Já estão a caminho da Ucrânia os blindados portugueses destinados a ajudar as forças armadas ucranianas na luta contra a invasão russa, confirmou ao Observador o Ministério da Defesa Nacional. Os equipamentos em questão são veículos blindados de transporte de pessoal do modelo M113, de fabrico norte-americano, uma das viaturas mais comuns nas forças armadas de todo o mundo, e seguem para a Ucrânia numa operação logística especial coordenada com os países da NATO.
Este fim de semana, o jornal Nascer do Sol tinha noticiado que um total de 14 veículos blindados saíram na sexta-feira do Campo Militar de Santa Margarida (em Constância) rumo à Ucrânia, em camiões polacos, devendo cruzar a fronteira ucraniana após uma viagem de sete dias. Segundo o mesmo jornal, que citava fontes militares não identificadas, a operação logística envolve sete camiões (uma vez que cada um carrega dois blindados) e está a ser financiada essencialmente pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.
Questionado pelo Observador sobre esta questão, o Estado-Maior General das Forças Armadas remeteu quaisquer esclarecimentos para o Ministério da Defesa Nacional, que por sua vez confirmou que “Portugal já enviou para a Ucrânia, a pedido das autoridades ucranianas e em coordenação com os mais de 40 países aliados e doadores, 314 toneladas de material, que incluem equipamentos de proteção pessoal, equipamentos e dispositivos médicos, armamento ligeiro e pesado, munições e viaturas blindadas, incluindo os referidos M113“.
Contudo, em relação ao facto de a operação logística ser financiada por Washington ou Londres, o Governo português clarifica que “o transporte de todo o material que é enviado para a Ucrânia é realizado no âmbito da operação logística dos aliados, nos seus termos e prazos, numa operação que é complexa e de grandes dimensões, e que não é financiada por um ou outro país”.
Quando o Observador reiterou o pedido de detalhes sobre a operação de envio de material militar para a Ucrânia, o Ministério da Defesa Nacional disse que “não é possível dar mais detalhes por questões de segurança operacional“.
O jornal Nascer do Sol noticiou também que Portugal se tinha disponibilizado para enviar um lote de obuses e metralhadoras pesadas Browning, mas que a Ucrânia havia rejeitado a oferta, considerando que se tratava de material obsoleto. Questionado sobre esta situação pelo Observador, o Ministério da Defesa Nacional disse que “Portugal disponibilizou um conjunto de armas cujo modelo foi especificamente solicitado pelas autoridades ucranianas, mas o pedido foi posteriormente retirado por aquelas, por terem número suficiente daquele tipo de material”.
Quanto aos blindados M113, de acordo com a página do Exército, trata-se de viaturas fabricadas pela empresa norte-americana FMC Corporation. Pesam mais de 11 toneladas e podem levar até 13 militares no interior (dois tripulantes e 11 passageiros). A sua velocidade máxima é de 64 quilómetros por hora. O modelo é amplamente usado por forças armadas em todo o mundo e já foi utilizado em inúmeros conflitos desde a década de 1960 até aos dias de hoje, incluindo a guerra do Vietname, a guerra do Kosovo ou a invasão norte-americana do Iraque.
O envio destes blindados para a Ucrânia começou a ser discutido depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter discursado na Assembleia da República, a 21 de abril. Na altura, Zelensky deixou um pedido explícito aos decisores políticos portugueses: “Precisamos de armas para nos protegermos da brutal invasão russa, que trouxe ao nosso povo tanto mal quanto a invasão nazi trouxe há 80 anos.”
Portugal já tinha enviado um conjunto de materiais militares, incluindo armamento letal, para a Ucrânia. Em maio, na sequência do discurso de Zelensky, começou a circular a informação de que Portugal iria enviar mais de uma dezena de blindados — algo que António Costa não confirmou por motivos de segurança, mas que mereceu um comentário de Marcelo Rebelo de Sousa: “A confirmar-se essa notícia, é um caso de apoio empenhado de Portugal em termos de meios militares à Ucrânia.”
A recente guerra na Ucrânia começou no dia 24 de fevereiro deste ano, quando a Rússia de Vladimir Putin invadiu o território ucraniano, escalando um conflito armado localizado na região de Donbass que já dura desde 2014. A guerra já causou a morte a milhares de civis.