. Os radicais da extrema-esquerda aqui nunca passarão!”, conclui o comunicado.

Numa visita esta segunda-feira de manhã a Paço de Arcos, em Oeiras, feita no âmbito do Roteiro para a Justiça Climática organizado pelo Bloco de Esquerda, Catarina Martins considerou que a situação que se testemunha nos terrenos de Caxias Norte é “um bom exemplo do que não deve acontecer”.

Para a coordenadora bloquista, a construção em Caxias Norte, numa área REN, “vai criar mais problemas à população de Oeiras, com mais terrenos impermeabilizados, com mais problemas de secas e de inundações”, mas vai “dar milhões” à empresa de construção Teixeira Duarte a “quem tem aqui terrenos e vai construir”.

“Já percebemos que [o presidente da Câmara Municipal de Oeiras] Isaltino Morais gosta mesmo de negócios de euromilhões, com construtoras e donas de terreno privados e alterando o uso dos terrenos de forma administrativa. E o Governo, também é isso que vai autorizar? O Ministério do Ambiente vai ficar parado enquanto vê terrenos de Reserva Ecológica Nacional (REN) a servirem para negócios imobiliários? E é essa pergunta que se coloca”, inquiriu.

A seu lado, a vereadora Carla Castelo acusou o atual executivo camarário de “total ausência de preocupação com as alterações climáticas” e de “discurso jocoso, em tom jocoso, relativamente a quem se preocupa com este problema”.

“Estamos a fazer aqui aquilo que é um modelo muito antigo — dos anos 80, 90 — muito baseado na especulação imobiliária e no enriquecimento de quem tem terrenos em zona REN ou Reserva Agrícola Nacional (RAN) e, de um momento para o outro, passa a ter terreno urbano que vale muito mais”, realçou, em sintonia com Catarina Martins.