A taxa de inflação em Portugal – e, de resto, em toda a Europa – vai ser mais forte e, também, mais persistente do que se previa. A Comissão Europeia passou nesta quinta-feira a prever que preços no consumidor vão subir 6,8% em 2022 e, também, 3,6% no próximo ano. Quanto ao crescimento económico, foi revisto em alta para 6,5% em 2022 (o mais expressivo de toda a Europa) mas baixou para 1,9% em 2023.
O relatório que inclui as as chamadas Previsões Económicas de Verão, publicado pela Comissão Europeia, reconhece que as pressões inflacionistas vão ser mais intensas e duradouras do que se apontava no último relatório trimestral, divulgado em maio. Nessa altura, Bruxelas apontou para uma subida dos preços na ordem dos 4,4% em 2022 mas que seria corrigida já em 2023 para 1,9%.
Ou seja, não só a projeção para 2022 subiu de forma significativa como também a estimativa de subida percentual dos preços saltou para praticamente o dobro, no próximo ano.
Ainda assim, apesar da revisão em alta, os números de Portugal são ligeiramente inferiores aos da média da zona euro. A inflação média na zona euro será de 7,6% em 2022 e 4,0% em 2023, ou seja, quase quatro vezes mais o objetivo do BCE em 2022 e o dobro desse mesmo objetivo no próximo ano.
“A agressão russa contra a Ucrânia continua a afetar negativamente a economia europeia, colocando-a num caminho de crescimento mais baixo e inflação mais elevada”, comenta a Comissão Europeia em comunicado divulgado no início da conferência de imprensa do comissário Paolo Gentiloni. “Muitos daqueles que eram vistos como riscos negativos, nas Previsões de Primavera, acabaram por se materializar”, reconhece Bruxelas.
Em 2022, Portugal terá, como já se previa, o crescimento económico mais expressivo da União Europeia – algo que em maio Gentiloni justificou como “uma trajetória diferente de recuperação em Portugal”. Mas as novas previsões apontam para um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) ainda mais rápido em 2022: passa de 5,8% para 6,5%.
Em 2023, o crescimento percentual será um pouco mais baixo do que se previa – 1,9%, contra os anteriores 2,7% – mas há que sublinhar que, com uma previsão melhorada para 2022 o ponto de partida para 2023 torna-se mais elevado.
Portugal. Problemas nos aeroportos, “para já, não suscitam preocupação”
Paolo Gentiloni voltou a falar sobre a expansão económica em Portugal, questionado por uma das jornalistas na conferência de imprensa, assinalando que o “crescimento acima do esperado” no primeiro trimestre vai ter um impacto “substancial” para o cálculo da totalidade do ano – o PIB cresceu 2,6% no primeiro trimestre, em cadeia, e 11,9% em termos homólogos. Foram taxas de crescimento “robustas”, as que Portugal teve no início do ano, reconheceu o comissário.
Além disto, acrescentou, tem uma “importância extraordinária” para vários países, incluindo Portugal, a “reabertura do turismo internacional”. E até que ponto as dificuldades nos aeroportos podem penalizar o turismo? “Para já, os dados de que dispomos sobre as dormidas e voos para Portugal não nos suscitam preocupação“, respondeu Paolo Gentiloni.
Numa altura em que vários economistas apontam para o risco de recessão na zona euro, a Comissão acredita que “a economia europeia deverá continuar a expandir, mas a um ritmo significativamente inferior em comparação com aquilo que se antecipava nas Previsões de Primavera”. A economia da zona euro deverá crescer 2,6% em 2022 e 1,4% em 2023, ao passo que a União Europeia irá crescer uma décima a mais do que a zona euro, em cada um dos anos.
Os riscos em torno das previsões de atividade económica e inflação dependem, fortemente, da evolução da guerra e, em particular, as implicações para o fornecimento de gás à Europa”, escreve Bruxelas.
A maior economia europeia, a Alemanha, deverá crescer 1,4% em 2022 e 1,3% em 2023, uma forte revisão em baixa sobretudo relativamente a 2023 (era 2,4% depois de 1,6% em 2022). Também Espanha irá crescer menos do que o previsto, no próximo ano: 2,1% e não 3,4% como se previa (o crescimento de 2022 ficou inalterado em 4%).
Paolo Gentiloni, comissário europeu, reconhece que “o crescimento económico vai abrandar, marcadamente, na segunda metade deste ano” mas antecipa que as economias vão “voltar a ganhar tração em 2023”. Neste contexto, “será importante encontrar o equilíbrio certo entre garantir uma política orçamental mais prudente e, ao mesmo tempo, proteger os cidadãos mais vulneráveis“, defendeu o comissário, sublinhando que também deve ser uma prioridade reduzir a “dependência dos combustíveis fósseis russos”.