O presidente do Senado brasileiro defendeu esta terça-feira que as comissões parlamentares de inquérito (CPI) sobre alegadas condutas ilegais do Governo e do Presidente brasileiro sejam iniciadas após as eleições de outubro.

“O Senado, integralmente, reconhece a importância das CPI para investigar ilícitos no MEC [Ministério da Educação], desmatamento ilegal na Amazónia, crime organizado e narcotráfico. Os requerimentos serão lidos em plenário por dever constitucional e questões procedimentais serão decididas”, escreveu Rodrigo Pacheco na sua conta oficial do Twitter.

Ainda assim, acrescentou, que “a ampla maioria dos líderes entende que a instalação de todas elas deve acontecer após o período eleitoral, permitindo-se a participação de todos os senadores e evitando-se a contaminação das investigações pelo processo eleitoral”.

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Todas as CPI referidas por Rodrigo Pacheco já têm as assinaturas necessárias para iniciarem as investigações.

A mais recente, e a que mais poderá comprometer o Governo de Jair Bolsonaro, é referente a um escândalo no Ministério da Educação.

Na semana passada, o líder da oposição no Senado brasileiro submeteu um pedido formal de abertura de uma comissão parlamentar de inquérito para se investigar os casos de alegada corrupção no Ministério da Educação e o envolvimento do Presidente brasileiro.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas, peculato, corrupção passiva, tráfico de influência, corrupção ativa, usurpação de função pública, são alguns dos crimes que os 30 senadores subscritores do requerimento acreditam que foram cometidos neste “escândalo”, que levou à demissão do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, em março, e que há duas semanas chegou a ser detido.

“As denúncias apontam que o então ministro Milton Ribeiro priorizava amigos de dois pastores a pedido do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, na destinação de verbas públicas afetas ao Ministério da Educação”, lê-se na nota justificativa do documento, a que a Lusa teve acesso.

Em troca da prioridade e da libertação “das verbas públicas para construção de escolas e creches, os pastores cobravam propina [suborno] dos prefeitos, solicitando pagamentos em dinheiro, em bíblias e até em ouro”, refere-se.

Há duas semanas foram divulgados áudios onde o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro diz que o Presidente brasileiro o avisou que poderia ser alvo de buscas e de detenção, poucos dias antes de tal acontecer.

“Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa”, disse Milton Ribeiro, referindo-se ao Presidente brasileiro, numa conversa telefónica com a sua filha, segundo a transcrição de um áudio gravado pela Polícia Judiciária, citado na comunicação social brasileira.

Milton Ribeiro, pastor de uma igreja presbiteriana, foi ministro entre julho de 2020 e março 2022, quando apresentou a sua renúncia após suspeitas de que fazia parte de uma suposta rede de corrupção orquestrada a partir do seu gabinete.

De acordo com a denúncia, os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura, com o apoio de Ribeiro, extorquiram prefeitos de várias cidades e exigiram suborno para atribuir recursos da pasta da Educação para aqueles municípios.

Ribeiro e os pastores permaneceram detidos durante 24 horas, mas foram entretanto libertados.

Em março, quando rebentou o escândalo, Bolsonaro defendeu o ministro e chegou a dizer que colocava “a cara no fogo” por Ribeiro.

Agora, o Presidente brasileiro defende que a prisão do ex-ministro foi a prova de que o Governo não tolera irregularidades.

“Que ele responda pelos seus atos. Peço a Deus que ele não tenha problemas, mas se houver, a Polícia Federal está agindo”, disse Bolsonaro.